O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed Bin Salman, anunciou que o país vai iniciar, neste trimestre, a construção de uma gigantesca área habitacional de comunidades “hiperconectadas” e com zero emissão de carbono.
A cidade foi batizada de The Line (do inglês, “a linha”). Trata-se de um eixo central de 170 quilômetros de extensão, conectando polos urbanos ao longo da região do projeto de Neom, que se estende da costa do Mar Vermelho ao interior da Arábia Saudita.
A ambição é criar centros urbanos “sem carros, sem ruas e com estradas com zero emissão de carbono”, nas palavras de Bin Salman, o monarca que promete uma modernização da Arábia Saudita, abastecida pelo dinheiro da produção de óleo para atingir a Saudi Vision 2030, um plano de transição econômica e climática.
O Neom, sobre o qual ainda há pouca informação, deve custar cerca de US$ 500 bilhões. De acordo com o anúncio oficial feito pela TV estatal saudita no domingo, The Line deve injetar cerca de US$ 180 bilhões ao PIB da Arábia Saudita até 2030.
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A nova proposta habitacional será erguida em uma área remota no Noroeste do país, com capacidade para um milhão de habitantes, e criação de 380 mil empregos nos próximos nove anos.
The Line será abastecida com “energia renovável abundante para um futuro sustentável” e planejada para viagens de, no máximo, 20 minutos entre os centros urbanos, com soluções de mobilidade autônomas de alta velocidade.
“A infraestrutura e os serviços de suporte – incluindo transporte, serviços públicos, infraestrutura digital e logística – serão perfeitamente integrados em espaços dedicados que funcionam em uma camada invisível ao longo da Linha”, informa o material de divulgação do projeto.
De acordo com as poucas imagens disponíveis, pistas de rodagem e infraestrutura ferroviária estarão completamente enterradas. A superfície da Linha ficará reservada apenas aos pedestres, construções e áreas verdes. O governo saudita promete preservar 95% do ambiente natural onde a cidade do futuro será instalada.
Promessa de transição vista com ceticismo
A promessa de transição econômico saudita, no entanto, ainda desperta ceticismo enquanto executivos e autoridades do país envolvidas com o setor de energia mantêm discursos antagônicos.
Anunciado em 2017, o plano conta com muito marketing mas poucos detalhes além da previsão de investimentos que atingem meio trilhão de dólares. Atualmente, mais da metade do PIB saudita é oriundo da economia do petróleo.
O Saudi Vision 2030 prevê a instalação de 6,2 GW de capacidade de geração em usinas eólicas até 2030. Mas até 2017 toda a energia gerada no país ainda era oriunda da queima de óleo (que atendia 40% da demanda nacional) e do gás natural (responsável por 60% da demanda).
As mudanças tampouco são vistas como uma possibilidade de mudança de regime. A Arábia Saudita é uma monarquia teocrática, regida pelo wahabismo, uma corrente sunita do Islã com um rígido código de conduta religiosa e social.
Em um dos casos de maior repercussão no Ocidente, MBS foi apontado com mandate do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, esquartejado por agentes sauditas. Khashoggi era um crítico do regime e sofreu uma emboscada no consulado saudita em Istambul, na Turquia, em 2018.
Em janeiro do ano passado, o próprio presidente da Saudi Aramco, Amin Nasser, criticou aqueles que acreditam que a transição energética pode ocorrer da noite pro dia e afirmou que a demanda por combustíveis fósseis vai continuar crescendo globalmente nas próximas décadas e deve permanecer acima de 100 milhões de barris diários até 2040, graças, sobretudo, ao aumento da população e à redução de custos de produção.
Para Nasser, a pressão para que o mundo abandone os combustíveis fósseis pode encarecer o custo de vida em nações mais pobres e provocar “sérias implicações sobre países em desenvolvimento”.
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