Carimbo verde

Taxonomia sustentável fortalece autonomia do Brasil em finanças verdes, avalia setor

Recém aprovada, TSB ajuda o Brasil a reduzir dependência de padrões externos, fortalecer sua autonomia e atrair capital para a transição verde, dizem executivas do setor financeiro

Lançamento da Taxonomia Sustentável Brasileira, em setembro de 2023 | Foto: Diogo Zacarias
Lançamento da Taxonomia Sustentável Brasileira, em setembro de 2023 | Foto: Diogo Zacarias

Recém aprovada pelo governo federal, a taxonomia sustentável brasileira (TSB) deve dar mais transparência e segurança aos investidores, evitando o greenwashing, avaliam executivas do setor financeiro consultadas pela agência eixos.

A iniciativa chega em um momento oportuno e ajuda a planejar e mitigar riscos de investimentos futuros.

“O desenvolvimento da taxonomia sustentável possui um papel chave em impulsionar os investimentos verdes no Brasil, principalmente por facilitar o acesso a mercados globais e padronizar critérios de elegibilidade, dando maior clareza sobre o que é considerado um investimento verde no país”, analisa Marcella Ungaretti, chefe de pesquisa ESG da XP.

Ela também aponta que a TSB pode ajudar a aumentar a atratividade para investidores, melhorando a credibilidade dos ativos brasileiros, já que estabelece critérios técnicos para reduzir os riscos reputacionais e de transação.

Relatório da XP com as perspectivas para o 2° semestre de 2025 destaca transição energética e mercados de carbono entre os temas em que a aplicação estratégica de capital e o engajamento ativo dos investidores podem ser particularmente oportunos. 

Ungaretti observa que o Brasil tem potencial significativo para liderar a transição verde, atuando como um hub para soluções climáticas, assim como desempenha um papel fundamental na oferta global de créditos de carbono, particularmente de soluções baseadas na natureza, respondendo por 10% das emissões globais em 2024.

Destravar esse potencial depende, no entanto, de uma agenda regulatória clara e ambiciosa, instrumentos financeiros focados e padronização nas informações, avaliações de risco e mensuração.

“Ao mesmo tempo em que avanços importantes têm acontecido ao longo dos últimos anos, via investimentos notáveis, alguns desafios impedem um avanço mais acelerado dessa agenda [climática]”, pontua a executiva.

Sustentável pela própria natureza

Mesmo diante de recuos de grandes bancos em metas climáticas e sociais, seguindo a onda anti-ESG do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, especialistas enxergam que o Brasil deve seguir fortalecendo a agenda, porque ela traz vantagens econômicas.

“Temos o know-how e podemos falar de sustentabilidade pela própria natureza do país, com soluções baseadas na natureza”, comenta Petrina Santos, gerente executiva de Relações Institucionais e Governamentais e ESG da Volkswagen Financial Services.

“Temos biocombustíveis, energia limpa, que é uma coisa que, inclusive, a nossa matriz na Alemanha gosta de estudar com a gente. Além de ser um fornecedor de comida, somos também fornecedores de soluções sustentáveis que já são necessárias agora e vão ser necessárias no futuro cada vez mais”, aponta em entrevista à agência eixos.

No caso da TSB, ela também enxerga como positiva a iniciativa do Ministério da Fazenda de classificar atividades econômicas de acordo com seus impactos socioambientais e climáticos e trazer uma padronização para as instituições financeiras.

“Vamos olhar para o mesmo assunto, para o tema da sustentabilidade, de uma mesma forma, e isso é bastante positivo”.

Além disso, ela entende que a taxonomia ajuda a mapear e compreender para onde o crédito está indo.

E cita como exemplo as taxonomias conectadas à Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

“Você começa a ter uma análise da sua carteira que extrapola somente a análise comercial e financeira. Uma vez que você agrega essa nova visão de ver a carteira, você vai estar muito mais preparado para minimizar risco, para entender o que já pode ser antecipado de negócio”.

Outro ponto destacado pela executiva é a “oportunidade de olhar para o futuro”.

“Eu posso ter essa análise agora de carteira e começar até a provisionar como eu estarei daqui a cinco anos, ou o que eu vou querer investir daqui a dez anos, olhando para o que vai ser a necessidade, porque é uma forma de você conectar a sua carteira com o que está acontecendo no mundo”, completa.

Brasil precisa valorizar e comunicar seu diferencial

Para Fabiana Costa, chefe de Sustentabilidade do Bradesco, o próximo passo importante para a TSB será consolidar sua aplicação para dar confiança ao mercado de que os recursos estão chegando, de fato, aos setores que podem acelerar a transição.

“Ao mesmo tempo, existe um desafio importante de letramento, precisamos que os clientes e agentes de mercado compreendam como se enquadrar e acessar essas oportunidades. O papel dos bancos é justamente traduzir esses conceitos em oportunidades práticas, conectando sustentabilidade e economia real”, observa.

Segundo a executiva, a maior dificuldade hoje não é a falta de capital, mas sim criar as condições para que ele seja direcionado de forma eficiente e transparente. 

Ela lista uma série de áreas onde o Brasil tem condições únicas para liderar a corrida verde, como energia renovável, bioenergia, hidrogênio verde e agricultura de baixo carbono.

Falta valorizar e comunicar.

“O Brasil precisa valorizar e comunicar melhor seus diferenciais competitivos. Temos uma matriz energética já bastante limpa, uma das agriculturas mais produtivas do mundo e soluções inovadoras em integração lavoura-pecuária-floresta e bioeconomia. O que falta é traduzir esse potencial em métricas claras, comparáveis e reconhecidas internacionalmente”.

Neste sentido, ela aponta que a taxonomia pode desempenhar um papel importante na redução da vulnerabilidade em relação a padrões externos que não refletem a realidade brasileira. 

“Incorporar boas práticas globais é positivo, mas é igualmente estratégico consolidar instrumentos nacionais, como a taxonomia brasileira recém-finalizada, conectada com a economia real e com os setores que puxam o PIB. Isso fortalece nossa autonomia, gera negócios e ao mesmo tempo nos conecta de forma equilibrada ao mercado internacional”, defende.

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