Diálogos da Transição

Transição de materiais, ESG na mineração e Net Zero só em 2057

Transição de materiais, assim como a energética, será crucial para o mundo cortar emissões e conter a emergência climática

Transição de materiais, ESG na mineração e Net Zero só em 2057. Na imagem, forno da Usiminas para produção de aço (Foto: Usiminas/Divulgação)
Forno da Usiminas para produção de aço (Foto: Usiminas/Divulgação)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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A série de debates dos Diálogos da Transição volta em agosto.
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Substituir a energia fóssil dos fornos industriais por renovável, investir em eficiência, reciclar materiais, aumentar a utilização e a vida útil de veículos e edifícios: esses são alguns exemplos de ações da chamada transição de materiais que, assim como a energética, será crucial para o mundo cortar emissões e conter a emergência climática.

Uma análise da McKinsey aponta que ações como as listadas acima poderiam diminuir significativamente a demanda por materiais industriais primários – e, assim, reduzir os impactos ambientais de um setor que hoje responde por 75% de todas as emissões de CO2 da indústria europeia.

O movimento já começou. A partir dos compromissos assumidos por mais de 2.000 empresas na iniciativa Science-Based Targets, a consultoria estima que o mercado global de aço, produtos químicos (incluindo plásticos) e cimento com baixo teor de CO2 chegará algo entre US$ 80 bilhões a US$ 105 bilhões até 2030.

“Em um estudo recente sobre tecnologia limpa industrial na Europa, descobrimos que empresas dos setores de cimento, produtos químicos e aço lançaram mais de 70 projetos com o objetivo de alcançar avanços na produção de baixo CO2”, comentam os analistas.

Esses projetos poderiam fornecer à Europa de 15 milhões de toneladas (Mt) a 52 Mt de aço com baixo teor de CO2, três milhões de toneladas de produtos químicos e 15 Mt de cimento (equivalente a 100 Mt de concreto) verde até 2030.

Para isso, serão necessários 90 terawatts-hora (TWh) de eletricidade limpa, 20 TWh de hidrogênio renovável, 10 a 15 Mt de capacidade de armazenamento de CO2 industrial e a reciclagem efetiva de 10 Mt de resíduos plásticos.

Segundo o estudo, a Europa parece estar na vanguarda, mas o avanço de novas tecnologias em escala industrial depende ainda de um aumento nas finanças, infraestrutura, insumos e regulamentação para a demanda de longo prazo.

Por exemplo, com a mobilização de € 31 bilhões a € 37 bilhões em investimentos, a Europa poderia aumentar significativamente a produção desses materiais, inclusive a de produtos químicos de alto valor feitos de plástico reciclado ou usando captura e armazenamento de carbono (CCUS).

“As implicações de tal transição de materiais podem ser tão profundas e perturbadoras quanto as da transição energética. As descobertas, acreditamos, também oferecem lições para o resto do mundo sobre o que será necessário para atingir as metas globais de zero líquido”, indicam.

Cobrimos por aqui: 

ESG na mineração

No mundo, a descarbonização está impulsionando o crescimento e o otimismo da mineração, de acordo com um levantamento da KPMG com 300 executivos do setor em 23 mercados, inclusive, o brasileiro.

Mais de 70% dos entrevistados esperam uma transformação em função da agenda ESG (ambiental, social e governança, em inglês) nos próximos três anos. 

O risco mais citado pelos entrevistados foi o ambiental que, na pesquisa do ano passado, havia ficado em quinto lugar. Mas mais da metade deles (55%) afirma não acreditar que as questões de ESG são claramente compreendidas e consistentes em todo o mercado.

“O aumento do interesse dos executivos pelas metas de ESG e o das expectativas dos investidores são sinais de que as empresas de mineração estão tendo que mudar o foco e assumir compromissos de longo prazo que não tiveram no passado”, analisa o sócio líder de mineração da KPMG, Ricardo Marques.

“Apesar da incerteza, há sinais de que os líderes do setor estão usando o período de crescimento atual para reinvestir e se comprometer com um futuro mais verde e sustentável”, completa.

Uma das formas de reduzir as emissões de carbono é aderindo a novas tecnologias. Para 87% dos executivos, elas desempenham um papel fundamental para solucionar os desafios ESG.

Quase metade dos entrevistados (46%) acredita que a inovação tecnológica será uma fonte de grande disrupção no setor nos próximos três anos, e praticamente todos estão determinados a aproveitar isso como uma oportunidade e não como uma ameaça.

“As empresas de mineração não são conhecidas como disruptoras tecnológicas. No entanto, há um mandato atualmente para investir mais em tecnologia visando encontrar soluções para os desafios do ESG, passando pela produtividade, às maneiras de reduzir custos”, afirma o líder de energia e recursos naturais da KPMG no Brasil, Anderson Dutra.

Net Zero só em 2057

É o que apontam executivos dos setores de energia e recursos naturais consultados pela Bain & Company.

De acordo com o estudo, o setor está passando da ambição para a ação, mas a grande quantidade de desafios fará com que a transição seja desordenada — o que pode atrasar o alcance de ambições.

“Muitos ainda estão em busca de modelos de negócios para seus novos empreendimentos que possam entregar resultados adequados, atrair novos talentos e fortalecer suas capacidades organizacionais. Diante desses desafios, a transição será desordenada”, afirma o relatório.

Metade dos executivos de petróleo e gás, por exemplo, espera que seu negócio principal — combustíveis fósseis — diminua nos próximos 10 anos. E 72% dos entrevistados de O&G acreditam que terão um novo negócio em crescimento que complementará (62%) ou substituirá (10%) seu núcleo até 2030. Leia na epbr

De olho no hidrogênio…

A mineradora ArcelorMittal anunciou nesta quinta (28/7) a assinatura de um acordo com os acionistas da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) para aquisição da CSP por um valor de aproximadamente US$ 2,2 bilhões. A transação ainda depende de aprovação do Cade.

Com a aquisição, a ArcelorMittal espera capitalizar o “significativo investimento planejado” para o hub de hidrogênio verde do Ceará. Veja o comunicado

…e na geração solar. Na terça (26/7) a SPIC Brasil e a Canadian Solar fecharam acordo para construção e operação dos parques solares greenfield Marangatu (PI) e Panati-Sitiá (CE). A SPIC Brasil tem participação majoritária de 70% nos dois empreendimentos, que receberão investimentos de mais de R$ 2 bilhões.

Quando estiverem em operação, prevista para o final do ano que vem, as duas plantas terão capacidade de gerar 738 MW, ficando entre os maiores projetos fotovoltaicos do Brasil. A energia gerada será comercializada no mercado livre, com a maior parte firmada em contratos de longo prazo.

Plástico de cana

A petroquímica Braskem anunciou na quarta (27/7) a contratação da sua primeira linha de crédito corporativa atrelada à meta de sustentabilidade no valor de US$ 100 milhões.

A operação foi contratada junto ao banco Sumitomo Mitsui Banking Corporation e o indicador de desempenho está vinculado ao crescimento do volume de vendas de seu plástico fabricado a partir de cana-de-açúcar, o polietileno renovável.

Floresta para O&G

A petrolífera australiana Karoon pretende praticamente dobrar a sua produção de petróleo no Brasil em 2023, para entre 25 mil e 26 mil barris/dia. Ao mesmo tempo, a companhia busca projetos de Soluções Baseadas na Natureza (NBS, do inglês nature based solutions) para mitigar suas emissões. O foco da companhia em NBS, no curto prazo, está na busca de projetos florestais.

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