Gás Natural

Unigel estende manutenção em fábrica de Sergipe durante negociação por preços do gás

“Enquanto estivermos no processo de negociação, está descartada a hibernação das plantas", afirma diretor

Unigel amplia projeto de hidrogênio verde na Bahia e prevê US$ 1,5 bi até 2027. Na imagem: Instalações da unidade da Unigel em Camaçari (Foto: Divulgação)
Unidade da Unigel em Camaçari (Foto: Divulgação)

RIO – A Unigel reduziu o ritmo da manutenção da planta de fertilizantes de Sergipe, que está com as operações suspensas, enquanto negocia com o mercado supridor uma redução do preço do gás natural.

Segundo o diretor executivo de compras da Unigel, Luiz Antônio Nitschke, ainda é “prematuro” falar em hibernação das unidades em Sergipe e na Bahia.

“Enquanto estivermos no processo de negociação, está descartada a hibernação das plantas. A planta de Sergipe está parada por manutenção, estamos fazendo isso de forma lenta, até para economizar, mas a hora que tiver o gás competitivo, voltamos”, disse hoje a jornalistas no Seminário de Gás Natural do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) no Rio.

A negociação envolve a Petrobras, principal fornecedora de gás natural dos projetos. As fábricas também são da companhia, arrendadas para a Unigel, durante o governo Bolsonaro. A Petrobras tinha planos, na gestão passada, de deixar o segmento.

Uma das soluções defendidas pelo executivo da Unigel é que as transportadoras e distribuidoras de gás possam ter maior flexibilidade para negociar as tarifas.

Unigel produz fertilizantes em Sergipe e na Bahia

De acordo com Nitschke, a Unigel está buscando as condições para que a planta volte a operar plenamente “o mais breve possível”.

Em nota enviada à epbr ontem (10/5), a companhia já havia confirmado que “houve uma diminuição na produção de amônia e ureia na divisão Agro, uma vez que a unidade de Laranjeiras (SE) está temporariamente suspensa para manutenção preventiva”.

Na Bahia, a planta de Camaçari (BA), “encontra-se em operação, dentro dos padrões usuais de taxa de utilização da capacidade instalada”.

A produção nacional de fertilizantes é prioritária para o governo federal. No Ministério de Minas e Energia (MME), no entanto, é desenvolvido um programa estruturante de oferta de gás natural, com efeitos de longo prazo. Trabalho envolve Indústria e Comércio (MDIC) e Casa Civil.

Descompasso no mercado global

A Unigel passou a ter prejuízo nas operações depois da queda do preço da ureia no mercado internacional. Os preços do gás natural não acompanharam a queda dos fertilizantes.

O descompasso foi provocado pela sucessão de choques de 2022, o pós-covid e a invasão russa na Ucrânia. No período de forte pressão inflacionária, as margens dos produtores de nitrogenados foram sustentadas em patamares elevados mesmo com o gás mais caro.

“Temos uma indústria estratégica para o país e que está passando por um momento em que é inviável seguir produzindo e operando com prejuízo. Precisamos encontrar soluções para toda a cadeia”, complementou o executivo.

Nitschke afirmou que as condições de competição no mercado brasileiro são desafiadoras, dado que o país importa de países que oferecem melhores condições de preços devido a sanções internacionais, como o Irã e a Venezuela.

“Precisamos andar de acordo com as condições do mercado. O preço do gás caiu, mas não na mesma proporção que o da ureia caiu”, ressaltou o executivo.

Flexibilidade na negociação de tarifas para grandes consumidores

Uma das soluções defendidas pelo executivo da Unigel é que as transportadoras e distribuidoras de gás possam ter maior flexibilidade para negociar as tarifas.

Segundo o executivo, a companhia já levou esse pleito à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

“Não adianta ter um transporte muito barato e uma molécula muito cara, não adianta ter uma molécula muito barata e um transporte caro. Precisamos de competitividade em toda a cadeia. Hoje, ele [o mercado] já nasce com dificuldade na molécula e sofre o ônus do transporte caro”, disse.

O preço do gás natural é negociado entre Petrobras, demais supridores e clientes, no mercado cativo (distribuidoras) e livre. Na Bahia, a Unigel tem contrato com a Petrorecôncavo, por exemplo.

As tarifas são reguladas pela ANP (transporte) e governos estaduais (distribuidoras), e refletem também o câmbio, em reajustes que levam em conta o IGP–M, mais exposto ao dólar que o IPCA.

Nitschke defendeu também que consumidores que demandam volumes maiores possam ter condições diferentes nas negociações com fornecedores e transportadores.

Hoje, a Unigel tem contratos com cinco fornecedores para o suprimento das duas plantas no Nordeste, com capacidade para produção de 1 milhão de toneladas de ureia. As plantas consomem 3 milhões de metros cúbicos por dia.

Interesse por fábrica incompleta em Três Lagoas (MS)

O diretor da Unigel disse ainda que a companhia ainda tem interesse numa eventual compra da unidade de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas (MS), mas disse que a empresa não vai tomar uma decisão enquanto as condições de compra de gás natural estiverem desfavoráveis.

“Manifestamos o interresse num momento diferente. Se houver um gás competitivo, a Unigel tem capacidade de finalizar a construção e botar a planta para operar. Neste momento, com uma situação desfavorável, não vamos dar nenhum passo nessa direção”, disse.

A Petrobras interrompeu os desinvestimentos e está reavaliando a saída do setor de fertilizantes.

A respeito da possibilidade de retorno da estatal a esse segmento, Nitschke afirmou que toda competição “é bem-vinda”, com a ressalva que é necessário que a negociação do preço do gás seja competitiva para todos os agentes.

“O  Brasil importa 7 milhões de toneladas de ureia por ano. Tem potencial para vir muita gente”, afirmou.

Segundo ele, caso o país substituísse toda a importação de ureia por produção interna, essa indústria teria um consumo adicional de 18 milhões de metros cúbicos de gás por dia.

Veja as entrevistas do estudio epbr no Seminário de Gás do IBP