As 2a e 3a rodadas de partilha da produção, realizadas ontem pela ANP, colocaram seis novas áreas exploratórias no pré-sal brasileiro e levantaram R$ 6,15 bilhões em bônus de assinatura. Se adicionarmos nessa conta os R$ 4,9 bilhões gerados com a reorganização societária que foi feita no bloco BM-S-8, arrematado em 2003, podemos dizer que o leilão movimentará no curto prazo algo em torno de R$ 11 bilhões.
Logo após arrematar a área de Norte de Carcará, o consórcio formado entre Statoil, ExxonMobil e Galp informou a reorganização do projeto. A Statoil, que adquiriu a participação de 66% da Petrobras no BM-S-8 por US$ 2,5 bilhões, vendeu para a ExxonMobil metade dessa parcela por US$ 1,3 bilhão. Além disso, acertou a venda de 3,5% e 3%, respectivamente, da parcela de 10% que comprou da Queiroz Galvão E&P na área para a ExxonMobil e Galp, operação que movimentou mais US$ 250 milhões. A compra dos 10% da QGEP no BM-S-8 ainda depende de aprovação.
“Estas transações fortalecem ainda mais a presença da Statoil na prolífica área do pré-sal brasileiro e contribuem para criar uma parceria forte e alinhada nos dois blocos de Carcará. Em conjunto, isso resulta em um avanço significativo da nossa estratégia no Brasil, um país chave para a Statoil. Desenvolver ativos de primeira linha como Carcará, como operadora, é uma boa combinação com nossas competências e capacidades”, disse o presidente da Statoil, Eldar Sætre.
“Estas aquisições refletem o interesse estratégico da Galp em expandir a sua presença nas áreas core, selecionando para tal um conjunto de ativos de elevada qualidade a ser desenvolvido através de parcerias sólidas”, disse a petroleira portuguesa em nota.
Chamou muita atenção também a tentativa da Shell de arrematar sozinha Norte de Carcará. A petroleira – que disputou todas as áreas que foram arrematadas – entrou para vencer. Mais que dobrou o percentual de óleo mínimo excedente, que era de 22,08%, e fez o consórcio deixar 67,12% do óleo para a União.
Essa e a tentativa da Ouro Preto, de Rodolfo Landim, de pegar uma parcela de Entorno de Sapinhoá, arrematado pelo consórcio Petrobras (45%), Repsol Sinopec (25%) e Shell (30%), foram as únicas tentativas isoladas da concorrência. Landim acabou fazendo o consórcio trocar de envelope e deixar a maior oferta de óleo para a União nos leilões, 80% de excedente.
Nenhuma surpresa na disputa pela área de Sul de Gato do Mato, que foi arrematada exatamente pelo consórcio do bloco Bm-S-54, que é operado pela Shell (80%) em parceria com a Total (20%). O leilão deve destravar o projeto, que dependia das definições de unitização para andar. PPSA e Shell assinaram em 2014 os acordos de confidencialidade necessários para elaboração do pré-acordo de individualização da produção de Gato do Mato e Epitonium, outra descoberta feita no BM-S-52.
Também não foi surpresa o desinteresse pela área de Sudoeste de Tartaruga Verde, na Bacia de Campos. O leilão aumentou a percepção da necessidade de se mudar as definições sobre o polígono do pré-sal, onde estão as áreas que por lei precisam ser licitadas no regime de partilha da produção. Como o polígono hoje é muito grande, traz para o modelo de partilha áreas de pós-sal que não despertam interesse de petroleiras de grande porte. O fato de a Petrobras estar tentando vender o projeto também deve ter ajudado a desencorajar a investir numa área unitizável onde não é possível prever quem será o operador no médio prazo.
Na 3a rodada do pré-sal, onde foram licitadas apenas áreas exploratórias, o fim da operação única atraiu cinco consórcios para a disputa de três áreas. Em 2013, quando o primeiro leilão de partilha foi realizado, ainda com a Petrobras como operadora única, apenas um consórcio foi formado para disputa, mesmo com mais empresas inscritas no leilão daquele ano. Apenas a área de Pau Brasil não recebeu oferta no leilão.
O consórcio que mais apostou na concorrência foi o formado por Shell (55%), CNODC (20%) e QPI (25%), que levou o bloco Alto de Cabo Frio Oeste e disputou as áreas de Peroba e Alto de Cabo Frio Central. Foi o primeiro leilão da QPI, que já é sócia da Shell no Parque das Conchas, mas entrou no projeto por farm-in em 2014.
“Essas propostas vencedoras foram enviadas após a avaliação minuciosa e adicionamos áreas estratégicas ao nosso portfólio global em águas profundas. Nós determinaremos nossos próximos passos com foco no valor contínuo da Shell e de nossos acionistas”, comentou Andy Brown, diretor de Upstream da Shell.
A disputa pela área de Peroba, que fez parte da cessão onerosa de petróleo feita pela União à petroleira em 2010 com área contingente e acabou sendo devolvida pela estatal à ANP em 2014, reforça o argumento de quem apoia o fim da operação única. A área foi a mais disputada nos dois leilões e atraiu ao todo oito petroleiras.
A Petrobras exerceu o direito de preferência pelo bloco e arrematou o projeto com a BP (40%) e a chinesa CNODC (20%). Área contingente do contrato da cessão onerosa, Peroba tinha uma estimativa de 360 milhões de barris recuperáveis. No bloco estava prevista a perfuração de um poço e a aquisição de sísmica 3D contingente. A Petrobras não chegou a perfurar nenhum poço em Peroba.
O leilão também marcou a chegada da BP ao pré-sal brasileiro. A petroleira, que recentemente trocou seu comando no Brasil com a chegada de André Bastos e tinha um atuação tímida no offshore brasileiro, agora será sócia da Petrobras nos projetos de Peroba e Alto de Cabo Frio Central.
Quem vai gerenciar todos os seis contratos de partilha da produção é a estatal Pré-Sal Petróleo (PPSA). Com os leilões, a empresa amplia o número de contratos onde atua no momento em que começa uma discussão legislativa sobre mudanças no marco regulatório do pré-sal.
“A partir de hoje, começamos um novo marco no pré-sal com excelentes resultados para a União”, afirmou o presidente da PPSA, Ibsen Flores.