RIO – A evolução tecnológica dos meios de pagamento digital pode contribuir para políticas públicas de combate à pobreza energética no Brasil, na avaliação do professor da FGV Direito Rio, Carlos Ragazzo.
A pobreza energética é objeto de estudos do professor. Ragazzo alerta que o consumo de lenha, nas cozinhas brasileiras, tem aumentado muito e que isso traz prejuízos do ponto de vista ambiental, social e da saúde pública.
“As pessoas ficam catando lenha durante horas e cozinhar lenha também é um efeito muito deletério para mulheres, para crianças, então tem efeitos de médio e longo prazo que as pessoas trocam por curto prazo para poder ter acesso à comida naquele espaço de tempo que são muito ruins”, disse Ragazzo ao estúdio epbr, durante o 37º Congresso da Associação Iberoamericana de Gás Liquefeito de Petróleo (AIGLP). Veja na íntegra a entrevista.
Ragazzo destaca que o gás liquefeito de petróleo (GLP), por sua grande capilaridade no mercado brasileiro, é um substituto natural da lenha.
Na avaliação do professor, contudo, o programa federal de auxílio gás, criado no governo de Jair Bolsonaro (PL) em 2021, focou mais na recomposição de poder de compra do que na substituição da lenha em si.
Professor defende política de destinação específica
Ragazzo cita que, entre os vizinhos da América do Sul, Colômbia e Peru são exemplos de países que adotaram programas dentro de uma lógica de destinação específica.
“O que significa isso? Você não só dá o dinheiro, você dá o dinheiro contra o recebimento daquela energia limpa. Então você garante que aquele dinheiro não vai ser utilizado para outra finalidade, qualquer que seja, e você garante que essa pessoa vai gastar aquele dinheiro que ela está recebendo a título de auxílio para receber um botijão de gás”, comentou.
Nesse sentido, os novos meios de pagamento digital podem ser aliados.
“O Brasil tem sofisticado muito no sistema de pagamentos digital. Se você for olhar nos últimos anos, até por conta da pandemia, as pessoas começaram a receber auxílio via telefone celular, nas contas que elas tinham via telefone celular. Até porque as agências [bancárias] começaram a desaparecer, elas foram substituídas pelos telefones. Então a gente consegue fazer com que esse pagamento seja direcionado, por exemplo, direto para as distribuidoras [de GLP] quando o sujeito vai lá para fazer uma aquisição”, afirmou.
Ragazzo defende, com base na experiência internacional, que o combate ao uso da lenha passa também por um “esforço de informação” – campanhas de conscientização, incluindo aproximação com líderes comunitários, para esclarecimento dos malefícios da lenha.
“As pessoas não têm muita clareza do porquê que isso [consumo de lenha] é algo tão ruim”, disse.
Confira a cobertura do estúdio epbr no 37º Congresso da AIGLP