RIO – O Brasil não pode abrir mão de ter uma indústria fornecedora forte para eólicas, disse o vice-presidente da Vestas, Leonardo Euler.
“Isso vai, inclusive, amparar os primeiros passos da indústria offshore no futuro”, afirmou ao TotalEnergies Studio, produzido pela agência epbr na Brazil Offshore Wind Summit no Rio, na quarta (27/3). Veja a íntegra da entrevista.
A fabricante de turbinas dinamarquesa foi responsável pelo primeiro projeto de geração eólica marítima do mundo.
Euler disse que também existe espaço para atender a indústria offshore por meio da fabricação no Brasil, mas explicou que o setor marítimo é mais complexo que o terrestre.
Em projetos onshore, a turbina corresponde a cerca de 70% dos custos. Já no offshore, esse percentual é de 30%, com grande parte dos custos também relacionados à fundação das torres, por exemplo.
“Acreditamos muito no potencial industrial do Brasil, nas parcerias que nós temos com os nossos clientes internacionais e locais. E a gente entende que haverá espaço para isso. Mas o Brasil não pode perder a oportunidade de colocar a estrutura dos incentivos corretos”, afirmou.
Conteúdo local para eólicas offshore
O executivo disse também que é importante que o governo tenha cautela quando estabelecer contrapartidas de conteúdo local para essa nova indústria. Além disso, ressaltou que é importante que os leilões de áreas para esses projetos não tenham uma abordagem arrecadatória, mas que foquem nos compromissos de investimentos.
“Primeiro, nós precisamos criar um mercado”, disse.
Ele ressaltou que o Brasil conseguiu desenvolver com êxito a cadeia fornecedora para as eólicas terrestres no país, incluindo a fabricação de parafusos galvanizados, torres, pás eólicas, naceles, geradores e transformadores. Desde 2019, a Vestas produz equipamentos no Ceará.
Entretanto, Euler destacou que o momento é desafiador para o setor, que sofre com a inflação de custos e com o aumento da taxa de juros desde a crise causada pela pandemia.
Com isso, tem sido mais difícil viabilizar projetos eólicos terrestres e marítimos no mundo, com impacto sobre os fabricantes. Nos últimos anos, alguns fornecedores desse setor deixaram de produzir no Brasil, como a GE.
“As últimas notícias não são auspiciosas. É preciso dizer, alguns fabricantes ou hibernando o processo fabril, aqui no Brasil, ou mesmo deixando o processo. Isso não é bom, porque estabiliza essa cadeia”, disse.
Para o executivo, a chegada dos projetos eólicos offshore ao Brasil é também uma oportunidade para a ‘neoindustrialização’, termo abraçado pela equipe econômica do governo federal.
Ele ressaltou que é importante que o arcabouço regulatório para o setor seja estabelecido agora para que os projetos possam entrar em operação na próxima década.
“O Brasil precisa olhar para a parte do arcabouço regulatório. Não há espaço fiscal próprio para dar subsídios, mas há espaço, sim, para desonerar aquilo que o governo tem arrecadado ainda”, afirmou.
Cobertura do TotalEnergies Studio, produzido pela epbr na Brazil Offshore Wind Summit 2024