RIO — A Transpetro vai voltar a construir navios no país e espera entregar a primeira embarcação até o fim do atual governo, anunciou o novo presidente da subsidiária da Petrobras, Sérgio Bacci, na primeira entrevista coletiva depois de assumir o cargo.
A companhia criou um grupo de trabalho com duração de 60 dias para avaliar o tamanho da demanda de navios da Petrobras, o custo e os estaleiros disponíveis.
Bacci teve reuniões em Brasília no início da semana com o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria Geral da União (CGU) para avaliar a situação de estaleiros que estiveram envolvidos nos casos investigados na operação Lava Jato e a possibilidade de que esses grupos voltem a participar de licitações.
Os encontros em Brasília incluíram também conversas sobre a adoção de um modelo de licitações simplificado, a exemplo do adotado pela Marinha para a contratação de corvetas nos últimos anos. “O Brasil tem pressa, precisamos gerar empregos”, disse Bacci.
A privatização da Transpetro chegou a ser ventilada durante durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), sem avançar.
O executivo ainda não se encontrou com o presidente Lula. Ele disse, no entanto, que a construção naval foi tema da primeira reunião que teve com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT), que também está em diálogo com a Casa Civil, de Rui Costa (PT).
Bacci destacou ainda que a construção nacional deve ter influência direta nos preços pagos pela Petrobras aos navios afretados, pois dará à companhia condições melhores de negociação.
Frota verde de navios para o óleo e gás
O executivo ressaltou, entretanto, que a contratação nacional não ocorrerá a “qualquer preço ou prazo”.
A intenção é criar uma “frota verde” e que os navios a serem construídos vão ter tecnologias de reduções de emissões de carbono.
A ideia é que os novos projetos sejam financiados pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM), por isso, o BNDES deve participar das discussões do grupo de trabalho.
Reforçou assim as linhas gerais apresentadas pelo BNDES em audiência na Câmara dos Deputados, sobre o uso de critérios ambientais para financiar embarcações para óleo e gás.
Não há previsão, no entanto, de retornar com o antigo Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef). “Aquilo ocorreu em um contexto histórico e agora estamos em outro”, disse.
O novo programa de construção naval deve ter como foco a continuidade. “A indústria naval brasileira só vai se consolidar se houver demanda a longo prazo”, afirmou.
A expectativa é que a construção naval entre no programa de obras prioritárias de infraestrutura a ser anunciado pelo governo.
Conteúdo local em discussão com CNPE
O presidente da Transpetro confirmou que o aumento das obrigações de contratação nacional estará na pauta do governo.
Ele ressaltou que o assunto deve ser tratado dentro do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), mas disse ser a favor da adoção de diferentes índices mínimos para cada tipo de navio, com um aumento gradual das exigências de contratação nacional ao longo dos anos.
A Transpetro detém e contrata frotas de movimentação de petróleo e derivados. É o braço logístico da Petrobras, o que também envolve terminais e dutos.
Novos clientes e 26 navios na frota
O presidente ressaltou que a estatal seguirá sendo a principal cliente, mas apontou que o aumento da frota pode criar oportunidades de disponibilizar embarcações também para terceiros. “Temos várias operadoras no Brasil que precisam de navios”, disse.
Hoje, a Transpetro opera 26 navios próprios, com uma idade média de oito anos. Bacci apontou que o tamanho da frota da empresa caiu nos últimos anos, apesar do aumento na produção de petróleo do país.
Além disso, destacou que as embarcações próprias da companhia atualmente foram construídas dentro do Promef.
A companhia opera ainda 10 navios aliviadores afretados. Ao comentar o tema, Bacci indicou que esse pode ser um dos focos da retomada da construção nacional.
O executivo ressaltou a importância de construir aliviadores de bandeira nacional, para evitar que possíveis questões geopolíticas venham a afetar o descarregamento de petróleo.
“É de suma importância termos os próprios navios aliviadores, para que mesmo em um eventual problema possamos atender a nossa controladora”, disse.
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Novos concursos
Com a perspectiva de privatização descartada, a Transpetro deve lançar novos concursos para contratação de funcionários.
De acordo com o presidente, a expectativa é publicar os editais ainda este ano. A intenção é também ampliar a diversidade na empresa e aumentar o número de mulheres em cargos de gestão.
Nesse contexto, Bacci disse ainda que a empresa vai trabalhar em sugestões para colaborar com a Petrobras no combate a casos de assédio sexual.