Descarbonização

Primeiro gás, depois hidrogênio: o plano norueguês para descarbonizar embarcações

Esforços contribuem para diminuir a pegada de carbono da produção de petróleo e gás, o que também interessa ao Brasil

Primeiro gás, depois hidrogênio: o plano da Noruega para descarbonização naval, segundo Ada Jakobsen [na imagem], CEO da Maritime Cleantech, hub para reduzir emissões marítimas (Foto Divulgação)
Ada Jakobsen, CEO da Maritime Cleantech, hub que reúne mais de 150 empresas para reduzir emissões marítimas | Foto Divulgação

RIO – Maior produtor de combustível fóssil da Europa ocidental, a Noruega acumula duas décadas de busca por soluções para reduzir as emissões marítimas. No começo do século, já havia iniciativas para a adoção de barcos de apoio (PSVs) movidos a gás natural liquefeito (GNL). Apesar de ainda ser fóssil, o gás tem um nível de emissões menor do que os derivados do petróleo

Foram esses esforços que garantiram com que a produção norueguesa de petróleo tenha, hoje, um dos menores níveis de emissão do mundo, de cerca de 8 quilos de carbono por barril de óleo equivalente produzido. 

Especialistas têm apontado que os países capazes de produzir petróleo com menos emissões vão ter vantagens no mercado global conforme o mundo avança nas metas para combater o aquecimento global.

A Noruega produz uma média de cerca de 1,9 milhão de barris/dia de petróleo e 10 milhões de m³/dia de gás natural. 

Para ampliar a descarbonização, as próximas apostas do país nórdico incluem motores movidos a amônia e as células a combustível, que devem ter testes a partir de 2026. 

Há ainda projetos para avaliar o uso da energia elétrica produzida nas eólicas offshore para recarregar embarcações com motores elétricos. 

Segundo a CEO do Maritime CleanTech, Ada Jakobsen, a regulação das emissões é importante para garantir condições equitativas na adoção de novas tecnologias. O raciocínio é similar ao das empresas que atuam no Brasil e que defendem a regulação do mercado de carbono.

Ela conversou a agência eixos durante passagem pela ROG.e, no Rio de Janeiro, em uma agenda que envolveu opções de colaboração também com parceiros brasileiros.

A executiva lembra que muitas das iniciativas em consideração para reduzir as emissões da frota marítima são caras, portanto, precisam de incentivos governamentais.

Ela ressalta que cada país precisa levar em consideração a realidade local ao debater as soluções para a descarbonização da frota naval. 

“Como organização, nós debatemos hoje amônia e eletrificação, por exemplo, mas no início éramos tecnologicamente neutros. No final das contas, é a criação de valor e as necessidades de cada operador que vão ajudar a definir as tecnologias, pelo menos nas fases iniciais”, diz. 

O Cleantech Maritime é uma iniciativa público-privada que reúne mais de 150 empresas em um hub para a transição energética na navegação

A rede colaborou, por exemplo, para viabilizar o primeiro transporte de carga movido a hidrogênio do mundo. Também ajudou no desenvolvimento do primeiro navio de abastecimento de amônia, que obteve aprovação preliminar nos Estados Unidos em setembro.

O governo da Noruega aposta em três premissas para garantir o avanço de tecnologias de descarbonização da navegação: a regulação das emissões, os incentivos à inovação e à colaboração público-privada. 

Garantir um menor nível de emissão nos navios que operam na costa norueguesa é crucial para reduzir também as emissões da indústria de petróleo e gás offshore. Grande parte dos esforços para a indústria naval passam pelos barcos de apoio à exploração e produção no país. 

É uma questão que também interessa ao Brasil, que aposta justamente na redução das emissões da indústria de óleo e gás para competir pela produção da “última gota de petróleo” nos próximos anos. 

Jakobsen lembra que a colaboração para descarbonizar o setor precisa passar não apenas pelo lado operacional dos navios, mas também pelas atividades de apoio terrestre à frota, assim como pelos fornecedores de combustíveis.