Tasso: prisão de Temer é "espetáculo midiático"; veja a repercussão em Brasília

Tasso Jereissati: projeto possibilita uso de royalties para pagamento de pessoal
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O senador Tasso Jereissati afirmou à jornalistas em Brasília que a prisão do ex-presidente Michel Temer é um “espetáculo midiático”. O senador pelo PSDB do Ceará afirmou que “Não tem razão alguma para prender um ex-presidente da República que tem endereço fixo e está à disposição da Justiça”, classificando a ação da operação Lava Jato de “abuso de autoridade”.

É um ex-presidente da República e, pelo que eu saiba, não estava fugindo e tem endereço conhecido. Não há nenhuma razão legal para isso a não ser esse processo de desmoralização dos políticos, agora também do Judiciário. É um grande risco para a democracia”, afirmou Tasso ao UOL.

O senador tucano é já foi apontado como possível relator da Reforma da Previdência no Senado – o texto antes passa pela Câmara. O temor que o a prisão de Temer e Moreira Franco, caciques do MDB, interfira nas articulações políticas pela Reforma da Previdência foi descartada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Maia cancelou compromissos com parlamentares em Brasília – Moreira Franco é padrasto da esposa de Rodrigo Maia. De acordo com o Estadão, deputados informaram que maia está “sereno e tranquilo”. Moreira Franco é padrasto da mulher de Maia.

Poucas palavras
Em viagem ao Chile, o presidente Jair Bolsonaro relacionou as prisões a acordos políticos “pela governabilidade” e disse que cada um que “responda por seus atos”. De acordo com o Correio Braziliense, o presidente falou rapidamente com jornalistas ao desembarcar no país vizinho.

“Cada um responde por seus atos, mas está claro que a política em nome da governabilidade feita no passado não deu certo, não estava correta”, afirmou.

O vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão, fez alguma declarações aos longo do dia. Reconheceu que a prisão de Temer pode gerar ruídos em Brasília, em relação à aprovação de projetos de interesse do governo, mas minimizou os prejuízos.

“A preocupação é total e nós vamos ter que trabalhar dentro do Congresso. É conquista de corações e mentes”, afirmou Mourão, de acordo com o Poder360, sobre o trabalho para garantir os votos para a Previdência.

O vice presidente também afirmou que o desentendimento entre Maia e Sérgio Moro, acerca do chamado pacote anticrime, está sendo resolvido. “Acho que o presidente Bolsonaro depois deu uma telefonada para o presidente Rodrigo e eles se acertaram”, afirmou.

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, criticou Maia pela indicação que o projeto perderá prioridade frente à Reforma da Previdência. Moro quer que os projetos tramitem em paralelo.

Havia uma expectativa que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara fosse definir a relatoria da Previdência nesta quinta, 21. A decisão foi adiada.

Bolsonaro anunciou que fará a transmissão semanal pelas redes sociais às 19h, quando deve repercutir a operação de hoje.

“Estado democrático”
O PT, em nota assinada pela presidente do partido Gleisi Hoffmann e pelos líderes no Congresso, Humberto Costa (Senado) e Paulo Pimenta (Câmara), afirmou esperar que as prisões “tenham sido decretadas com base em fatos consistentes, respeitando o processo legal, e não apenas por especulações e delações sem provas, como ocorreu no processo do ex-presidente Lula e em ações contra dirigentes do PT”.

O partido não partiu, diretamente, em defesa de Temer e Moreira Franco, afirmando que o ex-presidente assumiu mediante um golpe e “sua agenda no governo levou ao aumento da desigualdade e da miséria”, mas que “no entanto é somente dentro da lei que se poderá fazer a verdadeira Justiça e punir quem cometeu crimes contra a população.

O líder do MDB no Senado e ex-ministro de Minas e Energia de Dilma Rousseff, o senador Eduardo Braga foi na mesma linha e afirmou, por meio de nota, que “esperamos que o estado democrático de direito seja respeitado e que a defesa do ex-presidente Michel Temer possa esclarecer todas as questões. Defendemos que todos devem cumprir a lei e que a Justiça existe para todos”.

Randolfe Rodrigues (Rede/AP), líder da oposição no Senado, afirmou à Agência Senado “não é o fim da corrupção. É um passo importante que precisa ser celebrado. Os elementos para a prisão do senhor Michel Temer e do senhor [ex-ministro de Temer] Moreira Franco estavam colocados há muito tempo. É lamentável que isso não tenha ocorrido antes”.

Líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB/RJ), afirmou que “finalmente a justiça começa a ser feita. Por duas vezes, tentamos que Michel Temer respondesse por seus delitos durante o exercício da Presidência da República, mas ele usou seu cargo para impedir que as denúncias avançassem. Agora não há mais como escapar”.

O ex-ministro Moreira Franco chega na Superintendência Regional da Polícia Federal, no Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Prisão esperada

A primeira parlamentar a falar do assunto  Plenário da Câmara foi a líder da Minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ). “Todo o Parlamento já esperava que a saída do Palácio do Planalto levasse à prisão do ex-presidente depois de duas denúncias rejeitadas pelo Congresso”, disse a deputada.

O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) também afirmou que a prisão de Temer já era esperada. “Quem participou das comissões que analisaram as denúncias contra o então presidente Temer já sabia o que estava acontecendo”, disse.

Deputados petistas, apesar da oposição a Temer, criticaram a medida e a Operação Lava Jato como um todo. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) chegou a dizer que a operação é um “câncer”. “A Lava Jato promove prisões arbitrárias como o que ocorreu no dia de hoje, por isso precisamos dar um paradeiro a esse abuso de autoridade que ocorre no sistema brasileiro”, disse. O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) também disse que não foi respeitado o devido processo legal na prisão de Temer.

Para o deputado Célio Moura (PT-TO) a prisão foi uma “vingança” do ministro da Justiça, Sérgio Moro, ex-juiz da Lava Jato, contra Maia. O presidente da Câmara criticou o ministro nesta quarta-feira e ex-ministro Moreira Franco é seu sogro.

Para o deputado José Nelto (Pode-GO), no entanto, a prisão é mais uma evidência a favor do fim do foro privilegiado para autoridades. “Temos de votar nesta Casa o fim do foro privilegiado, para que nenhuma autoridade seja encoberta. É preciso investigar todas as autoridades, só assim vamos mudar o Brasil”, disse.

O líder do PPS, deputado Daniel Coelho (PE), publicou um vídeo em que destaca o fortalecimento das instituições brasileiras. “A gente não fica feliz em ter dois ex-presidentes da República presos, porque isso é sinal de que a cultura política brasileira está equivocada; mas só vamos mudar e corrigir isso se dermos independência e apoio às instituições para que elas façam o trabalho de combater a corrupção”, disse.

O deputado Alexandre Frota (PSL-SP) disse que a prisão é um recado para quem achava que “a Lava Jato tinha morrido”.

A deputada Áurea Carolina (Psol-MG) ressaltou que a prisão de Temer ocorre “em um momento em que a operação Lava Jato coleciona derrotas no STF e vê naufragar seu projeto privatista de um fundo bilionário”, disse, referindo-se à decisão que transferiu para a Justiça Eleitoral as investigações de crimes conexos a caixa dois.

Para o deputado Aliel Machado (PSB-PR), a prisão do Temer é “emblemática”. Também nas redes sociais, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) disse que a prisão de Temer alimenta “o sonho do fim da impunidade no País”.