Petróleo e Gás

Vai faltar petróleo no mundo? Consultorias minimizam alertas sobre subinvestimento no setor

Para Wood Mackenzie, pico da demanda será atendido sem aumento substancial no investimento; Rystad vê ganhos de eficiência

Mundo vai passar por falta de petróleo? E os alertas de subinvestimento no O&G. Na imagem: Cavalos-de-pau para exploração onshore de petróleo e turbina eólica (Foto: Wiki Commons)
Cavalos-de-pau para exploração onshore de petróleo associada a geração eólica (Foto: Wiki Commons)

RIO – Apesar das preocupações com o subinvestimento em exploração e produção, o pico da demanda de óleo e gás poderá ser atendido, na década de 2030, sem a necessidade de um aumento substancial nos níveis atuais de investimentos da indústria petrolífera – da ordem de US$ 500 bilhões por ano, de acordo com um novo relatório da Wood Mackenzie.

Os gastos atuais em exploração e produção representam um pouco mais da metade do pico de US$ 914 bilhões de 2014 – uma diferença que, segundo a consultoria, tem alimentado uma crença generalizada de que o setor está investindo pouco e que uma crise de oferta é inevitável, mais cedo ou mais tarde.

A Wood Mackenzie estima que a demanda por petróleo voltará aos níveis pré-pandêmicos em 2023, mas que, a partir de 2024, o crescimento do consumo global vai desacelerar até atingir o pico de 108 milhões de barris/dia no início dos anos 2030, no cenário-base.

De acordo com a consultoria, níveis de investimentos não muito superiores aos patamares atuais podem fornecer o suprimento necessário para atender à demanda até seu pico e além, devido a três razões principais:

  • o desenvolvimento de gigantescas reservas de baixo custo
  • a implacável disciplina de capital das petroleiras
  • e uma melhoria transformacional na eficiência do investimento

O peso da eficiência

Nesse sentido, a Wood Mackenzie destaca que a adversidade foi o principal catalisador para uma mudança estrutural na eficiência da indústria de bens e serviços.

Os choques de preços de 2015-2016 e 2020-2021 forçaram o setor a se tornar muito mais disciplinado com seu capital.

“Os custos convencionais de desenvolvimento de unidades novas foram reduzidos em 60% em termos de 2023”, cita o chefe de análise de exploração e produção da Wood Mackenzie, Fraser McKay. “E os poços de petróleo dos EUA geram quase três vezes mais produção hoje para a mesma unidade de capital do que em 2014. Nova tecnologia, eficiência de capital e modularização foram alavancadas com um efeito poderoso”, complementa.

Na avaliação da consultoria, a maior parte do investimento da indústria de óleo e gás para o restante desta década terá como alvo recursos privilegiados: aqueles com custos menores, bem como menores emissões e menores riscos.

A análise da Wood Mackenzie vem em linha com um estudo recente da Rystad Energy, outra consultoria global da indústria de óleo e gás, que vê exagero nos alertas sobre o subinvestimento crônico na indústria de óleo e gás e riscos de escassez de oferta a curto prazo.

A Rystad destaca que essa preocupação ignora os ganhos de eficiência do mercado na última década: preços unitários mais baixos, ganhos de produtividade, além de estratégias de portfólio em evolução, aumentaram significativamente a eficiência da indústria.

Em outras palavras: a indústria pode fazer o mesmo que antes, mas com um custo muito menor, na visão da consultoria.

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A indústria se ajusta

A Wood Mackenzie, no entanto, pontua que existem cenários alternativos de demanda, cada um com implicações muito diferentes para futuros investimentos.

Mesmo numa perspectiva de transição energética acelerada, por exemplo, ainda serão necessários investimentos de US$ 400 bilhões por ano na década de 2020 e quase US$ 250 bilhões por ano na década de 2030.

A consultoria considera, no entanto, improvável que os desequilíbrios sustentados de investimento persistam.

“As incertezas da transição energética adicionam uma nova camada de complexidade e risco para os investidores em exploração e produção. Mas o mercado de petróleo é literal e metaforicamente líquido. Sinais de preços, taxas de reinvestimento e as ações da Opep+ [Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados] eventualmente trazem demanda e oferta de volta ao equilíbrio”, conclui a Wood Mackenzie.