RIO — Atores do mercado brasileiro de gás natural e do setor elétrico têm buscado oportunidades de aquisição de participações em campos na Argentina, em busca de gás próprio para importação.
E a entrada de brasileiros na exploração e produção de gás natural no país vizinho será uma tendência nos próximos anos, à medida que a integração dos mercados avance.
O episódio desta semana do videocast gas week traz a visão do argentino Fernando Montero e do brasileiro Antonio Marques de Oliveira Neto, sócios-fundadores da Energyum. Assista na íntegra
A Energyum está montando uma comercializadora no Brasil, de olho nas janelas de importação de gás argentino e gás natural liquefeito (GNL), mas tem se posicionado também como assessora/consultora de empresas dos dois países que querem explorar oportunidades de negócios dessa integração.
A tendência, segundo os empresários, é que o interesse de brasileiros por ativos de gás na Argentina cresça e se dê num primeiro momento, por meio de participações minoritárias:
“É complexo [entrar como operador], porque o mercado é diferente. A gente [Argentina] tem sindicatos, situação política, situação macro, um contexto inflacionário que vocês não têm”, disse Montero.
De concreto, até agora, o mercado vivenciou a entrada do grupo J&F – dono de um dos maiores parques termelétricos a gás no Brasil e que colocou o pé na Argentina, com a compra da Fluxus.
A Petrobras também tem um acordo não vinculante com a YPF, para avaliação de possíveis oportunidades de negócios em exploração e produção.
Confiança será construída passo a passo
A confiança entre os dois países, segundo Montero, será um processo a ser construído passo a passo e devagar.
Ele cita o passado de rompimento de contratos na relação entre os dois países, mas lembra que o Chile, que também teve importações de gás argentino rompido no passado, também já retomou a relação com o país vizinho e hoje é um importador de gás de Vaca Muerta.
A Energyum também está montando uma trader própria de gás no Brasil, para aproveitar as oportunidades de arbitragem de importação de gás argentino.
A companhia mira, em especial, os mercados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais – onde enxerga potencial de interiorização para o Triângulo Mineiro. Não há, contudo, expectativa de operações na próxima janela de verão.
A Energyum também mira oportunidades no leilão de gás da União (a PPSA está formatando uma concorrência de gás spot) e também oportunidades com GNL (seja da Argentina, EUA, Catar…).
Quem são: Antônio Marques de Oliveira Neto é um empresário de Uberaba (MG) com histórico no mercado financeiro: ex-Banco Master, é sócio-fundador da 369 Capital (estruturação financeira) e da Ideal Capital (assessoria financeira). No setor de energia, investiu em geração distribuída, via BRGD.
Já o argentino Fernando Montero é ex-Shell e atual CEO da Zona Franca Zapala, a Zona Franca de Vaca Muerta.
Outros destaques da entrevista
- Energyum desenvolve um projeto de um terminal de regaseificação em Paranaguá
- Potencial de desenvolvimento de data centers na Tríplice Fronteira, em Foz do Iguaçu, pode justificar uma rota de conexão direta entre Argentina e o Paraná
- Gás argentino está, hoje, chegando ao Brasil “na linha da competitividade”, mas há uma “gordura para ser trabalhada” na redução dos custos – em especial nas tarifas de transporte de todos os países envolvidos
- Atores, no entanto, precisam alinhar expectativas sobre a integração Brasil-Argentina
- Expectativas criadas pelo consumidor brasileiro sobre o quão barato o gás argentino pode chegar aqui “não são reais”
- Risco de aumento das tarifas de transporte no Brasil pode retardar “um pouquinho mais a integração” entre os dois países e incentivar rotas alternativas como a prioridade argentina pela exportação via GNL