A Petrobras vai avaliar a possibilidade de converter campos depletados, que já tiverem a produção esgotada, para a estocagem de gás natural, disse o gerente-executivo de Gás e Energia da estatal, Álvaro Tupiassu, durante a live de abertura da gas week 2024, realizada pela agência epbr, na manhã desta segunda-feira (15/4). Assista a íntegra da entrevista.
“Vemos com bons olhos as iniciativas que estão em andamento e temos interesse em discutir com potenciais fornecedores desse serviço para fazer a estocagem também”, disse.
O executivo destacou que o Brasil tende a ter um aumento na variabilidade da demanda de gás, o que vai aumentar a importância da estocagem no país.
Segundo Tupiassú, contribui para isso o fato de que nos últimos dois anos ocorreu uma mudança na maneira como as usinas termelétricas são despachadas para complementar a geração de energia renovável, que é intermitente, ou seja, depende das condições climáticas.
Se antes as termelétricas eram acionadas em períodos mais longos, para compensar sobretudo as secas que afetavam as hidrelétricas, agora a dinâmica do despacho tende a ser dentro de um mesmo dia ou de uma mesma hora, devido às variações das renováveis, sobretudo solar e eólica.
“Hoje, para fazer frente a essas variações, nós temos o uso de GNL [gás natural liquefeito], a estocagem em navios de GNL. Para o futuro nós vemos que, com o aumento da oferta firme e a continuação desse perfil de despachos das térmicas, vamos precisar também ter estocagem subterrânea no Brasil”, afirmou
Ele lembrou que é nesse contexto de maior necessidade de acionamento das termelétricas para compensar as renováveis que o Brasil vai realizar um leilão de reserva de capacidade, em agosto. A Petrobras já manifestou interesse em concorrer no certame com as usinas do portfólio que estão descontratadas. Segundo o executivo, a concorrência vai ser uma oportunidade de reconhecer o atributo das termelétricas e remunerar adequadamente esse serviço.
Tupiassú afirmou que a regulação não deve ser um empecilho para novos negócios de estocagem, dado que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) já prevê essa possibilidade na revisão dos planos de produção.
“A questão é encontrar um caso de negócio que fique de pé. O perfil do serviço também é importante: tem que ser uma estocagem que consiga fazer essas variações rápidas para atender esse tipo de despacho, o que também é um desafio, mas essa é a nossa visão da importância, do interesse em futuramente ter acesso também à estocagem”, afirmou.
No fim de março, a Origem Energia e a Transportadora Associada de Gás (TAG) anunciaram um acordo para avaliar um investimento de US$ 200 milhões em um projeto de estocagem de gás no campo de Pilar, em Alagoas.
Durante o painel na manhã de hoje, a vice-presidente da Equinor Brasil, Cláudia Brun, destacou a importância de aumentar a liquidez dos produtores de gás no país.
“Se o objetivo é ter um gás mais competitivo, a gente precisa focar no desenvolvimento de mais produtos de flexibilidade, com regras claras e que incentivem o desenvolvimento de um mercado spot”, afirmou.
À tarde, a presidente da Equinor no Brasil, Verônica Coelho, reforçou durante a “Entrevista com CEO” que o gás natural no país vai ter um papel de dar flexibilidade para o sistema elétrico, mais do que descarbonizar a matriz elétrica, como é o caso na Europa. Nesse sentido, ela lembrou que vai ser importante garantir que haja gás disponível quando necessário para compensar as fontes intermitentes.
“Até aqui, esse sistema contou muito exclusivamente basicamente com GNL, mas acho que podemos buscar outras soluções, acho que isso é importante pensar e discutir isso”, disse.
Cobertura completa da gas week 2024 realizada pela agência epbr