Os empreendimentos de hidrogênio verde disputam espaço na rede elétrica com data centers e outros pedidos de conexão, reconheceu a CEO da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), Fernanda Delgado, em entrevista ao estúdio eixos na quarta-feira (25/6), durante o Energy Summit, no Rio de Janeiro.
A executiva apontou que é importante considerar as contrapartidas que cada indústria vai trazer ao país e incluir a sociedade nesse debate. Segundo ela, o governo tem se mostrado aberto ao diálogo com o segmento em busca de soluções.
“Para uma economia em desenvolvimento como a nossa, tudo que vai adensar a cadeia produtiva, trazer emprego, renda, deve ser bem visto”, disse.
Delgado citou um estudo da ABIHV que mostrou que o hidrogênio verde pode gerar um faturamento de R$ 30 bilhões ao ano, trazendo benefícios e gerando empregos para o Brasil.
Ao todo, há 7 gigawatts (GW) em solicitações de autorização para conexão à rede por projetos de hidrogênio no Brasil, incluindo pedidos em análise pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e projetos já autorizados por um decreto pelo Ministério de Minas e Energia (MME).
Segundo ela, esse segmento está passando por um momento de “assentamento de ideias”, com a reestruturação dos projetos considerando os cenários para custos, benefícios e consumidores, por exemplo.
“Agora a gente consegue fechar fluxos de caixa, entender quanto custam as coisas, qual vai ser o volume de incentivos dentro da economia nacional para a confecção e a comercialização de hidrogênio verde, amônia, metanol, o SAF [combustível sustentável de aviação]. Então agora começa a ter uma clareza e a separar quem é economia fictícia, teórica, e quem realmente vai participar da economia real do país” afirmou.
Entretanto, a entidade vê espaço para maior diálogo com a indústria sobre o decreto que vai regulamentar o marco legal do hidrogênio, incluindo o Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC) e o Regime Especial de Incentivos para a Produção de Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (Rehidro).
“A gente foi muito partícipe na construção das leis, nessas discussões no início. Agora, os decretos estão um pouco mais fechados. A gente gostaria de participar um pouco mais dessas discussões. O nosso medo é que venha alguma coisa que seja inexequível pela indústria”, afirmou.
Uma das preocupações é a exigência de conteúdo local. A ABIHV defende que os percentuais exigidos de contratação nacional sejam aumentados de forma escalonada ao longo do tempo, assim como os requerimentos de investimentos obrigatórios em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
“A gente tem que ter o pé no chão que é uma indústria que não existe, os maquinários e equipamentos para construí-la ainda também não existem. Mas isso não significa que não existirão para sempre. Existem tempos e movimentos que vão ser construídos para que a gente tenha isso no país”, disse.
Segundo Delgado, várias empresas já demonstraram interesse em montarem fábricas de eletrolisadores em território nacional, mas é um processo que demanda tempo para maturação dos projetos.