Biocombustíveis

Petrobras não fará concorrência predatória com produtores de biodiesel, diz Prates

Presidente da Petrobras disse que PBio vai "organizar cadeia produtiva" em entrevista ao Energy Talks da epbr

A Petrobras não fará concorrência predatória no mercado de biodiesel, disputando com os produtores, disse o presidente da estatal, Jean Paul Prates, em entrevista exclusiva à agência epbr nesta quinta-feira (19/10) durante o último episódio da temporada 2023 do Energy Talks (veja a íntegra acima).

Além disso, segundo o executivo, a subsidiária PBio também deve assumir novos papéis para “organizar a cadeia produtiva” da Petrobras, de olho na ampliação de investimentos em biorrefino.

“Nós não queremos, absolutamente, [e] não faremos uma concorrência predatória com esses mercados, é bom que se diga isso. Alguns produtores de biodiesel ficam com medo, falam: ‘a Petrobras vai comprar o óleo vegetal todo, vai começar a fazer diesel que não é transesterificado, vai acabar com a gente’. Não vai acabar com nada disso”, disse.

A transesterificação é o processo usado para produzir o biodiesel, que envolve a reação de óleos ou gorduras – vegetais ou animais – com um álcool.

Biodiesel x coprocessado

Desde março, a Petrobras começou a vender o diesel R5, com o coprocessamento de 5% de óleo vegetal na produção de diesel mineral na refinaria do Paraná. É o antigo HBIO, projeto que a companhia retomou em anos recentes.

Uma preocupação do setor de biodiesel é com a entrada do coprocessado da Petrobras no atendimento à mistura obrigatória do biocombustível, que estava nos planos do governo de Jair Bolsonaro.

A estatal defendeu no passado que a mistura obrigatória fosse compartilhada entre diferentes rotas, mas mudou a posição esse ano.

Em setembro, o próprio presidente Lula deu apoio ao aumento do mandato de biodiesel, atualmente em 12% (B12).

Esse debate foi travado na elaboração do projeto de lei do Combustível do Futuro, enviado à Câmara dos Deputados pelo governo Lula, que cria o novo mandato do diesel verde, um combustível drop-in, com a mesma composição química do diesel fóssil.

A mistura inicial será de até 3%, a partir de 2027, segundo a versão atual do texto. A eventual inserção, de forma regulada, de combustíveis como o coprocessado da Petrobras ainda será discutida no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

Além do coprocessamento, a companhia está desenvolvendo unidades dedicadas para produção do combustível 100% de biomassa renovável, que ela batizou de R100.

PBio poderá ser o upstream do biorrefino

Prates afirmou que a PBio não vai participar diretamente dos investimentos em biorrefinarias. Mas que vai ajudar na obtenção da matéria-prima para os combustíveis renováveis.

Inicialmente, a empresa tem o desafio de recuperar suas plantas de produção de biodiesel, que tinham sido colocadas à venda.

A PBio tem três usinas de biodiesel localizadas em: Montes Claros, em Minas Gerais, com capacidade produtiva de 167 mil m³/ano; Candeias, na Bahia, com capacidade produtiva de 304 mil m³/ano, e Quixadá, no Ceará, em estado de hibernação, com capacidade produtiva de 109 mil m³/ano.

Futuramente, Prates afirma que ela pode cumprir na cadeia de produção do biorrefino como uma supridora do óleo de origem renovável necessário na produção dos novos biocombustíveis e produtos.

“A gente também está colocando esse desafio de pensar o papel da PBio na originação de óleo vegetal, por exemplo. Porque nós vamos precisar, para as nossas refinarias, de um upstream”.

“Qual é o upstream do óleo vegetal? É plantar, fazer tudo isso? Não, é organizar, como o John Rockefeller fez na Pensilvânia no início da história do petróleo”, disse. Ele não tinha um poço de petróleo, mas tinha 200 mil caras oferecendo petróleo (…) Ele só organizou a logística e fez o óleo padrão, o Standard Oil, que era a empresa dele.”