Agendas da COP

Últimos oito anos foram os mais quentes já registrados, alerta ONU

COP27 inicia uma 'nova era para fazer as coisas de maneira diferente', declara chefe de mudança climática da ONU

Últimos oito anos foram os mais quentes já registrados, mostra relatório da Organização Meteorológica Mundial da ONU (OMM). Na imagem: Simon Stiell, chefe da UNFCCC, falando na abertura oficial da COP27 (Foto: Momoko Sato/UNIC Tóquio)
Simon Stiell, chefe da UNFCCC, falando na abertura oficial da COP27 (Foto: Momoko Sato/UNIC Tóquio)

BRASÍLIA — Relatório da Organização Meteorológica Mundial da ONU (OMM) divulgado no domingo (6/10) mostra que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados, alimentados por concentrações cada vez maiores de gases de efeito estufa.

De acordo com o estudo provisório do Estado do Clima Global de 2022, os sinais de emergência climática são “cada vez mais dramáticos”: a taxa de aumento do nível do mar dobrou desde 1993 para um novo recorde este ano; enquanto as geleiras dos Alpes europeus derretem a uma velocidade sem precedentes.

O relatório completo de 2022 deve ser divulgado apenas em 2023, mas o levantamento provisório foi apresentado antes da COP27, a conferência climática da ONU, para dar dimensão da escala dos problemas que os líderes mundiais devem enfrentar.

“Quanto maior o aquecimento, piores os impactos”, disse o chefe da OMM, Petter Taalas, durante o lançamento do documento em Sharm El-Sheikh, no Egito, sede da conferência deste ano.

“Temos níveis tão altos de dióxido de carbono na atmosfera agora que os 1,5ºC do Acordo de Paris mal estão ao alcance. Já é tarde demais para muitas geleiras e o derretimento continuará por centenas, senão milhares de anos, com grandes implicações para a segurança da água”.

Eventos extremos

Em um cenário de níveis recordes de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso — os três principais gases de efeito estufa (GEE) que contribuem para o aquecimento global — o documento estima um aumento de cerca de 1,15°C acima dos níveis pré-industriais este ano, com impactos já evidentes.

Ao longo dos Alpes, foi registrada uma perda média de espessura no gelo entre três e quatro metros, enquanto na Suíça, toda a neve derreteu durante a temporada de verão.

Essa foi a primeira vez na história registrada, desde o início do século, que o volume de gelo das geleiras no país caiu mais de um terço.

O crescente derretimento do gelo em todo o mundo levou ao aumento do nível do mar nos últimos 30 anos. Segundo a OMM, a taxa de aquecimento dos oceanos foi excepcionalmente alta nas últimas duas décadas e as ondas de calor marinhas estão se tornando mais frequentes.

Enquanto isso, Quênia, Somália e Etiópia enfrentam quebra de safra e insegurança alimentar, por causa de outra temporada de chuvas abaixo da média. Outro evento extremo de destaque foi a inundação de mais de um terço do Paquistão em julho e agosto, como resultado de chuvas recordes. Quase oito milhões de pessoas precisaram ser deslocadas.

Entre as regiões que menos contribuem para as emissões de GEE e são as mais afetadas, a África Austral — formada por África do Sul, Angola, Botswana, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícia e Moçambique — foi atingida por uma série de ciclones ao longo de dois meses no início do ano.

Madagascar foi o país mais fortemente atingido pelas chuvas torrenciais e inundações.

No continente americano, o furacão Ian causou grandes danos e perda de vidas em Cuba e no sudoeste da Flórida, nos EUA, no mês de setembro.

Já na Europa, foram os episódios de calor extremo que deram o tom do que está por vir. O Reino Unido, por exemplo, registrou um novo recorde em 19 de julho, quando a temperatura ultrapassou os 40°C. Isso foi acompanhado por uma seca e incêndios florestais persistentes.

‘Nova era para fazer as coisas diferente’

Foi neste cenário que a COP27 começou neste domingo, no Egito. A missão do encontro é chegar a acordos multilaterais capazes de colocar o mundo no caminho de emissões líquidas zero até meados do século e conseguir limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até 2100.

“Hoje começa uma nova era – e começamos a fazer as coisas de forma diferente. Paris deu-nos o acordo. Katowice e Glasgow nos deram o plano. Sharm el-Sheik nos desloca para a implementação”, disse Simon Stiell, o novo secretário executivo da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC), na abertura da conferência.

O chefe do clima da ONU disse que os líderes — sejam eles presidentes, primeiros-ministros ou CEOs — serão responsabilizados por promessas feitas no ano passado em Glasgow.

“Porque nossas políticas, nossos negócios, nossa infraestrutura, nossas ações, sejam elas pessoais ou públicas, devem estar alinhadas com o Acordo de Paris e com a Convenção [Clima da ONU]”, ressaltou.

A convenção da UNFCCC entrou em vigor em 21 de março de 1994 para evitar interferência humana “perigosa” no sistema climático. Hoje, ratificado por 198 países, tem adesão quase universal. O Acordo de Paris, acordado em 2016, funciona como uma extensão dessa convenção.

Falta consenso sobre perdas e danos

Domingo foi dia de definir os itens da agenda que serão discutidos nas próximas duas semanas na COP27.

‘Perdas e danos’, um item ainda incerto antes da conferência, entrou na agenda depois de ser apresentado por negociadores do Grupo dos 77 e China (que inclui essencialmente todas as nações em desenvolvimento).

O acordo define 2024 como prazo para entregar um plano — um limite muito lento para alguns negociadores.

Como a intensificação desses “desastres naturais” está sendo causada pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa, principalmente de países ricos industrializados, os países pobres e emergentes — muitas vezes os mais afetados — argumentam que deveriam receber compensação.

A questão desses pagamentos, conhecidos como “perdas e danos”, agora será um dos principais tópicos de discussão na COP27.

agência epbr irá cobrir a COP27 entre os dias 7 e 18 de novembro, com transmissões ao vivo, de segunda a sexta, sempre às 14h 

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