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Editada por André Ramalho
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Colaborou Luiz Fernando Manso
EDIÇÃO APRESENTADA POR
PIPELINE ANP espera publicar, no primeiro semestre, edital da chamada pública incremental para ampliação do Gasbol. Projeto da TBG prevê até 7 milhões de m³/dia a mais na capacidade do gasoduto.
3R e PetroReconcavo assinam contrato com Petrobras, para acesso à UTG Catu. Indústria cerâmica de SP quer substituir metade do consumo de gás por biometano. E mais. Confira:
TBG prepara ampliação do Gasbol
A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) espera lançar, no primeiro semestre, o edital da chamada pública incremental do Gasbol, projeto de ampliação em até 7 milhões de m³/dia da capacidade do gasoduto da TBG.
Distribuidoras de gás canalizado da região Sul convivem, há anos, com gargalos logísticos que as impedem de expandir o mercado e esperam, enfim, uma solução para o problema — que não será resolvido de imediato, é bom que se diga.
Caso as demandas sejam, de fato, contratadas na chamada pública, a previsão é que as obras durem cinco anos.
A TBG informou à agência epbr que o projeto original era de 4 milhões de m³/dia, mas depois de uma reavaliação do mercado, a empresa ampliou o escopo para até 7 milhões de m³/dia — uma obra estratégica para renovação das receitas da transportadora, dada a amortização do Gasbol.
Um projeto conceitual já foi elaborado, mas ainda não apresentado à ANP de forma oficial. Segundo fontes, trata-se de uma combinação de novas estações de compressão e alguns trechos de loops (seção paralela a gasodutos existentes) na faixa do Gasbol.
A maior parte da capacidade adicional (não toda ela) mira Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os dois estados mais afetados pelos gargalos logísticos do gasoduto.
As limitações do Gasbol
Os gargalos do gasoduto Bolívia-Brasil já são uma realidade. O Gasbol é telescópico, o seu diâmetro é menor ao longo da extensão. Mais de 20 anos após a construção do gasoduto, ele apresenta barreiras à expansão do mercado no Extremo Sul.
A Sulgás (RS) estimava, em 2021, antes de sua privatização, uma demanda reprimida no estado de 1,5 milhão de m³/dia somente no mercado não-termelétrico — praticamente o tamanho atual do mercado gaúcho.
A capacidade do Gasbol até o Rio Grande do Sul está limitada em 2,5 milhões m³/dia. O consumo no estado costuma bater no teto durante o inverno.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já aponta, em seus estudos, restrições, por exemplo, na operação da termelétrica Canoas (248,5 MW) a plena carga, de forma simultânea à operação do Pólo Petroquímico de Triunfo — o que leva a substituição do gás por diesel na usina.
A Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), da Petrobras, consome cerca de 600 mil m³/dia e também opera no limite. “Se uma delas [fontes de consumo] puxar mais gás, corre o risco de a outra ficar sem”, afirma o diretor de Estratégia e Mercado da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Marcelo Mendonça.
Em Santa Catarina, fontes relatam à epbr que o gargalo tem impedido a atração de investimentos na ampliação da indústria ceramista.
A TBG espera concluir em 2024 um projeto de reforço da capacidade do trecho sul, a partir da ampliação de estações de compressão — e, assim, transferir uma capacidade de saída de 680 mil m³/dia para o extremo sul do gasoduto. Mas os ganhos são marginais.
Quem são os potenciais carregadores?
A chamada incremental estava prevista para 2020. O atraso permitiu à TBG fazer uma nova consulta ao mercado, em 2022, para redimensionar a demanda dos potenciais clientes, chegando a essa sinalização superior aos 4 milhões de m³/dia considerados no projeto original.
SCGás (SC) e Sulgás (RS) são as candidatas naturais a contratar capacidade, na saída — bem como Compagas (PR) e Comgás (SP), em menor escala. Mas, com a abertura do mercado, outras candidatas despontam na entrada do sistema.
Compass. Não seria de se estranhar se a empresa do grupo Cosan buscar, no mercado da região Sul, oportunidades para comercialização de seu gás — a SCGás, aliás, negocia um contrato de suprimento com a Compass, sua sócia indireta, via Commit.
A empresa prevê inaugurar este ano o seu Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP), mas também busca oportunidades de aquisição de gás boliviano.
New Fortress Energy. A ampliação representa uma oportunidade para o gás importado pelo novo Terminal Gás Sul, em Santa Catarina. A epbr apurou que a NFE, no entanto, ainda não tem um fornecedor de molécula, às vésperas da conclusão da construção da planta.
Consumidores livres. Indústrias interessadas em instalar novas unidades ou ampliar fábricas existentes, no Sul, também são potenciais carregadores, no mercado livre. Destaque, por exemplo, para o setor ceramista em Santa Catarina e o petroquímico no Rio Grande do Sul.
Pré-sal. Como o Gasbol está interconectado à malha da Nova Transportadora do Sudeste (NTS), a ampliação do gasoduto binacional é uma oportunidade também para os novos fornecedores — sobretudo os produtores do pré-sal — chegarem ao mercado do Extremo Sul. A Galp, por exemplo, já tem contrato de longo prazo, até 2032, com a SCGás.
Fora isso, a ampliação do Gasbol abre possibilidades para contratação de novas termelétricas a gás no Sul, a partir do gás nacional.
E também para o biometano — já que a região tem um potencial grande nessa área. Nesse caso, há a expectativa de um projeto de gasoduto que corte o interior do Paraná e Santa Catarina, para capturar a produção do gás renovável do setor agropecuário. Algo parecido com o antigo projeto do gasoduto Chimarrão, que nunca saiu do papel.
Um gasoduto cada vez menos Bolívia-Brasil
A ampliação do Gasbol chega em um momento de incertezas sobre a capacidade boliviana de entrega do gás para o mercado brasileiro. Há controvérsias entre agentes sobre o ritmo do declínio na produção e promessas da YPFB de ampliação dos investimentos nos campos.
Há pouquíssimo tempo, faltou gás: a Bolívia decidiu reduzir os despachos para o Brasil, em negociações para ampliar os volumes enviados à Argentina.
Foram decisões tomadas em um momento de distanciamento das relações brasileiras com vizinhos, mas a reaproximação após a eleição de Lula (PT) não resolve, de imediato, os gargalos de infraestrutura na Argentina — que precisa de gás para atravessar o inverno.
Cobrimos por aqui:
- Bolívia deve passar a importar gás natural, projeta Wood Mackenzie
- Bolívia busca mais gás após conversas entre Brasil e Argentina
- Bolsonaro põe em xeque papel da Petrobras, após corte de gás da Bolívia
Então vamos de pré-sal
A EPE destaca, nos estudos preparatórios do Plano Decenal de Expansão (PDE) 2032, que o Sudeste (leia-se pré-sal) deve se consolidar como fonte de gás para o Sul.
A NTS, por exemplo, tem um projeto, batizado de “Corredor Pré-Sal”, que prevê aumentar em 24 milhões de m³/dia a oferta de gás do Rio até São Paulo — e que permitirá aumentar o transporte do gás do pré-sal para a região.
- Para aprofundar: Afinal, integração Brasil-Argentina no gás faz sentido?
O gás argentino, se um dia o projeto de integração entre o Brasil e o país vizinho sair do papel, também pode se beneficiar da ampliação do Gasbol — já que o gasoduto, se invertido o seu fluxo, poderia escoar o gás de Vaca Muerta à malha nacional.
GÁS NA SEMANA
ANP espera retomar, em abril, chamada pública do Gasig. Contratação da capacidade do gasoduto Itaboraí-Guapimirim foi interrompida em 2022. O cronograma foi impactado pelo atraso da UPGN do Polo Gaslub — postergada pela Petrobras para 2024.
3R e PetroReconcavo assinam contrato para acesso à UTG Catu. Acordo com a Petrobras permite o acesso das produtoras independentes às infraestruturas de escoamento e processamento do ativo. PetroReconcavo também fechou contrato com a Petrobras para venda de Líquidos de Gás Natural (LGN) até junho de 2024.
Suspensão de venda de ativos da Petrobras pode afetar contratos de US$ 2 bilhões. Pausa de 90 dias nos desinvestimentos, solicitada pelo governo, inclui cinco negócios já assinados e que aguardam um desfecho. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que a pausa é uma oportunidade para que a empresa “reveja alguns conceitos”.
Um dos negócios em xeque é o Polo Bahia Terra, que abriga a UTG Catu e está em negociação com a PetroReconcavo/Eneva, mas ainda não teve contrato assinado.
Oposição quer controle do Senado sobre empréstimos do BNDES. Após o presidente Lula declarar intenção de financiar o gasoduto de Vaca Muerta, na Argentina, ao menos quatro projetos foram apresentados na casa sobre o assunto. Incluem desde propostas para que os empréstimos do banco no exterior passem pelo aval prévio do Senado a medidas mais duras, para proibir o BNDES de financiar projetos em outros países.
Indústria cerâmica busca biometano para se proteger de preços do petróleo. O setor cerâmico de São Paulo planeja substituir 50% da demanda de gás natural por biometano até 2030. É uma estratégia para reduzir emissões e proteger-se da volatilidade dos preços do petróleo — atualmente o principal indexador dos preços do gás natural vendido pela Petrobras e demais supridores no Brasil para as distribuidoras e indústrias.