Ambições net zero desafiam transição planejada por petroleiras

Estratégias net zero das petroleiras estão aquém do necessário -- e os acionistas estão preocupados com isso

Ambições net zero desafiam transição planejada por petroleiras
Imagem de David Mark por Pixabay

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 27/05/21
Apresentada porlogotipo eneva

Editada por Nayara Machado
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As revoltas de acionistas ativistas e a decisão de um tribunal holandês nesta quarta (26) para obrigar gigantes do petróleo a assumir compromissos sérios com a descarbonização marcam uma mudança de paradigma dos investidores.

As norte-americanas ExxonMobil e Chevron experimentaram ontem duas rebeliões de acionistas descontentes com a indefinição de propostas para o futuro de baixo carbono.

Na Holanda, uma ação movida por organizações da sociedade civil conseguiu uma decisão favorável para obrigar a Shell a cortar suas emissões em 45%. A companhia vai recorrer.

As três petroleiras alegam que estão bem posicionadas e que têm metas para contribuir com a ambição de manter a temperatura do planeta abaixo de 1,5º, como previsto no Acordo de Paris.

Mas fica cada vez mais evidente que as estratégias do setor de óleo e gás estão aquém do necessário — e os acionistas estão preocupados com isso.

Uma análise do think tank Carbon Tracker alerta que as ambições net-zero de petróleo e gás não são suficientes para alcançar os objetivos globais de descarbonização até 2050.

Segundo um relatório de impacto lançado nesta quinta (27), as empresas precisam de mais do que uma meta para 2050 e reduções absolutas até 2030 serão cruciais.

“Apesar de várias afirmações de zero líquido, as metas de emissões de petróleo e gás estão longe de ser iguais. Algumas incluem um espectro completo de atividades da empresa, enquanto outras cobrem apenas uma pequena minoria das emissões do ciclo de vida relacionadas ao processo inicial de produção”, diz o relatório.

Além disso, a iniciativa vê com preocupação o fato de que as metas de descarbonização das companhias de óleo e gás estão dependentes de tecnologias ainda não comprovadas.

“Todas as dez empresas em nossa análise anunciaram planos de usar tecnologias embrionárias para reduzir as emissões, incluindo captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) e tecnologias de emissões negativas (NETs) para reduzir ou compensar as emissões”, destaca.

Principais conclusões da análise da Carbon Tracker:

  • As metas climáticas corporativas devem estar vinculadas aos limites que a transição energética impõe aos modelos de negócios atuais;

  • As metas líquidas zero não são suficientes por si mesmas — são o caminho para as emissões líquidas zero e as emissões cumulativas resultantes que importam;

  • Para vincular ao orçamento global de carbono, as metas climáticas devem incluir emissões de escopo 3 com reduções absolutas provisórias cobrindo as atividades globais das empresas em uma base de participação acionária;

  • Eni está no topo da classificação, com reduções de emissões absolutas cobrindo todas as atividades, incluindo emissões de escopo 3;

  • Total e bp também se enquadram nesta faixa, embora com deficiências nos seus objetivos, em particular a cobertura incompleta das atividades;

  • Shell, Equinor, Repsol e Occidental incluem emissões de escopo 3, mas definem metas provisórias com base na intensidade;

  • ConocoPhillips, Chevron e ExxonMobil têm apenas metas que abrangem as emissões operacionais (escopo 1 e 2);

  • A Occidental é a primeira grande empresa norte-americana a definir uma meta que cobre as emissões de escopo 3;

  • A nova meta climática da ExxonMobil cobre apenas as emissões operacionais de upstream, com uma redução de 15-20% até 2050.

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    Gás natural na transição energética do Brasil

    Para que o mundo alcance emissões líquidas zero em 2050, será preciso interromper o desenvolvimento de novas reservas de óleo e gás imediatamente, segundo o mais recente relatório da Agência Internacional de Energia.

    Mas para agentes do mercado, o gás natural ainda terá um papel crucial na transição energética brasileira e global.

    “No setor elétrico brasileiro temos uma matriz majoritariamente renovável e inserção eólica e solar crescente. Enquanto não existir uma solução viável de armazenamento de energia em grande escala, não é uma realidade expandir a matriz só a partir de renováveis”, explica Camila Schoti, gerente geral de Comercialização da Eneva.

    Camila participou na terça (25) do painel Investimentos em projeto de gás natural onshore no país, no segundo dia da Gas Week, promovida pela epbr. Assista:

    “A geração a gás natural é totalmente complementar a essas fontes. Além disso, ela é capaz de oferecer segurança para aumentar a participação das renováveis na matriz energética. E o gás natural pode deslocar térmicas a diesel e óleo combustível, que são muito poluentes”, analisa.

    A empresa desenvolveu o modelo Reservoir-to-wire (R2W) – reservatório para conectar, em tradução livre – para interiorização da oferta de energia firme, aproveitando o gás onshore e sem a dependência de uma infraestrutura de transporte de grande porte.

    No R2W, a Eneva produz gás natural na Bacia do Parnaíba, no Maranhão, e gera energia em quatro termelétricas instaladas ao lado da planta de processamento.

    E se prepara agora para levar gás natural do campo de Azulão, na Bacia do Amazonas, para a UTE Jaguatirica II, em Roraima, a 1.000 km de distância, por meio de caminhões.

    Para Renata Isfer, sócia da Petres Energia, a questão de interromper o aproveitamento dos hidrocarbonetos é saber quem irá pagar a conta de suspender a exploração e o desenvolvimento de novas reservas de petróleo e gás natural.

    “Não é tão simples assim resolver o problema. Vamos quebrar contratos, indenizar todos e deixar de perfurar poços? Se todo mundo quiser e tiver muito dinheiro para pagar por isso, chegamos a net zero em 2050”.

    Segundo Renata, é utópico acreditar que deixar de perfurar poços a partir de agora vai solucionar o problema.

    A ex-secretária de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME) reforçou que, no caso brasileiro, o mais importante agora é levar energia segura e a preços acessíveis à toda a população.

    Para isso, será necessário utilizar todos os recursos de que o país dispõe, sejam as fontes renováveis, sejam as fósseis, como o gás natural, diz.

    Curtas

    A precificação de carbono gerou US$ 53 bilhões em receitas entre 2020 e 2021, mas os esforços “não estão no caminho certo para cumprir as metas do Acordo de Paris“, afirma o Banco Mundial. Instrumentos de cobrança por precificação do carbono cobrem 20% das emissões globais de gases de efeito estufa. epbr

    O mundo precisará fazer, até 2030, um esforço sem precedentes para implantar tecnologias de energia eficiente e limpa imediatamente e de forma massiva. Esforço será necessário para zerar até 2050 as emissões globais de CO2 do setor energético. Agência FAPESP

    Após avaliar 5.300 empresas globais de capital aberto, a Moody’s ESG Solutions conclui que mais duas mil delas, ou 38%, possuem pelo menos uma instalação associada à perda de habitat. O estudo também aponta para um descompasso entre compromissos e medidas tangíveis. epbr

    Em carta enviada a Bolsonaro, caminhoneiros cobram taxação de exportações de petróleo para reduzir impostos sobre combustíveis. Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas defende medida imediata enquanto outros pleitos são analisados, como o fim da paridade de importação da Petrobras. epbr

    Há 40% de chance de que a temperatura média global seja 1,5º C mais alta do que nos tempos pré-industriais, em pelo menos um dos próximos cinco anos. “Estamos nos aproximando mensurável e inexoravelmente da meta inferior do Acordo de Paris sobre mudança climática”, alerta o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial. Bloomberg

    Klabin recebeu a aprovação da SBTi para as suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa. A companhia se compromete a reduzir as suas emissões de escopo 1 e 2 por tonelada de celulose, papéis e embalagens em 25% até 2025, e em 49% até 2035, tendo 2019 como ano-base. Broadcast

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