Transocean salva Ocean Rig de um lento descarrilamento, por David Carter Shinn

Ocean Rig monetiza sua frota, enquanto Transocean fica maior. As duas partes podem chamar o negócio de uma vitória.

Transocean salva Ocean Rig de um lento descarrilamento, por David Carter Shinn
Tradução de Transocean saves Ocean Rig from slow-moving train wreck, publicado originalmente na Bassoe Offshore

O que acabou de acontecer?
Transocean anunciou na terça-feira (4/9) a aquisição de Ocean Rig por US$ 2,7 bilhões, envolvendo pagamento em espécie e troca de ações.

Como resultado do negócio, a Ocean Rig encontrou uma solução para o seu futuro incerto e a Transocean ganhou uma frota de sondas de águas ultraprofundas, além de uma (ou duas, se eles tiverem sorte) semissubmersíveis para ambientes adversos a preços dignos.

Ocean Rig precisava que algo acontecesse
A Ocean Rig tem sido um caso interessante entre os atribulados proprietários de sondas de águas profundas. Em março do ano passado, a empresa pediu proteção contra falência e, posteriormente, reestruturou-se como uma fornecedora de sondas de baixo custos, realisticamente avaliada e desalavancada.

Desde então, a Ocena Rig tem feito pouco progresso na construção de uma carteira de pedidos [backlog].

De suas onze sondas, apenas três estão operando.  A Ocean Rig Skyros, de perfuração em águas ultraprofundas, é a única em um contrato de longo prazo, com a Total, na Angola, por US$ 573 mil por dia (uma taxa que você não verá de novo por um tempo).  O contrato foi concedido anos atrás e dura até julho de 2021.

Pós-reestruturação, os novos contratos fechados pela Ocean Rig foram poucos e espaçados entre si. Atualmente, sete de seus navios-sonda de águas ultraprofundas estão parados, sem contratos futuros.

Eles também têm a sonda Eirik Raude em hibernação [cold stacked]. É uma semissubmersível para ambientes adversos de 2002, que está na Grécia. O plano de arrecadar dinheiro para atualizar a sonda (salvando-a do sucateamento), por mais de US$ 100 milhões, falhou em junho.

Contudo, há algo de positivo. O navio-sonda Ocean Rig Poseidon viu pingar alguns contratos novos de curto prazo no Oeste da África (incluindo uma carta de intenção com uma petroleira europeia não divulgada).

E eles se deram bem com Leiv Eiriksson. A Lundin, na Noruega, ampliou seu contrato de perfuração até o fim de 2018 e novas extensões são prováveis. Depois disso, a sonda vai operar para ConocoPhillips, por meio de Contrato Geral de Serviços de três anos, fechado em 2019, que é suscetível de extensão para além da ordem de perfuração inicial de 90 dias, que eles têm garantida até agora.

Isso ainda deixa oito plataformas sem compromissos futuros. Isso sem mencionar os dois navios-sonda em construção, Ocean Rig Santorini e Ocean Rig Creta, programados para entrega em 2019 e 2020.

A Ocean Rig não estava atuando o suficiente no lado operacional.  Proprietários de sondas maiores e mais bem estabelecidos, como Transocean, Ensco, Diamond e Rowan estavam passos à frente no mercado de águas profundas, com grande competitividade e baixas taxas diárias. Em outras palavras, algo ou alguém precisava resgatar a Ocean Rig.

Escolha inteligente da Ocean Rig
Com certeza, um vencedor em todo este negócio é o fundador da Ocean Rig e seu maior acionista, George Economou, que tem habilmente manobrado através de altos e baixos, saindo-se cada vez melhor.

O restante dos acionistas da Ocean Rig receberá algum dinheiro junto com ações da maior empresa de sondas flutuantes do mundo.  As conexões e o histórico da Transocean com petroleiras, seu alcance global e a experiência com reativação de sondas devem permitir que a frota majoritariamente ociosa da Ocean Rig torne-se competitiva novamente.

Boa opção para a Transocean
Após a aquisição da Songa e os investimento na Transocean Norge (anteriormente chamada West Rigel), era sabido que a Transocean estava à procura de uma outra oportunidade para aumentar a sua frota.

A Ocean Rig dá para a Transocean uma boa sonda na Noruega, com um contrato de perfuração de longo prazo, com taxas diárias de outrora, e um monte de navios-sonda com os quais ela pode trabalhar. Paralelamente, a Transocean progride na sua consolidação no mercado de águas ultraprofundas e retira um potencial ofertante de baixas taxas diárias. Tudo isso a um preço razoável.

Se olharmos para a frota de onze sondas da Ocean Rig, mais as duas sondas em construção, o valor de US$ 2,7 bilhões faz sentido.

Os valores de sondas offshore do Bassoe Analytics demonstram um valor total, sem contratos de afretamento, de US$ 2,5 bilhões a US$ 2,75 bilhões para a frota da Ocean Rig (presumindo um valor corrente de US$ 295 milhões a US$ 330 milhões para as duas sondas em construção no Samsung Heavy Industries).

Adicionando um valor presente estimado de US$ 450 milhões para a contratos em carteira [backlog] da Ocean Rig, no valor de US$ 743 milhões; e presumindo uma alocação de capital de US$ 500 milhões para a Ocean Rig Crete, restos a pagar e custos de equipamentos para as duas sondas em construção, chegamos a um valor de US$ 2,45 bilhões a US$ 2,7 bilhões, ante os US$ 2,7 bilhões pagos pela Transocean.

Dados do Bassoe Analytics

Algumas questões ainda não respondidas
Adiante, será interessante ver se a Transocean decide atualizar e reativar a sonda Eirik Raude para operar no Mar do Norte.  Em um mercado demandante de novas sondas, a Eirik Raude será colocada como uma alternativa mais barata frente a uma semissubmersível recém construída?

A próxima pergunta é: a Transocean vai sucatear algum dos navios-sonda em hibernação? Como a Transocean mencionou em seu comunicado, eles vão rever e reclassificar sua rota após a conclusão da transação. Isto pode levar a uma maior aposentadoria de sondas consideradas menos competitivas.

Com o preço médio que a Transocean está pagando pelos navios-sonda da Ocean Rig e a expectativa de aumento dos valores das sondas nos próximos anos, eles podem se contentar em sucatear uma ou duas sondas para reduzir o excesso de oferta, sem afetar a qualidade do negócio.


David Carter Shinn é sócio e chefe do Bassoe Analytics, na Bassoe Offshore