RIO – O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Rodolfo Saboia, afirmou que o Brasil precisa recompor as reservas de petróleo e gás natural e que o caminho para colher os frutos da transição energética no futuro virá de decisões que precisam ser tomadas agora.
Durante painel na Offshore Week 2024, realizado nesta quarta (30/10) pela agência eixos, Saboia pontuou a complexidade dos setores de energia e disse que uma transição energética sem o devido planejamento poderia impactar nos preços da energia, podendo levar à pobreza energética.
“O momento que nós estamos vivendo é extremamente importante para determinar qual o grau de sucesso que um país vai ter ao realizar a sua trajetória de transição energética. Apostar na transição energética e não sermos capazes de prover sequer aquelas necessidades para alcançar o net zero é um risco muito grande de nós, em vez de fazermos uma estratégia de transição energética, desenvolvamos uma outra que nos leve à pobreza energética, cujo primeiro sintoma é alta dos preços da energia”, disse.
Pegada de carbono brasileira é inferior à média mundial, diz ANP
Saboia cita o relatório da COP 28, que estabelece uma trajetória organizada para a transição energética.
O diretor-geral da ANP também reforçou que a pegada de carbono do petróleo brasileiro é inferior à média mundial, de modo que a paralisação da produção no Brasil resultaria não só em mais importações do insumo, mas em um produto com mais emissões de gases de efeito estufa.
Ele defendeu a ampliação da produção nacional, responsável por bilhões de reais em arrecadação de impostos, royalties, empregos e desenvolvimento de uma cadeia de bens e serviços relacionados ao setor.
“O Brasil tem que deixar claro qual é o caminho que ele quer percorrer nesse sentido, e a hora de tomar essa decisão é agora. Essa decisão vai ser cobrada ou elogiada no futuro daqueles que tomaram essa decisão no momento que nós estamos vivendo”, afirmou.
Queda nas perfurações
A presidente interina da Pré Sal Petróleo S.A. (PPSA), Tabita Loureiro, destacou a drástica redução na perfuração de poços no Brasil nos últimos anos. Ela afirmou que o momento é diferente do que sucedeu o início das operações no pré-sal, quando havia muitas perfurações.
“Se a gente olha o histórico, em 2011 a gente perfura 150 poços por ano. Em 2023, nós perfuramos 22 poços exploratórios. Desses 22, seis foram offshore. Em 2024, até agora, perfuramos seis poços no total”, comentou.
De acordo com Loureiro, o declínio não vem de agora. Há nove anos o Brasil perfura menos de oito poços offshore. A perspectiva é de estagnação na produção em 4,6 milhões de barris de petróleo/dia em 2028.
“Os campos de petróleo declinam a uma taxa de 10%. Significa que em 2030, nós vamos, sem dúvida, importar petróleo. A urgência na reposição das reservas é essa, mas a conta da reposição vai chegar agora”, disse.
Segundo o presidente da TGS, João Correa, a substituição do combustível fóssil pressupõe a existência, em grande escala, de renováveis.
Setores que têm demanda intensiva por energia, como a indústria cimentícia e metalurgia não são atendidas por eólica e solar, conforme Correa.
“Você vai precisar de outras fontes de energia firmes, que vão ter que ser atendidas por tecnologias que são muito promissoras, como hidrogênio de baixo carbono”, afirmou.
O executivo pontua que essas fontes são caras e dependem do aprimoramento tecnológico para serem escaláveis.