Diálogos da Transição

Setor de energia poderia ter evitado quase 40% das suas emissões de metano em 2023

Emissões de metano do setor de energia permaneceram perto de recorde em 2023, com cerca de 120 milhões de toneladas

Setor de energia em 2023 teria como evitar quase 40% das suas emissões de metano associadas à produção e uso de combustíveis fósseis. Na imagem: Plataforma P-43, com flare aberto, nos campos de Barracuda e Caratinga, da Petrobras, na Bacia de Campos (Foto: Geraldo Falcão/Petrobras)
Plataforma P-43 no campo de Barracuda, da Petrobras, na Bacia de Campos (Foto: Geraldo Falcão/Petrobras)

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Editada por Nayara Machado
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As emissões de metano do setor de energia permaneceram perto de um recorde em 2023, com cerca de 120 milhões de toneladas associadas à produção e uso de combustíveis fósseis, e outras 10 Mt da bioenergia.

No entanto, 40% desse volume poderia ter sido evitado, sem custos adicionais aos produtores e consumidores, estima a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) na atualização do seu rastreador de metano.

Segundo a agência, a redução do gás de efeito estufa – cujos efeitos sobre o clima são ainda mais intensos que o CO2 – é uma das opções mais pragmáticas e de menor custo para reduzir emissões na indústria de combustíveis fósseis.

Isso porque as tecnologias já foram testadas e estão disponíveis em escala em todo o mundo e os investimentos necessários são menores do que o valor de mercado do gás adicional capturado e vendido ou utilizado.

A parcela é maior para petróleo e gás natural (50%) do que para carvão (15%), aponta o documento.

“Independentemente do valor do gás capturado, estimamos que seria economicamente viável implantar quase todas as medidas de redução de metano provenientes de combustíveis fósseis se as emissões forem precificadas em cerca de US$ 20/tonelada de CO2 equivalente”.

Por que a indústria não aplica?

Para a IEA, as justificativas podem ser várias: o retorno sobre o investimento pode ser mais longo para projetos de redução de metano, do que para outros negócios; falta de compreensão quanto à magnitude das emissões de metano e à eficácia dos custos de redução; ou ainda, infraestrutura e arranjos institucionais inadequados, que não dão retorno às empresas pelas emissões evitadas.

“Aproveitar esse potencial exigirá novos quadros regulatórios, mecanismos de financiamento e aprimoramento do rastreamento de emissões”, aponta o relatório.

Maiores emissores

Das quase 120 Mt de emissões relacionadas aos combustíveis fósseis em 2023, cerca de 80 Mt vieram de países que estão entre os 10 maiores emissores de metano globalmente.

Os Estados Unidos são o maior emissor nas operações de óleo a gás, seguido de perto pela Rússia. Quando o assunto é carvão, a China lidera com folga.

A IEA calcula que a quantidade de metano perdido nas operações de combustíveis fósseis globalmente em 2023 foi de 170 bilhões de metros cúbicos, mais do que a produção de gás natural do Catar.

A intensidade de metano no óleo a gás varia bastante: os países com melhor desempenho (Noruega e Países Baixos) têm mais de 100 vezes menos emissões do que os piores (Turcomenistão e Venezuela).

Novos compromissos

No final do ano passado, durante a Conferência Climática das Nações Unidas (COP28), a gestão do metano mobilizou alguns acordos internacionais, como a Carta de Descarbonização de Petróleo e Gás (OGDC), assinada por 50 produtores de óleo e gás.

A intenção é zerar as emissões de metano e carbono, além de reduzir a queima de gás. Mas algumas majors importantes ficaram de fora do compromisso.

Também na COP28, o Brasil disse que pretende regular as emissões de metano no setor de óleo e gás nos próximos anos – mas por aqui o problema maior é no agro.

No caso do O&G, as diretrizes serão propostas ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) ainda em 2024, e caberá à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) concluir a regulamentação até o final de 2025.

De acordo com a IEA, para que o mundo alcance emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2050, as emissões de metano das operações de combustíveis fósseis precisam cair cerca de 75% até 2030.

Com os compromissos assumidos até agora, é possível reduzir essas emissões em 50%, pelas estimativas da agência. Além de estarem abaixo do necessário, na maioria dos casos, esses compromissos ainda não são respaldados por planos, políticas e regulamentações detalhados.

Vale dizer: em 2023, Estados Unidos, Canadá e União Europeia aprovaram regulamentações sobre o tema, e China publicou um plano de ação dedicado ao controle de emissões de metano.

“A próxima rodada de Contribuições Determinadas Nacionalmente (NDCs), que verá os países estabelecerem metas climáticas até 2035, apresenta uma grande oportunidade para os governos definirem metas mais ambiciosas sobre o metano relacionado à energia e elaborarem planos para alcançá-las”, defende a IEA.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Bioeletrificação

O presidente Lula (PT) recebeu um grupo de empresários do setor automotivo e da indústria de etanol e biogás, na quinta (14/3) para conversar sobre investimentos no Brasil. Na pauta, o potencial brasileiro para produção de veículos híbridos flex para reduzir o consumo de combustíveis fósseis.

BioGLP até o fim da década

O vice-presidente de Operações e Estratégia na Copa Energia, Pedro Turqueto, acredita que o bioGLP – o gás liquefeito renovável (GLR) – será uma realidade no mercado ao fim da década. “Há muitas fontes de matéria-prima no Brasil para a produção do GLR. A acredito que em 2028, 2030, a gente vai ter uma produção de GLR, que ela vai ser no interior do Brasil”, afirmou Turqueto ao estúdio epbr.

Leilão de transmissão

Executivos da Eletrobras confirmaram, nesta quinta (14/3), o interesse da companhia em participar dos próximos leilões de linhas de transmissão, em março e setembro, e de reserva de capacidade, previsto para agosto – que incluiu hidrelétricas.

Onda de calor

O Inmet publicou boletim de alerta apontando “grande perigo” para uma onda de calor em boa parte de MS, SP, PR, SC e uma faixa noroeste do RS. De acordo com o instituto, há “risco à saúde”, com temperatura 5ºC acima da média. No total, 1.066 municípios poderão ser atingidos pelo aumento que deverá seguir até o sábado (16), às 18h.

Curso para mulheres eletricistas

A Taesa promove a quarta edição do curso gratuito de formação de eletricista de linha de transmissão voltado para mulheres. Com 50 vagas disponíveis, o curso será ministrado de forma remota, on-line, entre os dias 15 de abril e 03 de maio. Os pré-requisitos são ter o segundo grau completo e disponibilidade em horário comercial. Inscrições gratuitas até 31 de março.

Capacitação para consultores de negócios

A ICONIC, empresa do segmento de lubrificantes, está com vagas abertas para o seu programa de aceleração de consultores de negócios, o Rota ICONIC. A iniciativa é gratuita e visa o desenvolvimento de competências essenciais em novos talentos que tenham interesse em construir uma carreira na área comercial. As inscrições encerram hoje (15) e podem ser feitas pela plataforma Gupy.

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Cobrar pelas emissões do transporte marítimo global pode ajudar o Brasil a lidar com os impactos climáticos Brasil pode liderar transição energética global do transporte marítimo e captar bilhões para financiamento climático, escreve Ana Terra Amorim

Meteorologia se torna mais estratégica para o setor elétrico com reforço da IA E ganha destaque na gestão de negócios e decisões do setor elétrico para prevenir danos frente a extremos climáticos, escreve Guilherme Martins