Parceria com os russos

Silveira defende adoção de pequenos reatores para garantir energia sem carbono a data centers

Para ministro, SMRs são alternativa para energia descarbonizada e firme a projetos de data center

Ministro Alexandre Silveira (Foto Tauan Alencar-MME)
Ministro Alexandre Silveira (Foto Tauan Alencar-MME)

Em missão à China e à Rússia, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), afirmou que a adoção de reatores nucleares modulares (SMRs, na sigla em inglês) será essencial para garantir energia limpa e firme aos projetos de data centers que já começam a se instalar no Brasil. 

“Vamos construir toda uma política para poder criar o ambiente para fazer essa energia se tornar uma energia vigorosa no Brasil”, afirmou o ministro nesta segunda (12/5), em entrevista a jornalistas em Pequim.

Na semana passada, a estatal russa Tenex, subsidiária da Rosatom, manifestou interesse em ampliar sua atuação no Brasil, com foco na exploração de urânio e lítio — dois minerais estratégicos para a transição energética. 

Segundo Silveira, a expectativa é que esse acordo avance para projetos de SMR no país. 

“O presidente Putin deu a ordem à Rosatom que faça o mais rápido possível a celebração de uma parceria com o governo brasileiro para que a gente possa desenvolver os pequenos reatores nucleares, que serão essenciais para o futuro da energia”, contou o ministro.

“Os russos iniciarão um processo de planejamento conosco, tanto do setor mineral de urânio, também no levantamento das nossas potencialidades”, disse Silveira, lembrando que o Brasil conhece apenas 26% do seu subsolo e ainda assim já possui a sexta maior reserva de urânio do mundo.

“Eles vão nos ajudar a diagnosticar o que nós temos no resto do nosso território e estarão disponíveis para a gente começar a discutir como que a gente estabelecerá uma parceria nos pequenos reatores nucleares”, destacou.

No dia anterior, em visita à  Rússia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também destacou que o país, além de “um parceiro importante” para o Brasil no setor de óleo e gás, também era “na questão de pequenos reatores nucleares”, segundo ele, “uma novidade extraordinária para que a gente possa ter energia garantida para todo o sempre”. 

O presidente também destacou a característica da geração nuclear em oferecer estabilidade na garantia firme de energia, frente ao crescimento de fontes intermitentes, como eólica e solar. 

“Sabemos que, em um país que quer ser a sétima, a sexta, a quinta economia do mundo, nós vamos ter muita energia e muita garantia de que nunca vai faltar energia, nunca vai acontecer o que aconteceu na Espanha, o que aconteceu em Portugal”, avaliou, fazendo referência ao recente apagão que atingiu os países europeus, em que uma das causas levantadas foi uma falha em decorrência da intermitência das fontes renováveis.

O presidente ainda reiterou o compromisso da estatal russa na pesquisa mineral, em especial, de urânio no Brasil.

“Queremos aprofundar esse acordo, essa discussão com a Rússia (…) Nós temos a ideia de aumentar a nossa pesquisa e exploração dos minerais críticos, porque só se fala nisso agora e nós achamos que o Brasil não pode jogar fora nenhuma oportunidade”. 

Sinergia entre nuclear e data centers

Atualmente o governo vem desenhando uma política para a instalação de data centers no Brasil. Na avaliação de Silveira, os SMRs serão fundamentais para viabilizar o crescimento desse setor que é dependente de energia estável e limpa. 

“A maior parte desses investimentos, tanto em inteligência artificial quanto em data center, exige, até por uma questão de compliance, que a energia seja limpa e renovável. E o Brasil é o celeiro dessas energias”, disse o ministro.

“O Brasil com tanto investimento em eólica e solar, que são energias intermitentes, passa pela necessidade da estabilização do seu sistema. E como é que nós vamos fazer isso? Com as nossas térmicas, em especial, as nossas térmicas a urânio, que é um combustível que nós temos em abundância”.  

Silveira citou o exemplo da instalação de um megacomplexo de data centers da plataforma TikTok no Ceará, que, segundo ele, prevê investimentos da ordem de R$ 50 bilhões. 

E disse que o governo federal tem atuado para reforçar a infraestrutura elétrica da região, inclusive com ampliação das linhas de transmissão até o Porto de Pecém.

“Criamos todos os mecanismos, o Operador Nacional do Sistema abriu espaço para recepcionar esses investimentos, o nosso planejamento, a nossa EPE está fazendo todo o esforço para o mais rápido possível reforçar a transmissão até o porto de Pecém”, disse.

Além de energia para data centers, o governo avalia que os pequenos reatores também poderão substituir térmicas a óleo no Norte do país e fornecer energia diretamente para indústrias eletrointensivas, como siderúrgicas e mineradoras.

“Uma das parcelas principais no custo da energia no Brasil é a transmissão. Com os pequenos reatores nucleares, você vai poder produzir energia dentro das indústrias eletrointensivas que precisam de muita energia, por exemplo, Usiminas e CSN”, disse. 

“É fundamental que a gente possa, inclusive, trocar as térmicas a óleo, por exemplo, que tem na Amazonas, por nuclear. É muito mais fácil levar o combustível, é também tão seguro quanto, e é energia limpa, que não polui o ambiente”, explicou Silveira. 

China e minerais críticos 

Já na China, o foco está nos minerais críticos, além do urânio — como terras raras, nióbio, tório, níquel e lítio — essenciais para a transição energética.

“O Brasil quer aproveitar os seus potenciais de terras raras, nióbio, níquel, tório, que a China hoje procura tanto para as suas pesquisas de energia nuclear circular”, afirmou o ministro. 

Segundo Silveira, a intenção é que o Brasil não seja apenas um  exportador de minerais em estado bruto , mas que possa receber parte da  cadeia de processamento desses minerais, hoje extremamente concentrada na China. 

‘Queremos também participar da cadeia de processamento e a China tem a maior tecnologia para isso. Vamos sair com muitos pré-acordos, outros acordos assinados. É muito importante e ressalto que façamos cada vez mais essa interlocução com o capital, com a tecnologia que os países como a China e a Rússia desenvolveram nesses setores e que podem cortar caminho para o desenvolvimento do país”.

Lula: “potencial da relação Brasil-China é inesgotável”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou, durante o encerramento do Fórum Empresarial Brasil-China, nesta segunda-feira (12), que a parceria com os chineses é estratégica na nova economia verde. 

Segundo ele, os investimentos chineses no Brasil já somam R$ 27 bilhões somente nesta rodada de acordos, com destaque para setores de energia, mobilidade e tecnologia.

“O potencial da relação Brasil-China é inesgotável”, disse Lula. 

“Possuímos reservas abundantes em terras raras, lítio, nióbio, cobalto, cobre, grafite, urânio, tório. O Brasil lidera os esforços da transição energética, matriz elétrica já uma das mais limpas do mundo, e estamos descarbonizando matriz de transporte na mobilidade, aumentando a mistura de etanol e biodiesel, na gasolina e no diesel, e capacidade eólica e solar”. 

Segundo o presidente, a experiência chinesa de refino  e processamento de minerais críticos contribuirá para valorizar a produção desses elementos territoriais, “incluindo a transferência de tecnologia no ciclo de montagem de baterias elétricas”. 

A empresários chineses, o presidente brasileiro lembrou que ambos os países tem o desafio em comum de resolver os “problemas do empobrecimento”, e que a  China vem colaborando com “países que foram esquecidos” por outras nações ricas ao longo dos últimos anos.

“Faremos com que o Sul Global seja respeitado no mundo como nunca foi”, afirmou Lula.

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