Parlamentares de variados partidos criticaram o anúncio feito, inicialmente, pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, quanto ao interesse da Petrobras na participação do 2ª leilão de áreas offshore em Israel.
Os dois ex-candidatos à Presidência, o deputado Aécio Neves (PSDB/MG) e o senador José Serra (PSDB/SP), que concorreram com petistas, criticaram um modelo de governança que não garanta independência da estatal.
++ Castello Branco comunicou interesse na rodada em carta a ministro de Israel
Para Aécio Neves, o governo Bolsonaro desde o seu início manda informações trocadas para a população e esse seria mais um caso. “Fala de um lado que tem que dar mais autonomia às empresas, mas depois faz isso, sem embasamento se é bom para a estatal ou não. Eu sempre critiquei o governo do PT por fazer acordo para beneficiar amigos, como Cuba e Venezuela. Agora, o que estamos vendo é a outra face da mesma moeda”, disse à epbr.
O senador e veterano do PSDB entende que a Petrobras precisa ter autonomia para suas ações, como toda empresa no mercado privado, mas que há também limitações pelo fato de ser estatal. “É uma empresa da União, então deve-se entender isso também”, afirmou.
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O presidente da Comissão de Minas e Energia, deputado Silas Câmara (PRB/AM), também criticou a fala do ministro. Para o parlamentar, que também é presidente da Frente Parlamentar Evangélica, qualquer interferência na Petrobras, sem a avaliação da própria empresa sobre onde investir, é ruim para a população e para o governo “que está tropeçando muito”.
Mas o deputado não enxerga uma posição ideológica na escolha de Israel como parceiro econômico. “Todos os países têm algo a oferecer ao Brasil, desde que seja de interesse nacional. Não acho que seja uma questão ideológica”, pontuou.
A crítica também veio da oposição. O senador Jean-Paul Prates (PT/RN), suplente da atual governadora potiguar Fátima Bezerra, disse não discordar do direito do governo em orientar a Petrobras, mas criticou a ação por partir de quem acusava os governos do PT de fazer o mesmo.
“Com que autoridade eles podem criticar o governo do PT por ingerência na Petrobras? Eu até acho que eles têm esse direito, o que não pode é nos criticarem antes e, agora, fazerem a mesma coisa. E depois querem falar sobre ideologia nos governos anteriores. Israel deve ter muito petróleo mesmo”, ironizou.
Sob condição de anonimato, um deputado com longa ligação ao setor de energia demonstrou surpresa com a fala do ministro. “Não sei nem como não tem oposição falando sobre isso ainda”, comentou o parlamentar para quem não há benefício algum para a Petrobras em uma aproximação com o mercado israelense.
Ex-ministro não vê problema em orientação do governo
Ministro de Minas e Energia durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Eduardo Braga (MDB/AM) não vê problema em o governo federal orientar ações ou planejamentos na Petrobras. Para o mdebista, a União como acionista majoritária da estatal pode demonstrar interesse em um leilão offshore em outro país, por exemplo, já que a maior beneficiado seria o próprio Estado brasileiro.
Para ele, é muito mais impactante sobre a Petrobras as interferências na política de preços de combustíveis da companhia, o que considera que já foi feito “de muito e de menos”. Braga explica que no governo Dilma o congelamento dos preços da gasolina levou a uma situação insustentável que gerou problemas para os consumidores, mas considera que o repasse diário de variação cambial do combustível, adotado pela gestão Temer, também foi muito nocivo.