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Diálogos da Transição
apresentada por
O “novo capitalismo” de Davos
A elite econômica se reúne a partir desta segunda (20), em Davos, na Suíça, admitindo pela primeira vez que os maiores riscos globais estão ligados ao clima.
Em uma carta aberta, o fundador e diretor-executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, recomendou que todas as empresas participantes do encontro se comprometam com a definição de meta para zerar suas emissões líquidas de gases do efeito estufa até 2050 ou antes.
A carta, assinada pelo presidente do Bank of America e do Conselho Internacional do Fórum, Brian Moynihan, diz que os organizadores esperam que a edição de 2020 marque um “momento decisivo” para ações empresariais sobre mudanças climáticas.
Os organizadores frisam que as emissões crescem a uma taxa de 1,5% ao ano, enquanto a temperatura média do planeta segue também aumentando. E citam o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC): as emissões precisam recuar entre 3% e 6% ao ano, para limitar o aquecimento global entre 1,5°C e 2°C.
As declarações do topo da hierarquia mundial, são acompanhada de um crescente senso de urgência. “Acordem e sintam o cheiro das queimadas” foi umas das frases levantadas pelos milhares de manifestantes que se reúnem desde a semana passada na Suíça.
Isso em um contexto de pessimismo econômico. Em pesquisa da PwC, a maioria dos executivos entrevistados acredita que o crescimento econômico será menor em 2020 (Folha). Ao mesmo tempo em que o FMI revisou para baixo o crescimento do PIB mundial, para 3,3%, menor do que o projetado em outubro (O Globo).
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A transição energética é parte essencial do esforço necessário para zerar as emissões. Para atingir a marca de zero emissões líquidas em 2050, o uso de energias renováveis precisa dobrar a cada cinco anos.
Os organizadores do Fórum também pedem o fim de subsídios a combustíveis fósseis e a taxação sobre emissões de carbono, além de um foco maior de empresas e governos em eficiência energética.
Mas por que isso importa? O Fórum Econômico Mundial reúne os principais líderes políticos e empresariais do mundo e é visto como o principal debate sobre os desafios da economia mundial. O destaque dado pelos organizadores à crise climática é mais uma demonstração da urgência que o tema demanda.
E esse posicionamento claro contra subsídios estatais para os combustíveis fósseis colabora com o lobby em favor das energias renováveis, com potenciais efeitos positivos nas políticas públicas para o setor de energia ao redor do mundo.
Mas ainda é pouco. Relatório da Agência Internacional de Energia (IEA), destaca que o setor de petróleo e gás natural investe menos de 1% de seus aportes totais em negócios de baixo carbono. Além disso, precisam reduzir a intensidade de emissões na produção, em especial as de metano.
“Nossa análise contatou que cerca de 15% das emissões relacionadas à energia provêm do processo de extração de petróleo e gás”, destacou o diretor executivo da EIA, Fatih Birol.
E é preciso ter especial atenção às características das economias emergentes, onde populações mais pobres vão demandar cada vez mais energia, em países que precisam se preparar para acelerar essa transição energética.
Alerta do pesquisador Rahul Tongia, da Brookings India. Para ele, a onda globa de inovação tecnológica no setor de energia não pode ficar concentrada nas demandas dos países ricos, sob o risco de negligenciar soluções.
Entre as recomendações de Tongia, para quem pensa o desenvolvimento energético em países em desenvolvimento, estão deixar que o mercado e a correta sinalização de preços de energia ditem as soluções, sem trancar as rotas tecnológicas…
… e descentralizar as redes: “uma rede inteligente [smart grid] permite operações mais flexíveis e ágeis, ambas essenciais para sistemas intensivos em energias renováveis”.
Mais: IEA alerta empresas de petróleo sobre emissões: “não fazer nada não é uma opção”; e a íntegra do relatório The Oil and Gas Industry in Energy Transitions; e direto do Fórum Econômico Mundial, How to hasten the energy transition in the developing world
[veja a imagem ampliada] Investimentos do setor de petróleo e gás em energias renováveis ultrapassa US$ 2 bilhões em 2019, mas não chega a 1% dos aportes globais. Fonte: EIA
A promessa é que o dinheiro falará mais alto…
Nesta segunda (20) o maior gestor de fundos do mundo, o BlackRock detalhou sua mudança de postura ao incluir a sustentabilidade na escolha investimentos. Em carta enviada a clientes, o fundo afirma que as mudanças climáticas são hoje o mais significativo dos fatores que impactam no rendimento de investimentos.
Faz parte de um movimento, que ganhou força em 2019, e começa a colocar em pauta novas formas de medir a eficácia dos projetos em termos de alinhamento com as metas do Acordo de Paris.
Artigo da Reuters (em inglês), trata inclusive da criação de um “temperature score”, um indicador objetivo de impacto dos investimentos na meta de controle do aquecimento global.
O BlackRock não foi o primeiro. Em 2019, o grupo que reúne investidores institucionais europeus – gestores e fundos de pensão –, com ativos combinados da ordem de US$ 33 trilhões, anunciou que vai buscar o alinhamento com a questão climática…
…O que levou ao lançamento do Net-Zero Asset Owner Alliance, com signatários responsáveis por fundos da ordem de US$ 4 trilhões.
… Já que os eventos climáticos lideram a percepção de riscos globais
No topo, há também a percepção que as economias globais entraram em rota de colisão com o meio ambiente.
A 15ª edição do Global Risk Report identificou nas entrevistas – a maioria, com executivos e acadêmicos de países ricos – que as ameaças consideradas com maior probabilidade de atingir o mundo nos próximos dez anos estão todas ligadas ao clima. São elas, em ordem:
- Eventos climáticos extremos;
- Falha na mitigação e adaptação às mudanças climáticas;
- Desastres naturais de grande porte;
- Perda de biodiversidade e colapso de ecossistemas;
- Danos e desastres ambientais causados pelo homem;
A pesquisa completa está disponível aqui; e no Observatório do Clima: Falha em agir no clima é maior risco para a humanidade, diz Davos
[veja a imagem ampliada] Fonte: Global Risk Report, Fórum Econômico Mundial
Curtas
Nesta segunda (20), foram gerados os primeiros créditos de carbono do Renovabio. Ainda não é emissão, mas o cadastro dos biocombustíveis vendidos, que gera um saldo chamado pré-CBIO – a comercialização dos créditos ainda precisa ser regulamentada. Foram gerados 7.867 pré-CBIOs para a São Martinho.
A “diplomacia do etanol” marcará a viagem de Bolsonaro à Índia, destacou o Valor. “A diplomacia do etanol foi lançada pelo governo Lula em 2006, mas deixada de molho depois que o Brasil descobriu o petróleo do pré-sal (…) as discussões sobre mudanças climáticas após a aprovação do Acordo de Paris recuperaram o debate do papel dos biocombustíveis na descarbonização”.
A Alemanha anunciou um programa para desativar todas as suas usinas nucleares e a carvão até 2038. O país vai investir US$ 44,7 bilhões em iniciativas de apoio a trabalhadores e empresas do setor de carvão…
… selando um acordo histórico, comemorado pelo governo: “somos o primeiro país que tem um acordo vinculativo para abandonar o carvão e a energia nuclear. E isso é um sinal importante internacionalmente”, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Svenja Schulze. Euronews
… Mas visto com ceticismo por críticos. “Os céticos afirmam que o país está embarcando em um rumo perigoso. Fontes suficientes e energia renovável podem não estar disponíveis a tempo para compensar a perda da energia derivada de combustíveis fósseis e nucleares”, publicou o NYT (em português, no Estadão)
Enquanto isso, estudo do instituto alemão Mercator Research Institute on Global Commons and Climate Change aponta que a demanda por energia no continente africano pode levar a uma disparada da queima de carvão, adicionando emissões de 100 milhões de toneladas de CO2 até 2025. Valor
A Total anunciou que vai investir US$ 500 milhões em uma usina solar com 800 MW de capacidade, no Catar, capaz de atender, no pico, a 10% da demanda por energia elétrica do país. Ao longo da vida útil do projeto, o corte de emissões é estimado em 26 milhões de toneladas de carbono. A petroleira terá 49% da usina, em sociedade com a Marubeni Corporation.
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