A água diminui, mas a conta de luz só aumenta. O Brasil atravessa uma das piores crises hídricas de sua história, e os efeitos dessa seca severa já estão pesando no orçamento das famílias.
Com os níveis dos reservatórios atingindo os menores índices em anos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu, no início desta semana, acionar a bandeira tarifária vermelha para o patamar 2.
No entanto, nesta quarta-feira (4/9), após identificar inconsistências nos cálculos sobre o custo da geração térmica para setembro, a Aneel voltou atrás e ajustou a bandeira para o patamar 1. Apesar da mudança, o impacto no bolso das famílias ainda é significativo.
Para entender melhor, a bandeira vermelha no patamar 2 tem uma tarifa de R$ 7,87 a cada 100 quilowatt-hora (kWh), enquanto no patamar 1 o valor adicional cai para R$ 4,46. Ou seja, a diferença entre os dois patamares da bandeira vermelha é de R$ 3,41 a cada 100 kWh. Em agosto, a Aneel manteve a bandeira verde, sem custo extra para os consumidores.
A crise hídrica no Brasil é agravada pela previsão de um volume de chuvas 50% menor do que o normal até o final do ano. As hidrelétricas, responsáveis pela maior parte da energia consumida no país, estão operando com níveis de água insuficientes.
Para evitar apagões, o governo recorre às usinas termelétricas, que são bem mais caras e dependem da queima de combustíveis fósseis. O custo dessas operações é repassado diretamente para os consumidores, justamente em um período de condições climáticas insuportáveis.
Em termos globais, o Brasil se encontra em uma posição preocupante. O país está no topo do ranking mundial de impacto das tarifas de energia no orçamento doméstico, com os brasileiros destinando cerca de 4,5% de sua renda anual para pagar a conta de luz.
Em contraste, em muitos países desenvolvidos e emergentes, esse percentual é de aproximadamente 2%. O peso no bolso aqui é desproporcional e reflete a falta de políticas adequadas para garantir a estabilidade do fornecimento de energia a preços justos.
Além do impacto financeiro, a crise hídrica está desencadeando outros problemas ambientais e de saúde pública.
O número de queimadas no Brasil alcançou o nível mais alto em 10 anos, com vastas áreas florestais sendo consumidas pelo fogo. Mais de metade das cidades brasileiras também estão em estado de alerta devido ao ar seco, com condições climáticas semelhantes às de desertos, tornando o ar praticamente irrespirável em algumas regiões.
Em meio a essa crise, é urgente que o governo e a sociedade busquem soluções sustentáveis para garantir a segurança hídrica e energética no futuro. Investimentos em energias renováveis, políticas de preservação ambiental e uma gestão mais eficiente dos recursos são essenciais para evitar que esse cenário se repita.
A crise atual serve como um alerta de que precisamos repensar a forma como utilizamos e gerenciamos nossos recursos naturais.
Neste momento, o brasileiro está sendo obrigado a lidar com os efeitos de uma crise que vai muito além das tarifas de energia. Trata-se de uma crise sistêmica que afeta o meio ambiente, a economia e a saúde pública – e as soluções devem ser tão abrangentes quanto os problemas que enfrentamos.
Este artigo expressa exclusivamente a posição da autora e não necessariamente da instituição para a qual trabalha ou está vinculada.
Cleide Tirana Nunes Possamai é coordenadora e professora nos cursos de Gestão, Finanças e Ciências Contábeis na Uniasselvi, com sólida experiência acadêmica e profissional. Atualmente doutoranda em Administração pela Univali, possui Mestrado em Administração, Graduação em Ciências Contábeis e Pós-graduação em Controladoria e Gestão Financeira. Também é Pós-graduada em Educação a Distância: Gestão e Tutoria pela Uniasselvi. Sua especialidade é em Administração e Finanças, com foco em Controladoria.