Diálogos da Transição

Peso das baterias torna a eletrificação mais difícil e cara no frete de longa distância

PDE 2034 indica que a eletrificação de caminhões semipesados e pesados será pouco expressiva até meados da próxima década

TotalEnergies e Air Liquide lançam Teal Mobility, uma joint venture de distribuição de hidrogênio para caminhões na Europa. Na imagem: Caminhão a hidrogênio Xcient Fuel Cell da Hyundai, com autonomia de autonomia de cerca de 400 km por carga, segundo a coreana (Foto: Divulgação)
Caminhão a hidrogênio Xcient Fuel Cell da Hyundai (Foto: Divulgação)

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PDE 2034 indica que a eletrificação de caminhões semipesados e pesados será pouco expressiva até meados da próxima década.
 
Em contrapartida, na frota leve, os carros elétricos devem reduzir o consumo de gasolina em mais de 28,6 bilhões de litros no período decenal.
 
E ainda: Senado aprova programa de créditos fiscais para hidrogênio de baixo carbono; Anac e ANP firmam cooperação para regular SAF.


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A eletrificação de veículos pesados no Brasil deve avançar em nichos, como a entrega em última milha por comerciais leves e caminhões leves (16% dos licenciamentos), e os ônibus urbanos (26% de participação), projeta o Caderno de Eletromobilidade no transporte rodoviário do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2034.
 
Já para para caminhões semipesados e pesados, tecnologias híbridas e a gás natural tendem a ganhar mais espaço, embora o estudo enxergue a manutenção do domínio da combustão a diesel (93% das vendas em 2034).

Produzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Ministério de Minas e Energia (MME), o PDE é um documento de planejamento, que analisa o cenário atual para fazer projeções.
 
O documento observa que a eletrificação de caminhões tem ocorrido mais lentamente que a frota leve ao redor do mundo, com outras alternativas ao diesel protagonizando a transição energética.

Enquanto o peso das baterias torna a eletrificação de veículos pesados mais difícil e cara, restringindo sua aplicação para distâncias menores, o licenciamento de modelos a gás natural cresce significativamente. Estes últimos, no entanto, têm sua expansão limitada pela disponibilidade de infraestrutura de abastecimento.
 
Entre as soluções para viabilizar a opção do gás natural estão a introdução de corredores de abastecimento de caminhões a gás natural (corredores azuis) e a possibilidade de uso do biometano – ambas em discussão no Brasil e com alguns projetos pilotos, mas ainda sem previsão de ganhar as estradas de fato.



Por ser um derivado de petróleo, o gás natural como solução de descarbonização também tende a esbarrar na resistência de grupos ambientais. Na semana passada, o Observatório do Clima lançou uma proposta de meta climática para o Brasil onde sugere a substituição de 42% de todo o gás fóssil.
 
Na transição da frota pesada, a organização ambiental aponta que o país poderia ter como ambição chegar a 22% das vendas de caminhões novos em 2035 sendo atendida por elétricos a bateria ou hidrogênio, e 57% dos ônibus elétricos.
 
O restante da descarbonização viria de biocombustíveis, com a oferta de diesel verde chegando a 3,5 bilhões de litros em 2035, e a de biodiesel, de 11 bilhões de litros no mesmo ano, com a mistura B20 (20% de biodiesel adicionado ao óleo diesel comercial).
 
Pela análise da EPE, a hibridização é uma alternativa “crescentemente interessante”, especialmente devido ao aumento das restrições às emissões, e a frota de eletrificados caminha para representar 1,2% da frota total de 2,3 milhões de unidades em 2034.

Nos carros leves, os elétricos estão batendo recordes de vendas. De janeiro a julho, o mercado nacional emplacou 94.616 VEs, ultrapassando os 93.927 de janeiro a dezembro de 2023 – que já tinha sido o melhor ano da história da eletromobilidade no Brasil, segundo dados Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
 
A projeção decenal da EPE é que a entrada dessa tecnologia será progressiva, ganhando tração rapidamente na próxima década: a frota de híbridos e a bateria está prevista para ultrapassar 1 milhão em 2030, com alta participação de híbridos.
 
Em 2034, os veículos leves eletrificados podem representar 18% dos licenciamentos desta categoria, com 694 mil unidades, e a frota de híbridos e elétricos alcançar 3,7 milhões de veículos.
 
Isso seria suficiente para substituir mais de 28,6 bilhões de litros de gasolina equivalente. 
 
Há desafios no caminho: preços elevados dos modelos, necessidade de ampliação de infraestrutura de recarga e o perfil do parque fabril local (com foco em híbridos), que induzem a penetração de eletrificados no mercado premium e para os consumidores dos segmentos de maior renda.


Incentivos para hidrogênio. O Senado Federal aprovou nesta quarta (4/9) o projeto que cria um programa de créditos fiscais de R$ 18 bilhões para produtores e consumidores de hidrogênio de baixo carbono no Brasil (PL 3027/2024). O texto segue para sanção, mantendo um acordo costurado pelo governo federal com parlamentares após a primeira passagem do marco legal do setor.
 
Conexão SAF. Diante da iminência de aprovação do PL do Combustível do Futuro, Anac e ANP firmaram uma cooperação técnica para o desenvolvimento de arcabouço regulatório para inserção dos combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) no Brasil. A parceria foi formalizada nesta quarta (4/9) com a publicação no Diário Oficial da União.
 
Transição justa. Os ministérios de Minas e Energia (MME) e das Mulheres assinaram nesta quarta (4/9) uma lista de compromissos para promover equidade de gênero em cargos de liderança e gestão e incentivos à formação e capacitação técnica e gerencial de mulheres no setor energético e mineral, no Pacto Nacional por Mais Mulheres na Energia e na Mineração.
 
Mil mulheres eletricistas. A assinatura do pacto ocorreu em Brasília, durante a formatura da Escola de Eletricistas da Neoenergia, que alcançou a marca de mil profissionais mulheres formadas no Brasil.
 
Gás para Todos. Também nesta quarta, o ministro Alexandre Silveira admitiu que o programa Gás para Todos – uma ampliação do auxílio gás focada na distribuição de botijões a famílias mais pobres – pode passar por “mudanças pontuais”, seja por parte do governo ou no Congresso Nacional.
 
Clima extremo. O MME solicitou ao Operador Nacional do Sistema (ONS) a elaboração de um plano de contingência para garantir a segurança energética durante o período de seca. O ministério recomendou também que o ONS acione entre 70% e 80% da potência das usinas termelétricas para conservar os reservatórios de hidrelétricas.
 
Seca se intensifica e avança no Sudeste segundo última atualização do Monitor de Secas, coordenado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Na comparação entre junho e julho, em termos de severidade da seca, houve uma intensificação do fenômeno simultaneamente no Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. 
 
Eólica na mineração. A mineradora canadense Lundin Mining fechou acordo comercial com a Serena (antiga Omega Energia) para garantir a operação com 100% de energia renovável nas suas minas em Alto Horizonte (GO) a partir de 2025. O contrato de dez anos prevê o fornecimento de 44 megawatts-hora (MWh) pelo Complexo Eólico de Chuí, no Rio Grande do Sul.
 
Nuclear. O BNDES concluiu no estudo sobre o projeto da usina nuclear de Angra 3 que o custo de terminar o projeto é praticamente o mesmo de abandoná-lo. Desistir das obras de Angra 3 custaria R$ 21 bilhões, enquanto a conclusão do empreendimento foi estimada em R$ 23 bilhões. O material foi entregue à Eletronuclear.