BRASÍLIA e RIO – As negociações entre o Brasil e a Bolívia para a importação de grandes volumes de gás natural, sem a participação da Petrobras, pavimentam também o caminho para o acesso da indústria às futuras exportações da Argentina.
No curto prazo, devido a gargalos na infraestrutura, a capacidade de envio do gás de Vaca Muerta ao Brasil, via Bolívia, é da ordem de 4 milhões de m3/dia, mas esse volume pode ser ampliado com investimentos adicionais em gasodutos na Argentina.
Conforme antecipado pelo político epbr, serviço de assinatura exclusivo para empresas (teste grátis por 7 dias), uma comitiva de membros do governo brasileiro e associações que representam grandes consumidores de gás antecipou a visita que o presidente Lula (PT) faz à Bolívia, nesta terça (9/7), para avançar não só com os termos do comércio Bolívia-Brasil, mas também com a agenda de importação de gás de Vaca Muerta.
A infraestrutura existente de gasodutos na Bolívia é, hoje, o caminho mais rápido para as pretensões de comércio Brasil-Argentina. As alternativas (incluindo um novo gasoduto pelo Chaco Paraguaio) demandariam não só investimentos pesados em infraestrutura, como mais tempo para serem colocadas de pé.
A expectativa é que, a partir de outubro, com a conclusão das obras de reversão do Gasoduto Norte, a Argentina se torne autossuficiente do gás boliviano.
O projeto permitirá que o gás de Vaca Muerta, na Patagônia, seja enviado ao norte da Argentina e, numa inversão do fluxo da infraestrutura atual, chegue também à Bolívia – abrindo as portas para que o gás não convencional argentino seja exportado ao Brasil.
Indústria busca gás mais competitivo
A reversão do Gasoducto Norte abre espaço também para que os volumes que hoje são exportados pelos bolivianos ao país vizinho sejam redirecionados para o mercado livre no Brasil.
A concretização de contratos firmes de suprimento, em grandes volumes e entregues diretamente à indústria representaria um arranjo inédito na relação comercial entre Brasil-Bolívia.
A expectativa é que os acordos possam representar uma redução no custo do gás para indústria da ordem de 30%.
A Petrobras, principal importadora, paga pelo gás boliviano, na fronteira, cerca de US$ 6 por milhão de BTU. Com a tarifa de transporte da TBG, para importação pelo Gasbol, são adicionados cerca de outros US$ 2 por milhão de BTU.
A estatal, contudo, vende o gás para as distribuidoras a cerca de US$ 12 por milhão de BTU, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia (MME) de janeiro. A empresa compõe a sua carteira de oferta com a produção nacional, além das cargas complementares de GNL.
Importando diretamente da Bolívia, sem o intermédio da Petrobras, a indústria tem a expectativa de acessar um gás mais competitivo nos próximos anos.
Vencimento de acordo
No curto prazo, as negociações de compra e venda do gás boliviano pela indústria brasileira podem ter efeitos a partir de outubro. Isso porque em setembro vencem acordos de exportação de 4 milhões de m³/dia de gás natural boliviano à Argentina.
O volume de gás disponível para os agentes industriais brasileiros na fronteira entre Bolívia-Brasil, contudo, pode ser maior: de 6 milhões de m³/dia, ou até 8 milhões de m³/dia, se concretizada a importação de gás argentino via Gasbol.
Para além do envio de gás extra para a indústria, os bolivianos tentam negociar com o Brasil a atração de investimentos em exploração e produção de gás no país, para reverter o declínio das reservas nacionais.
Em entrevista à agência epbr, o embaixador da Bolívia no Brasil, Horacio Villegas, disse que há gás na Bolívia à espera de investimentos.
Visita oficial
Lula se encontra com o presidente boliviano Luis Arce nesta terça (9).
No embalo da visita oficial, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), tenta construir uma entrega política para o governo: uma agenda para aumentar a disponibilidade do gás competitivo para a indústria brasileira, como prometido no programa Gás para Empregar.
Silveira chegou ao país nesta segunda, acompanhado de representantes das associações da indústria química (Abiquim), de vidros (Abividro), de cerâmica (Abceram) e dos grandes consumidores de energia elétrica (Abrace), além da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e outros executivos e agentes públicos.
“Efetivamente, trouxemos temas objetivos hoje para os ministros [bolivianos]: na questão do gás, eliminar qualquer tipo de intermediação entre os grandes intensivistas do gás no Brasil, que é a indústria química, a indústria da cerâmica, a indústria de vidro, para que eles possam ter um canal direto”, disse Silveira.