Videocast gas week

Choque de oferta pressiona preço do gás para baixo, mas efeito estrutural é incerto, segundo Wood Mackenzie

Previsão é que produção doméstica comece a declinar pós-2035, trazendo incertezas sobre competitividade estrutural do gás

RIO — O choque de oferta de gás natural nacional tende a pressionar os preços da molécula para baixo no mercado brasileiro, mas, sem grandes novas descobertas, o risco é de que a produção doméstica não se sustente por muito tempo no pico e comece a declinar já em meados da próxima década.

Esse cenário traz incertezas sobre a capacidade de os preços do gás ganharem competitividade de forma estrutural a longo prazo, no Brasil. 

Esse foi um dos assuntos debatidos no quarto episódio do videocast gas week, o novo programa semanal da indústria de gás natural do Brasil, com Javier Toro, gerente sênior de Pesquisa da divisão de Gás e Energia do Cone Sul da Wood Mackenzie. Assista na íntegra acima.

Na conversa, Toro faz uma análise das perspectivas de longo prazo do mercado brasileiro de gás. Em resumo: o choque de oferta de gás nacional é resultado da entrada em operação de poucos projetos (Rota 3, Raia e Sergipe Águas Profundas), que não eliminam a dependência das importações, nem a concentração de mercado.

Ele cita que, como o Brasil é — e seguirá — importador estrutural de gás natural liquefeito (GNL), os preços no mercado doméstico seguem, em certa medida, a dinâmica da commodity global, com um desconto — mas, com o aumento da oferta de gás doméstico, a expectativa é que os preços internos caiam.

“A tendência é que nos próximos anos, principalmente, esse preço de gás mais spot, que responde mais à dinâmica de oferta e demanda, tende a cair. Nesse primeiro momento vai permanecer mais baixo, porque até 2035 tem gás boliviano e esse gás doméstico precisa competir com esse gás boliviano”, comentou.

Entre 2030 e 2035, no entanto, a Bolívia deixa de ser um supridor relevante do mercado brasileiro, prevê a Wood Mackenzie. E aí, a longo prazo, com o declínio da produção nacional, a tendência é que os preços do gás no Brasil voltem a seguir o preço do GNL, analisa Toro.

“É muito gás [nacional previsto para os próximos anos], mas quando a gente olha para uma perspectiva de mais longo prazo, a gente vê que, a partir de 2035, os campos que estão atualmente produzindo e que então vão ser campos maduros vão começar um declínio natural da sua produção”, disse.

“A partir daí [2035], com o declínio da produção, se não tivermos sucesso exploratirio, a tendencia é que gente importe não só gás argentino através de gasodutos, mas GNL spot para fechar o balanço brasileiro”, projetou.

Qual o papel do gás argentino?

Toro destaca que o gás argentino “tem tudo para substituir a Bolívia como supridor regional” de gás firme, se vencer seus gargalos de infraestrutura.

Ele acredita, porém, que novas rotas de exportação de gás argentino, alternativas à Bolívia, como a conexão via Uruguaiana ou Chaco Paraguaio, só farão sentido mais a longo prazo. 

Segundo o analista da Wood Mackenzie, com a perspectiva do aumento da produção doméstica do Brasil nos próximos dez anos, há “pouco espaço” para o gás firme argentino, a ponto de justificar grandes novos investimentos.

“Já existe essa infraestrutura que conecta o Brasil através da Bolívia, mas fazer uma conexão direta requer uma justificativa econômica ou um sinal de demanda firme mais forte para a gente poder dar os sinais ao mercado para fazer esses investimentos e justificar a construção de um gasoduto direto para o Brasil”, comentou.

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