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Novo decreto do gás ressuscita debate sobre tarifa postal

Governo fala em mitigar desigualdades entre regiões com proposta de retorno da tarifa postal, que vinha sendo substituída por modelo híbrido

Petrobras afirma que 20% do gás natural em novos contratos com as distribuidoras segue novo indexador. Na imagem: Dutos da Unidade de processamento de gás natural (UPGN) de Guamaré/RN (Foto: Giovanni Sérgio/Agência Petrobras)
Dutos da Unidade de processamento de gás natural (UPGN) de Guamaré/RN (Foto: Giovanni Sérgio/Agência Petrobras)

PIPELINE. Novo decreto da Lei do Gás traz conceito da tarifa postal uniforme de volta à pauta. Governo fala em mitigar desigualdades de tarifas entre regiões, mas agentes veem com ceticismo mudança de rota a curto prazo.

Senado aprova Combustível do Futuro. Marcada a audiência de conciliação no STF sobre Subida da Serra. Número de indústrias no mercado livre de gás mais que dobra. Alvopetro avalia expansão de UPGN e mais. Confira:

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A nova regulamentação da Lei do Gás ressuscitou a figura da tarifa postal uniforme – que ao longo dos últimos anos deu lugar ao modelo de entrada e saída nos contratos de serviço de transporte no mercado brasileiro.

O decreto 12.153/2024 reintroduziu o conceito da tarifa postal no capítulo que reforça a competência da ANP em adotar medidas transitórias.

Diz que, durante o período em que não forem concluídas as ações regulatórias referentes às tarifas de transporte, a ANP adotará preferencialmente a modalidade postal para as tarifas de transporte.

E define, então, a tarifa postal como aquela tarifa uniforme cobrada de todos os carregadores do sistema, independentemente da distância, de sua localização na malha de gasodutos e do seu operador.

Segue mantida a possibilidade de contratar a injeção e a retirada de gás no sistema de forma independente, como preconiza o modelo de entrada e saída.

agência eixos apurou que o novo dispositivo ainda está sendo digerido pelas transportadoras e pela própria ANP – a quem cabe a palavra final sobre os critérios de cálculo das tarifas.

Há, porém, um certo ceticismo, entre as partes envolvidas, sobre a viabilidade da mudança de rota – sobretudo a curto prazo, já que os preparativos para os próximos processos de oferta de capacidade anual já estão em andamento. 

A nota técnica que trata das propostas tarifárias para a janela de contratação do fim de ano está no forno – e seguindo a metodologia atual. Adotar a tarifa postal, no meio desse caminho, pode atrasar os processos. E como já estamos em setembro, tic, tac, tic, tac… 

Questionamos a ANP sobre as perspectivas de mudanças nos critérios de definição das tarifas. A agência respondeu que ainda está analisando o decreto e seus eventuais impactos sobre a regulação vigente e sua agenda regulatória.

Resta saber, portanto, como (a postalização será só na entrada? só na saída?), quando (ocorrerá a tempo da revisão tarifária de 2025?) e se a proposta será internalizada pela agência.

Fato é que o conceito da tarifa postal não morreu e a Gas Week desta semana se debruça sobre o assunto.


O uso das tarifas postais uniformes foi uma das propostas do Comitê Técnico 2 (liderado pelo MME), do Grupo de Trabalho do Gás para Empregar, para vigorar enquanto não forem definidas regras claras para as tarifas locacionais.

O documento cita que a medida é essencial para mitigar as diferenças de custos de transporte entre as diferentes regiões do país. Esta é a principal linha de defesa do governo, que buscou amparo na Resolução CNPE 03/2022.

Hoje, as tarifas de transporte mais baratas, para a saída do gás do sistema, são as do RJ (NTS e TAG), SP e MS (na malha da TBG).

Um eventual retorno da tarifa postal uniforme teria como efeito, portanto, a perda desse diferencial para esses estados – dentre eles os dois principais centros de consumo do país.

A medida, por outro lado, tende a beneficiar os carregadores do sistema TAG, no ES e Nordeste – malha que combina ativos mais novos, ainda não amortizados, e o menor mercado consumidor. 

Os extremos do sistema interligado (CE e RN numa ponta e RS na outra) possuem hoje as maiores tarifas de saída.

A nota técnica do Ministério de Minas e Energia que subsidiou a elaboração do decreto 12.153/2024 cita, ainda, que a Petrobras, em seus contratos de suprimento às distribuidoras, já incorpora um componente postal na parcela de transporte que forma o preço do gás praticado pela estatal.

“Considerando que a Petrobras ainda detém participação majoritária do mercado de gás natural, a adoção da modalidade postal para todos os carregadores geraria menor impacto na forma como o mercado opera atualmente”, argumenta a nota técnica.

Segundo uma fonte do governo, a proposta de adoção de uma tarifa uniforme para todo o sistema integrado visa a simplificação tarifária – o que ajudaria, no limite, a desafogar a ANP de ter de lidar com um regime mais complexo como o de entrada e saída. O tarifaço na malha do Sudeste, este ano, foi um exemplo das dificuldades de lidar com o modelo.

De quebra, na visão do governo, a postalização avança na direção da fusão das áreas de mercado das diferentes transportadoras (a ANP definirá mecanismos transitórios para repasse de receita entre eles).

Em tempo: uma outra implicação esperada com uma eventual volta das tarifas uniformes é dar a mesma condição de competição às diferentes fontes de suprimento, seja o gás oriundo do pré-sal, onshore, Bolívia, Argentina…


A tarifa postal uniforme foi um modelo historicamente adotado pela Petrobras quando a estatal ainda era a grande operadora dos gasodutos de transporte do país – antes da privatização da NTS e TAG. 

Foi um longo caminho de maturação até a revisão dos conceitos. A Resolução ANP 15/2014, há dez anos atrás, já dizia que a tarifa deveria refletir, dentre outros pontos, “os determinantes de custos, tais como a distância entre os pontos de recebimento e de entrega”.

Posteriormente, as primeiras discussões sobre a modernização do marco legal do setor, ainda no Gás para Crescer, no governo de Michel Temer (MDB), sedimentaram as bases para o modelo de entrada e saída – visto, na época, como um modelo mais condizente com a proposta de abertura do mercado.

regime de entrada e saída foi instituído pelo decreto 9.616/2018 e reafirmado pela Nova Lei do Gás, de 2021. E nesse embalo, a tarifa postal uniforme tem sido progressivamente substituída.

Começou com a TBG em 2019 e, posteriormente, foi replicado para a NTS e TAG em 2021.

No modelo vigente, a contratação da injeção do gás no sistema é independente da contratação da retirada. A inspiração veio do mercado europeu, maduro.

Nada impede que um agente contrate as duas pontas (é comum, aliás), mas a essência do regime é permitir que produtores ou comercializadores, por exemplo, contratem a capacidade de entrada e distribuidoras ou consumidores a saída – dando, assim, uma liberdade maior de negociação.

Pela metodologia híbrida aplicada pela ANP, as tarifas se aproximam mais dos custos associados. Essa mudança, no entanto, vem sendo feita de modo gradual e o fator locacional ainda representa uma parte menor dentro da metodologia tarifária híbrida adotada pelo regulador.

No caso da TAG, a tarifa é composta por 90% de fator postal e 10% de fator locacional  – que segue a metodologia da Distância Ponderada pela Capacidade (CWD, na sigla em inglês). No caso da NTS, a proporção é de 80%/20% e, na TBG, 50%/50%.

O conceito postal, portanto, nunca foi de fato abandonado – embora as tarifas uniformes sim.

Na literatura internacional, há um entendimento de que a tarifa postal uniforme, calculada para recuperar o custo médio do sistema de transporte, contribui para o desenvolvimento de demanda em regiões onde o gás não chegaria competitivo pela lógica do fator locacional. 

Por outro lado, a tarifa uniforme não reflete os custos associados ao transporte e, por permitir a ocorrência de subsídios cruzados entre os consumidores, tende a privilegiar a universalização em detrimento da emissão de sinais eficientes.

Já a tarifação por entrada e saída permite que os usuários paguem pela injeção e retirada isoladamente, dando maior flexibilidade e liquidez à comercialização da molécula –  é uma tendência em países que buscam mais concorrência.

Tenta se aproximar mais dos custos associados ao transporte (mas num nível intermediário na comparação entre o modelo ponto a ponto, de um lado, e postal do outro). Mais transparente, ajuda a sinalizar congestionamentos e gargalos em pontos específicos do sistema – emitindo, assim, sinais que permitem a identificação dos investimentos necessários.

A desvantagem, do outro lado da mesma moeda, é reforçar eventuais desigualdades regionais.


Senado aprova Combustível do Futuro. Texto retorna para a Câmara dos Deputados após alterações. Expectativa é de que o item entre na pauta de votação a partir da próxima terça (10/9).

– No capítulo que trata do incentivo ao biometano, a principal mudança está na base de cálculo do mandato, que passará a considerar a média decenal de oferta de gás natural. A ABiogás comemorou a aprovação do projeto

– O PL também incluiu a Agência Nacional de Mineração (ANM) como parte responsável, junto com a ANP, pela definição de prioridades para o uso de blocos destinados ao armazenamento de CO2 no Brasil. Na agência eixos

Paten. O relator do PL do Programa de Aceleração da Transição Energética, senador Laércio Oliveira (PP/SE), disse que pretende encaminhar o texto para votação no início de outubro. Com a relatoria dele, o estímulo ao gás natural ganhou força. Na agência eixos

– Laércio, aliás, criticou a falta de medidas efetivas para limitar a participação de mercado da Petrobras, como o gas release, no novo decreto do gás.

— Regulamentação da Lei do Gás também abriu caminho para a criação do Comitê de Monitoramento do Setor de Gás Natural. Entenda a proposta

Subida da Serra. Marcada para 12/9 a 1ª audiência de conciliação entre ANP e Arsesp sobre a classificação do gasoduto no Núcleo de Solução Consensual de Conflitos do STF. O diretor substituto, Bruno Caselli, representará a ANP.

– O MME espera abrir até novembro tomada pública de contribuições sobre a harmonização regulatória no setor. A ideia é apresentar, na sequência, a minuta do Pacto Nacional para o Desenvolvimento do Mercado de Gás.

Abertura. O número de indústrias presentes no mercado livre de gás mais que dobrou em 2024, de acordo com levantamento da agência eixos

Especificação. A diretoria da ANP aprovou a realização de consulta pública para discutir proposta de uma nova resolução sobre as especificações e controle de qualidade do gás natural. Entenda o que está em jogo.

– ANP também aprovou o  relatório do Grupo de Trabalho de Hidrogênio, que destaca a necessidade de recursos humanos e orçamentários para garantir a execução das novas atribuições.

Alvopetro avalia expansão. Uma das pioneiras no movimento de abertura do mercado, a petroleira canadense se prepara para aumentar a sua produção no onshore na Bahia e já avalia uma possível expansão de UPGN.

Caso Gemini encerrado. Três anos após a Petrobras vender sua participação no consórcio para a White Martins, a Superintendência-Geral do Cade reconheceu que as medidas estabelecidas no acordo de controle de concentrações (ACC) foram cumpridas. Na agência eixos.

Transporte. A NTS anunciou um novo sistema de gerenciamento para nominação, programação, alocação e faturamento. Batizado de ConnectGas, a previsão é colocar em funcionamento em janeiro de 2025.