Na avaliação do secretário executivo de energia e telecomunicações do Ceará, Adão Muniz Linhares, os projetos de eólicas offshore no Ceará não dependem de leilões específicos de contratação de energia, pois já tem na produção de hidrogênio verde uma demanda garantida.
Representantes do setor defendem leilões de contratação de energia por fonte como uma maneira mais eficaz para alavancar o crescimento da indústria de eólicas offshore no Brasil.
“Os nossos projetos offshore estão praticamente direcionados. Não precisamos de leilão de compra de energia do governo federal. Se tiver um leilão naturalmente vão participar. Mas eles estão direcionados para produção de hidrogênio”, disse Linhares, durante a live da Diálogos da Transição, realizada pelo estúdio epbr, nesta quarta (16/8). (Veja a íntegra acima)
O Brasil tem atualmente 189 GW de projetos eólicos offshore em licenciamento junto ao Ibama. O Ceará aparece em segundo lugar em número de projetos, com 23 parques, somando 58.105 MW (31%), atrás do Rio Grande do Sul, com 24 parques e 61.719 MW (33%).
Líder em projetos de hidrogênio verde
Já em projetos de hidrogênio verde o estado lidera. Atualmente são 32 memorandos de entendimento assinados para integrar o hub de hidrogênio verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP).
“Os primeiros projetos de produção de hidrogênio verde do Pecém já têm uma demanda de 4GW e vai para 8 a 12 GW em 2030”, ressaltou o secretário.
Linhares revelou que atualmente existem três projetos de eólicas offshore já em desenvolvimento.
“Neste momento devem ter dois ou três barcos no mar fazendo levantamento de dados e mediações em atendimento aos critérios do Ibama”.
Polo offshore do Nordeste
O secretário também destacou que o estado vem se preparando para sediar uma cadeia de suprimentos para eólicas offshore no Nordeste.
“O Porto do Pecém vai abranger praticamente todo o Nordeste oferecendo as características de porte industrial para atendimento da indústria offshore”.
Ele cita que a dinamarquesa Vestas, que já possui uma fábrica de turbinas e pás eólicas no Ceará, também olha para o potencial das eólicas offshore na região.
“Nosso fabricante Vestas aqui no estado do Ceará já está praticamente preparado pelo tamanho, pelo porte e pela posição logística dele em relação ao porto de Pecém para produzir, se preparando com mais afinco, turbinas para eólicas offshore.”
Além da empresa dinamarquesa, o governo do Ceará tem um memorando de entendimento (MoU) com a chinesa Goldwind, para a produção de equipamentos para geração eólica no Complexo do Pecém, mirando a produção de hidrogênio verde.
Marco regulatório
Apesar da demanda ser considerada garantida, Linhares vê um gargalo na parte de regulação, para concessão de área, e no planejamento de infraestrutura rural para escoamento de energia.
“Temos uma grande quantidade de projetos junto ao Ibama, aguardando uma posição de regulação federal”, disse o secretário
O deputado Zé Vitor (PL/MG), relator do PL 576/2021, da geração de energia offshore, afirmou à agência epbr, nesta terça (15/8), que vai retomar o diálogo com agentes e governo federal para discutir eventuais alterações no texto.
A expectativa é que, a partir da sanção do marco legal, o governo tire do papel o primeiro leilão de áreas, ainda em 2024.
Gargalo na transmissão
Linhares defende que os leilões de transmissão são essenciais para a exportação de energia excedente para o Sudeste e produção de hidrogênio verde.
“Temos que abrir o olho em relação a utilização desse potencial de energia para socorrer o Sudeste através da exportação do excedente e, também, permitir a produção de energia transportável que é o hidrogênio para o mercado interno e exportação.”
Na avaliação do secretário, o planejamento federal não está acompanhando o desenvolvimento da geração renovável no Nordeste, abrindo espaço para ocorrência como o recente apagão.
De acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS), houve a abertura da linha de transmissão de 500kV Quixadá II/Fortaleza II, no Ceará, operada pela Eletrobras Chesf.
Após esse incidente, foram acionados mecanismos de segurança, entre eles o que cortou a ligação entre as regiões Norte e Nordeste e as regiões Sul e Sudeste do Sistema Integrado Nacional (SIN). O resultado foi um corte de 18.900 MW de carga – o equivalente a 29% do total.
‘Falta robustez’
“Nós não estamos bem em termos de robustez do nosso sistema, principalmente no Nordeste. Se a gente olhar o nosso sistema de transmissão no Nordeste ele está sempre correndo atrás, não está fazendo o planejamento antecipado”, critica o secretário.
A Aneel planeja lançar o edital da linha de transmissão em corrente contínua Graça Aranha–Silvânia até o fim do ano, com investimentos totais estimados em cerca de R$ 20 bilhões, e que vai atravessar Maranhão, Tocantins, Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
Linhares lembra que também há a possibilidade de um segundo bipolo de corrente contínua, entre o Ceará e o Rio Grande do Norte, se conectando com o Sudeste diretamente.
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