A janela de oportunidade para a eólica offshore e o hidrogênio é muito estreita e o Brasil precisa dar um sinal de investimento ao mercado para não “perder o bonde global”, disse a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeolica), Elbia Gannoum. Ela conversou com a agência epbr durante a Brasil Windpower (veja a íntegra acima).
“O nosso posicionamento no mercado global, tanto de energias renováveis, e não só de eólica offshore, e também do hidrogênio verde, tem uma janela muito estreita (…) se o Brasil não conseguir fazer todo o seu arranjo regulatório e dar o exato sinal de investimentos neste intervalo de um ano, um ano e meio, nós perderemos o bonde seguramente”, disse.
Elbia, no entanto, se diz otimista com o andamento da regulamentação dos mercados. Ela destacou a disposição do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, de aprovar as regulamentações de eólica offshore (PL 576/2021), hidrogênio (PL 725/2022) e mercado de carbono (PL 412/2022), além da articulação do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira e de outros ministérios.
“Sempre tem alguns ajustes, algumas mudanças. Mas a nossa expectativa é que este projeto seja votado ainda este ano e, assim, muito em breve. Com essa preparação de relatórios, nós vamos trabalhar para que, em outubro, no máximo, seja aprovado. Até porque vai ser muito importante, e eu mencionei isso ao deputado e também ao ministro, se formos para a COP28 com esses projetos aprovados.”
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Leilão de energia não é prioridade
Esta semana, o diretor de Transição Energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, sugeriu que fosse realizado um contrato de compra e venda de energia junto com a cessão da área, em um modelo similar ao das hidrelétricas. Elbia afirma que eventuais leilões de compra de energia elétrica não são prioridade no momento.
Segundo ela, o mais importante agora para a eólica offshore é definir a cessão das áreas para a instalação dos parques. Caso a legislação seja aprovada este ano e o leilão de áreas aconteça no ano que vem, ela espera que as primeiras usinas entrem em operação em 2030.
“Nós precisamos fazer um leilão de cessão. Então, o cerne da lei é isso. É poder autorizar ou conceder o uso das áreas para estudos, e aí estudos para licença ambiental também. (…) Se fizermos tudo certinho, conforme programado, aprovando a lei este ano, leilão de seção ano que vem, mais três anos para estudos, para licença, 2027, os primeiros contratos sendo assinados, e aí, 2030, a gente pode já ver um aerogerador rodando no mar brasileiro também.”
A presidente da Abeeolica destacou que a entrada da Petrobras no mercado eólico offshore deve contribuir para agilizar o desenvolvimento desse mercado.
“A Petrobras, como um grande player, vai influenciar muito até no processo da regulação, da regulamentação. Então, ter uma empresa do governo do nosso lado caminhando na mesma direção, isso nos traz o que eu chamo de efeito catalisador, para que a gente ajuste toda essa legislação necessária.”
Industrialização
Outra contribuição da empresa para a eólica offshore pode ser na tecnologia e desenvolvimento do mercado de fornecedores, segundo ela. A estatal fechou acordo com a WEG para desenvolver uma turbina onshore e tem longo histórico de P&D no óleo e gás.
Elbia destacou que o Brasil vai necessariamente desenvolver uma indústria nacional de eólica offshore pelas características da atividade, que tem equipamentos com porte gigantesco que trazem imensos desafios logísticos se não forem fabricados perto do local de instalação.
“Ainda que você não queira ter uma indústria nacionalizada, você não tem alternativa. A gente estava agora em um centro na ORE Catapult (centro de pesquisa offshore no Reino Unido), visitando um projeto de uma turbina, e essa turbina nem era muito grande, uma turbina de 9 megawatts, a pá tem 107 metros. Então, como que você vai trazer turbinas? E as torres? 150 metros. Então, como que você vai trazer torres, turbinas, nacelles de navio? Essa indústria tem uma natureza de ser nacionalizada e ainda ser feita no porto indústria, ali do lado, onde ela tem que ser instalada. Ela é por natureza nearshore.”
Segundo ela, o desenvolvimento da cadeia de fornecimento do onshore vai se repetir no offshore.
“O Brasil também vai fazer uma política de nacionalização como, com muito sucesso, fizemos para a energia eólica onshore. É mandatório para o país, e eu tenho me comprometido muito também com o governo, tenho falado com o ministro Geraldo Alckmin, é mandatório para o Brasil fazer a tecnologia aqui.”
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