RIO – Os 40 países que têm receitas públicas dependentes do setor de petróleo e gás podem ver uma queda dos US$ 17 trilhões esperados até 2040 para US$ 9 trilhões, caso a transição energética seja acelerada de modo a limitar o aquecimento global a 1,8°C até 2100, conclui um estudo da Carbon Tracker Initiative (CTI).
A análise do think tank aponta que muitos petroestados projetam um contínuo aumento das receitas nos próximos anos, o que pode não se concretizar e gerar dificuldades para prover serviços públicos.
Ao todo, 28 países podem perder mais da metade das receitas esperadas com os combustíveis fósseis até 2040.
Sede da COP28 a partir desta semana, os Emirados Árabes Unidos podem ter uma queda de 60% na arrecadação pública no cenário projetado pela Carbon Tracker. O setor de petróleo e gás é responsável hoje por 40% das receitas governamentais no país.
A Venezuela é um dos maiores ameaçados, segundo o relatório. O país sulamericano pode ter uma queda de 80% na arrecadação desse setor, que é hoje responsável por praticamente todo o recolhimento governamental.
A Carbon Tracker aponta ainda que seis países africanos estão altamente vulneráveis a enfrentar problemas financeiros com a transição energética, caso continuem apoiados no óleo: Nigéria, Angola, Chade, Congo, Guiné Equatorial e Gabão.
O relatório conclui que os mercados que têm custos mais altos para a produção de petróleo estão entre os mais ameaçados. A Carbon Tracker ressalta ainda que muitos já vivem um aumento do endividamento público.
“O petroestados precisam urgentemente diversificar a economia – particularmente aqueles que são identificados como mais vulneráveis”, afirma o estudo.
O relatório sugere que os países com maior risco nas contas públicas adotem medidas como reforma de subsídios e a criação de fundos soberanos com os recursos atuais, assim como a adoção de impostos alternativos aos atuais vigentes sobre o setor de petróleo e gás. Além disso, também aponta a necessidade de apoio internacional por meio de financiamentos, um dos principais temas em discussão na COP esta semana.
“O financiamento para a transição energética pode ter um papel importante na preparação para o futuro das economias dependentes dos hidrocarbonetos, com base nos esforços recentes para apoiar os países que dependem do carvão”, diz o relatório.
Petrobras teria produção cortada pela metade
Segundo a Carbon Tracker, a Petrobras está entre as empresas que teriam a produção reduzida pela metade, num cenário mundial de emissões compatível com um aquecimento de 1,8°C.
O plano de investimentos 2024-2028 da companhia, aprovado na semana passada, mantém a área de exploração e produção de óleo e gás segue como carro-chefe, com investimentos de US$ 73 bilhões – 71,5% do total –, mas reforçou o orçamento em energias renováveis.
O estudo alerta para o fato de que muitos países com receitas dependentes do petróleo têm empresas estatais. No cenário de corte de emissões de combustíveis fósseis, muitas dessas companhias vão precisar reduzir a produção de petróleo.
A projeção do Carbon Tracker é mais otimista do que o Acordo de Paris, que visa restringir o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. A petroleira brasileira assumiu em 2021 a meta de zerar as emissões líquidas operacionais de gases de efeito estufa de forma compatível com o acordo.
Assim como a Petrobras, outras estatais que teriam uma queda na produção pela metade com as menores emissões projetadas pelo Carbon Tracker são a russa Rosneft, a mexicana Pemex e a colombiana Ecopetrol. Somente três estatais teriam uma queda de apenas 10% no cenário projetado: a iraniana Nioc, a chinesa Sinopec e a kuwaitiana Kuwait PC.