JUIZ DE FORA — A Vast Infraestrutura aposta no desenvolvimento de um sistema de eletrificação de petroleiros atracados, em parceria com o Porto de Roterdã, dos Países Baixos, e espera avançar com uma prova de conceito entre 2026 e 2027.
Em entrevista ao estúdio eixos, na Rio Pipeline & Logistics, o CEO da Vast, Victor Bomfim, conta que a medida, inédita no setor, é estratégica para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) e, assim, atacar um ponto crítico da pegada de carbono no transporte marítimo. Assista na íntegra acima.
“Os petroleiros, a sua emissão, 20% da sua emissão é quando os navios estão em porto. Então, você poder abater essa emissão quando o navio está atracado é extremamente importante”, disse o executivo, durante
O projeto faz parte da chamada First Movers Coalition, aliança internacional que visa reduzir a pegada de carbono das indústrias de difícil descarbonização — as chamadas de hard-to-abate.
“Hoje, no mundo, não existe nenhum terminal que já tenha essa solução implementada”, destaca. “São os primeiros movimentos que estão sendo dados nesse sentido”.
Eletrificação já é realidade
Bomfim cita que a eletrificação de navios atracados já é uma realidade no Porto do Açu, no Norte Fluminense, entre rebocadores e embarcações de apoio.
Nessas operações, os navios permanecem parte significativa do tempo atracados, o que facilita a substituição parcial do uso de combustíveis fósseis por energia elétrica.
Além da eletrificação, a companhia aposta no avanço de biocombustíveis e novos produtos de baixo carbono no sistema portuário.
A companhia está construindo o Terminal de Líquidos do Açu (TLA), previsto para 2026, com foco, numa primeira fase, na movimentação de biocombustíveis – além de combustíveis claros e óleo básico.
Na semana passada, a Vast anunciou também o início de testes com diesel verde em embarcações que atuam no terminal de transbordo de petróleo do Açu.
O projeto vai testar a viabilidade do uso de produto no abastecimento das embarcações da OceanPact
O executivo destaca que o terminal de líquidos tem vocação, no futuro, para movimentar uma ampla gama de produtos, desde derivados do petróleo até etanol, metanol, amônia e e-metanol.
Biocombustíveis para a descarbonização marítima
No debate sobre combustíveis marítimos do futuro, Bomfim defende que os biocombustíveis permaneçam no centro da agenda internacional de descarbonização.
“Acho que é uma mistura de várias coisas. O que é importante, eu acho, para o Brasil, como país, é garantir que a questão dos biocomponentes esteja na pauta também, que não seja excluída. Existe um lobby muito forte, especialmente nos países europeus, para deixar a questão do biocombustível de fora da transição energética”, destaca.
Entre as alternativas em análise, Bomfim citou o B24, bunker com 24% de biodiesel desenvolvido pela Petrobras, como uma solução interessante.
- Chamado de Very Low Sulfur (VLS) B24, o combustível marítimo usa biodiesel de segunda geração, originado do processamento de óleo de cozinha usado (UCO, em inglês).
“É importante que a nossa voz seja ouvida também pela IMO [Organização Marítima Internacional], pelos órgãos internos, internacionais, para que o combustível marítimo não seja excluído, porque ele faz parte do processo”, afirma.
Para o executivo, não há uma solução isolada para a transição energética do setor marítimo brasileiro.
Segundo ele, trata-se de “um leque de opções: combustível marítimo, eventualmente metanol, LNG [gás natural liquefeito], eletrificação em portos, uma mistura de tudo isso”, em um processo no qual, ao longo do tempo, tendem a se consolidar as alternativas mais competitivas.
“As coisas vão evoluindo aos poucos, a gente vai ver o que realmente prevalece”.
Reduzir custos para exportações é chave
Enquanto isso, o petróleo segue como eixo central das exportações brasileiras e a logística, segundo Bomfim, é peça-chave para manter competitividade.
“O maior item da pauta brasileira de exportação do petróleo e de exportação do Brasil em 2024 foi o petróleo. E continua a crescer”, lembra Bomfim.
Hoje, o país exporta, em média, 1,8 milhão a 1,9 milhão de barris por dia, com perspectiva de alcançar 3 milhões de barris/dia em cinco anos.
Segundo ele, garantir eficiência e reduzir custos logísticos é essencial para sustentar esse crescimento.
“Se a gente conseguir fazer que o ciclo de exportação também seja um ciclo em que toda essa cadeia seja uma cadeia de baixa pegada de carbono e eficiente sobre o aspecto econômico e financeiro, aí a gente vai ser muito vencedor e isso vai gerar muitos dividendos para o país”, avalia.
Ele cita que os conflitos geopolíticos recentes alteraram parcialmente o perfil das embarcações empregadas na exportação de petróleo.
Houve aumento no uso de navios Suezmax, menores que os VLCCs, mas a rota para a Ásia permanece predominante.
“O Extremo Oriente continua sendo um destino, pelo menos no nosso terminal, um destino bastante importante. A exportação por VLCC continua sendo bastante significativa, algo da ordem de 80% do nosso terminal”, explica Bomfim.