Biocombustíveis

Petrobras não fará concorrência predatória com produtores de biodiesel, diz Prates

Presidente da Petrobras disse que PBio vai "organizar cadeia produtiva" em entrevista ao Energy Talks da epbr

Captura de tela da participação de Jean Paul Prates, CEO da Petrobras, no Energy Talks #13, evento virtual da agência epbr, em 19/10/23. Na pauta: "Petrobras 70 anos": planos da Petrobras, guerra, biorrefino, hidrogênio, etc
Captura de tela da participação de Jean Paul Prates, CEO da Petrobras, no Energy Talks #13, evento virtual da agência epbr, em 19/10/23. Na pauta: “Petrobras 70 anos”: planos da Petrobras, guerra, biorrefino, hidrogênio, etc

A Petrobras não fará concorrência predatória no mercado de biodiesel, disputando com os produtores, disse o presidente da estatal, Jean Paul Prates, em entrevista exclusiva à agência epbr nesta quinta-feira (19/10) durante o último episódio da temporada 2023 do Energy Talks (veja a íntegra acima).

Além disso, segundo o executivo, a subsidiária PBio também deve assumir novos papéis para “organizar a cadeia produtiva” da Petrobras, de olho na ampliação de investimentos em biorrefino.

“Nós não queremos, absolutamente, [e] não faremos uma concorrência predatória com esses mercados, é bom que se diga isso. Alguns produtores de biodiesel ficam com medo, falam: ‘a Petrobras vai comprar o óleo vegetal todo, vai começar a fazer diesel que não é transesterificado, vai acabar com a gente’. Não vai acabar com nada disso”, disse.

A transesterificação é o processo usado para produzir o biodiesel, que envolve a reação de óleos ou gorduras – vegetais ou animais – com um álcool.

Biodiesel x coprocessado

Desde março, a Petrobras começou a vender o diesel R5, com o coprocessamento de 5% de óleo vegetal na produção de diesel mineral na refinaria do Paraná. É o antigo HBIO, projeto que a companhia retomou em anos recentes.

Uma preocupação do setor de biodiesel é com a entrada do coprocessado da Petrobras no atendimento à mistura obrigatória do biocombustível, que estava nos planos do governo de Jair Bolsonaro.

A estatal defendeu no passado que a mistura obrigatória fosse compartilhada entre diferentes rotas, mas mudou a posição esse ano.

Em setembro, o próprio presidente Lula deu apoio ao aumento do mandato de biodiesel, atualmente em 12% (B12).

Esse debate foi travado na elaboração do projeto de lei do Combustível do Futuro, enviado à Câmara dos Deputados pelo governo Lula, que cria o novo mandato do diesel verde, um combustível drop-in, com a mesma composição química do diesel fóssil.

A mistura inicial será de até 3%, a partir de 2027, segundo a versão atual do texto. A eventual inserção, de forma regulada, de combustíveis como o coprocessado da Petrobras ainda será discutida no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

Além do coprocessamento, a companhia está desenvolvendo unidades dedicadas para produção do combustível 100% de biomassa renovável, que ela batizou de R100.

PBio poderá ser o upstream do biorrefino

Prates afirmou que a PBio não vai participar diretamente dos investimentos em biorrefinarias. Mas que vai ajudar na obtenção da matéria-prima para os combustíveis renováveis.

Inicialmente, a empresa tem o desafio de recuperar suas plantas de produção de biodiesel, que tinham sido colocadas à venda.

A PBio tem três usinas de biodiesel localizadas em: Montes Claros, em Minas Gerais, com capacidade produtiva de 167 mil m³/ano; Candeias, na Bahia, com capacidade produtiva de 304 mil m³/ano, e Quixadá, no Ceará, em estado de hibernação, com capacidade produtiva de 109 mil m³/ano.

Futuramente, Prates afirma que ela pode cumprir na cadeia de produção do biorrefino como uma supridora do óleo de origem renovável necessário na produção dos novos biocombustíveis e produtos.

“A gente também está colocando esse desafio de pensar o papel da PBio na originação de óleo vegetal, por exemplo. Porque nós vamos precisar, para as nossas refinarias, de um upstream”.

“Qual é o upstream do óleo vegetal? É plantar, fazer tudo isso? Não, é organizar, como o John Rockefeller fez na Pensilvânia no início da história do petróleo”, disse. Ele não tinha um poço de petróleo, mas tinha 200 mil caras oferecendo petróleo (…) Ele só organizou a logística e fez o óleo padrão, o Standard Oil, que era a empresa dele.”