RIO — O gás natural da União não será capaz, por si só, de revolucionar o mercado brasileiro. O leilão da Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) deveria ser desenhado, portanto, como uma oferta mais ampla, que reunisse outros vendedores – inclusive produtores argentinos interessados em desenvolver um mercado consumidor no Brasil.
Essa é a visão do diretor sênior da Alvarez & Marsal, Rivaldo Moreira Neto. Em entrevista ao videocast gas week, o executivo defende o leilão estruturante como ferramenta ideal para ajudar a casar oferta e demanda. E que o gás da União deveria ancorar a concorrência. Assista na íntegra acima
“[O gás da União] é um gás que tem um efeito, pelo ângulo do volume, limitado. Então, eu não consigo fazer uma revolução no mercado só com o gás da PPSA”
“A gente tem advogado uma ideia um pouco diferente: usar o gás da PPSA para provocar um movimento, um movimento mais amplo e mais diverso quando se pensa em players… Em que o gás da União pudesse ser quase que uma âncora para atrair outras ofertas”, comentou.
O Ministério de Minas e Energia (MME) trabalha com a ideia de realizar o leilão do gás da União em 2026. Falta definir, porém, a modelagem da concorrência.
Para destravar o leilão, o governo chegou a alinhar, via Medida Provisória 1304/2025, a regulação das condições de acesso do gás da União às infraestruturas de escoamento e processamento.
O MME pretendia editar uma resolução com destinação preferencial do gás da União para fertilizantes – de olho no projeto piloto de Uberaba (MG). A formatação da oferta, contudo, tem esbarrado em resistências da Petrobras e seus sócios no SIE/SIP.
A a própria tramitação da MP 1304, no Congresso, desponta como um espaço para remodelagem da proposta do leilão.
Leilão ajuda a revelar preços do mercado
Rivaldo Moreira Neto entende que a destinação do gás da União para um setor em específico é uma decisão de política pública legítima. Mas reforça o seu alcance limitado.
A PPSA projeta que a capacidade de oferta da União chegará a um pico de 3,5 milhões de m³/dia no início da próxima década mantendo-se acima de 3 milhões de m³/dia por cinco anos consecutivos.
O mérito do leilão estruturante, segundo o diretor da A&M, é ajudar a casar oferta e demanda e a revelar preços no mercado.
“O leilão é um instrumento muito legal, porque em um ambiente de muita incerteza, que é o nosso, o leilão ajuda a mitigar essa incerteza. Você cria um momento de encontro efetivo, binding vinculante… eventualmente isso vai ter um match, efetivamente”.
“E se não houver, você descobre qual é a distância entre eles. Você pode abrir uma janela de negociação, você pode, enfim, descobrir efetivamente qual é o gap, você descobre efetivamente qual é a dificuldade para que esse contrato aconteça. Se não, a gente fica a vida inteira dizendo que existe oferta, existe demanda, mas por que não existe contrato?”
Na avaliação de Rivaldo Moreira Neto, os fundamentos do mercado são promissores para um leilão do tipo.
“Quando a gente pensa em fundamento, a gente tem uma grande oportunidade: para além do gás da União, você tem um gás nacional de Petrobras, [o gás] de privados que vai chegar… um gás da Argentina que tem um fundamento muito forte – lá a reinjeção não é uma alternativa… E a gente tem aqui uma indústria que há muito não contrata, que pode ter projetos para consumir mais gás no futuro”
Outros destaques da entrevista
- O ambiente de negócios do mercado ainda é desafiador para monetização de grandes descobertas de gás associado;
- A regulação do escoamento é uma exposição que o investidor não gostaria de assumir a longo prazo;
- A criação de uma figura de um operador independente das infraestruturas de gás é complexa, diante da característica e gás associado do Brasil;
- A perspectiva de sobreoferta gera pressão positiva sobre o mercado, com tendência de queda nos preços – mas eles ainda não romperam patamar histórico;
- A solução logística de se conectar biometano ao transporte será desafiada pela competitividade;
- A capitalização da Cosan, pelo BTG e Perfin, dá uma sinalização positiva ao mercado de gás.