Petróleo e Gás

Transição desordenada pode atrasar em sete anos metas de emissões líquidas zero

Pesquisa com executivos dos setores de energia e recursos naturais aponta que maioria não acredita em net zero antes de 2057

Transição desordenada pode atrasar em sete anos metas de emissões líquidas zero
Executivos ainda estão em busca de modelos de negócios para seus novos empreendimentos que possam entregar resultados (Foto: S. Hermann/Pixabay)

RECIFE — Uma pesquisa da Bain & Company publicada na quarta (27/7) com 1.000 executivos dos setores de energia e recursos naturais identificou que a maioria espera reduzir as suas emissões de carbono em 28% até 2030, mas não acredita que o mundo conseguirá alcançar as metas de emissões líquidas zero antes de 2057 — sete anos mais tarde que o objetivo global para limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o fim do século.

O levantamento com empresários procurou entender como a transição de energia e recursos está ocorrendo em tempo real, quais tecnologias e oportunidades estão sendo priorizadas e os pontos problemáticos no alinhamento das demandas tradicionais de negócios com uma economia mais sustentável.

De acordo com o relatório, o setor está passando da ambição para a ação, mas a grande quantidade de desafios fará com que a transição seja desordenada — o que pode atrasar o alcance de ambições.

“Muitos ainda estão em busca de modelos de negócios para seus novos empreendimentos que possam entregar resultados adequados, atrair novos talentos e fortalecer suas capacidades organizacionais. Diante desses desafios, a transição será desordenada”, afirma o relatório.

Metade dos executivos de petróleo e gás, por exemplo, espera que seu negócio principal — combustíveis fósseis — diminua nos próximos 10 anos. E 72% dos entrevistados de O&G acreditam que terão um novo negócio em crescimento que complementará (62%) ou substituirá (10%) seu núcleo até 2030.

Em todos os setores, as empresas agora relatam alocar 23% de seu capital para novos empreendimentos, principalmente em resposta à transição de energia e recursos, acima dos 16% quando solicitados em 2020.

“Se essa tendência continuar, sugere que muitos podem chegar a zero líquido bem antes de 2050”, destaca o documento. “E eles esperam que isso faça a diferença: pouco menos da metade espera que suas empresas sejam ‘materialmente diferentes’ até 2030, acima dos 36% em 2020”, completa.

Novos negócios para net zero

Apesar do otimismo, a maioria ainda está lutando para descobrir novos modelos de negócios.

Em comparação com seus pares europeus, os entrevistados estadunidenses de petróleo e gás têm quase duas vezes mais probabilidade de atrasar o investimento em novas áreas de negócios devido a incertezas políticas e regulatórias.

Os participantes da pesquisa também acreditam que a eletrificação impulsionará alguns setores, mas a transição de energia e recursos será mais perturbadora para outros. 

A descarbonização agora é vista como uma prioridade máxima e os executivos têm expectativas mais altas do que há dois anos: 88% dizem que reduzir as emissões de Escopo 1 e 2 é uma prioridade fundamental para sua empresa.

Uma forma de a meta ser alcançada será através das parcerias, que estão surgindo como a maneira preferida dos executivos para gerenciar os riscos de transição porque, segundo eles, não há metas de aquisição de escala suficientes e porque “não há tantos candidatos bons para a aquisição”. 

Incertezas regulatórias

Já com relação às políticas governamentais, os entrevistados veem movimentos díspares entre os países — alguns com regulações e incentivos claros, outros nem tanto. Mas em todas as regiões, a demora no processo de aprovações é a primeira barreira no progresso dos planos do setor, que espera mudanças transformadoras até 2030 através da participação ativa na formulação de políticas.  

Como exemplo, o relatório conclui que empresas estadunidenses de petróleo e gás apresentam quase o dobro de chances de atrasar investimentos em novas áreas de negócios em comparação com as da Europa, que pode ser facilitada devido a maior clareza sobre os regulamentos no continente.