Reunindo mais de 40 líderes mundiais, o The One Ocean Summit — primeira cúpula global de alto nível dedicada à proteção dos oceanos — terminou na última sexta (11/2) com compromissos para combater a pesca ilegal, descarbonizar o transporte marítimo e reduzir a poluição plástica nos oceanos.
Mais de 100 países assinaram o Compromisso Brest para os Oceanos, que traz alguns acordos na área de transporte marítimo:
- 22 armadores europeus se comprometeram com o novo rótulo Green Marine Europe, que envolve medidas de redução de ruído subaquático e emissões de gases de efeito estufa, de descarga de óleo e de reciclagem de navios.
- 35 atores, incluindo 18 grandes portos europeus e globais, se comprometeram a acelerar o fornecimento de eletricidade aos navios atracados para limitar as emissões de gases de efeito estufa e reduzir a poluição atmosférica em cidades portuárias muitas vezes densas.
- Todos os países mediterrânicos, juntamente com a União Europeia, se comprometeram a pedir à Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) que crie uma zona de baixas emissões de enxofre em todo o Mediterrâneo a partir de 1 de janeiro de 2025.
O evento, que aconteceu por três dias em Brest, na França, é o ponto de partida de uma série de encontros internacionais este ano onde os oceanos serão o tema central, incluindo a Conferência dos Oceanos da ONU em Lisboa, em junho, e a COP27 no Egito, em novembro.
Segundo o presidente francês Emmanuel Macron, organizador do encontro, o ano de 2022 será decisivo.
“Em Brest hoje, precisamos nos comprometer e fazer promessas firmes e claras”, disse aos convidados.
Na quinta (10/2), Macron anunciou a expansão da termeletricidade nuclear no país como estratégia para atingir a neutralidade de carbono em 2050.
Mercado de carbono azul
Na cúpula, o presidente francês também destacou a importância dos oceanos na captura de carbono e lançou uma coalizão para desenvolver o mercado de carbono azul, ao lado da Costa Rica e da Colômbia, e de instituições financeiras como HSBC e Bank of America.
“Preservar a vegetação subaquática é uma das soluções concretas para o aquecimento global. Hoje estamos lançando uma coalizão pelo carbono azul, para identificar e financiar ações em prol da nossa biodiversidade”, disse.
A ideia da coalizão é reunir projetos de carbono azul e acelerar o financiamento climático que apoie a biodiversidade.
“Planejamos alcançar mais parceiros nas próximas semanas. Essa parceria vai alinhar investidores e implementadores em torno de princípios e prioridades compartilhados”, afirmou M. Sanjayan, CEO da Conservation International — entidade que também integra a coalizão.
EUA querem corredores verdes para navios
O conselheiro para o clima dos Estados Unidos, John Kerry, defendeu a adoção de combustíveis sustentáveis e a criação de corredores verdes para a descarbonização do transporte marítimo.
“Soluções baseadas no oceano são essenciais para o esforço climático. Devemos impulsionar imediatamente para descarbonização do transporte marítimo, por exemplo”, disse Kerry, no último dia da cúpula.
“Nos EUA, estamos traçando um caminho para estabelecer e avançar corredores verdes de transporte marítimo, no mercado interno e em todo o mundo. Nossa visão de corredores de transporte verdes será realizada por meio da rápida adoção de combustíveis e tecnologias de emissão zero em todo o setor marítimo”, explicou o conselheiro da Casa Branca.
O presidente do Egito, Abdel Fattah Al-Sisi, destacou os esforços do país para descarbonizar a frota marítima por meio do hidrogênio verde, ressaltando a relevância do Canal de Suez para o setor — por onde passa cerca de 14% do comércio global.
“O Egito também está tomando medidas vigorosas para se transformar em um centro de energia renovável e está trabalhando para expandir a produção de hidrogênio verde. Esses esforços representam uma oportunidade real para reduzir o volume de emissões do setor de transporte marítimo”, disse Al-Sisi.
Transporte marítimo no mercado europeu de carbono
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia lembrou que a Comissão planeja incluir o transporte marítimo no mercado europeu de carbono, criando um sinal de preço para impulsionar a descarbonização.
Além disso, ela afirmou que pretende introduzir uma norma para os combustíveis marítimos que limita a intensidade dos gases com efeito de estufa, e implementar o Regulamento das Infraestruturas de Combustíveis Alternativos para fornecer infraestruturas de energia de baixo carbono adequadas nos portos.
“O oceano é vida, é alimento, energia e empregos, 90% dos bens comercializados são transportados pelas ondas”, ressaltou Ursula.
Segundo a presidente, a missão no Mediterrâneo é prevenir e eliminar a poluição, em particular a poluição plástica, por nutrientes e química.
No Báltico e no Mar do Norte, o propósito é descarbonizar o transporte marítimo e eletrificar os portos.
Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para a urgência na implantação de energia renovável offshore, que pode fornecer energia limpa e emprego.
“Precisamos reduzir o uso de combustíveis fósseis na economia oceânica. Com cerca de 90% do comércio mundial transportado por via marítima, o setor de transporte marítimo responde por quase 3% das emissões globais de gases de efeito estufa”, disse.
Inovação a hidrogênio verde
Grandes empresas de navegação, como Maersk, CMA CGM e Hapag-Lloyd — que respondem por quase 55% do frete marítimo mundial — também participaram do evento.
O destaque ficou para o lançamento do projeto francês Energy Observer, que desenvolveu um navio de carga multiuso alimentado por hidrogênio verde, o que permite a navegação com emissão zero, com alta autonomia.
Os principais parceiros da iniciativa são as também francesas Air Liquide, líder mundial na produção do hidrogênio líquido, e a transportadora marítima CMA CGM.
Segundo o Energy Observer, o conceito do navio foi estabelecido de acordo com a necessidade urgente de renovar as frotas de navios de carga polivalentes de cerca de cinco mil toneladas de porte bruto — que representam 37% da frota mundial.
“Com este navio de demonstração, queremos ir até o fim na descarbonização de navios industriais de médio porte, usando hidrogênio diretamente como combustível”, comentou Victorien Erussard, presidente e fundador da Energy Observer.
Para Matthieu Giard, membro do Comitê Executivo responsável pelas atividades de hidrogênio da Air Liquide, o hidrogênio líquido desempenhará um papel importante na descarbonização do transporte marítimo.
“Esse projeto abre perspectivas importantes ao tocar no setor de transporte pesado, para o qual o hidrogênio é particularmente relevante”, disse.
“Esta nova etapa na parceria estratégica entre Energy Observer e CMA CGM Group marca a aceleração de nosso compromisso comum com o surgimento de protótipos para soluções de baixo carbono”, destacou Christine Cabau, vice-presidente executiva de ativos e operações da CMA CGM.