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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Em janeiro deste ano, relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês) alertou que até 2050 as mudanças climáticas podem causar 14,5 milhões de mortes e US$ 12,5 trilhões em perdas econômicas em todo o mundo.
Embora 2050 possa parecer distante, e trilhões de dólares uma cifra ainda mais intangível, o clima não perdoa e a conta de queimar combustíveis fósseis e florestas está no centro da mesa – todo mundo se entreolhando e perguntando: quem vai pagar?
O ano de 2023 entrou para a história como o mais quente já registrado, marcado por eventos climáticos como secas extremas e incêndios, além de chuvas torrenciais e inundações, que contribuíram para o prejuízo global de US$ 250 bilhões. De acordo com dados compilados pela companhia de resseguro alemã Munich Re, apenas US$ 95 bilhões desse total estavam segurados.
No Brasil, também foi um período de recorde de desastres relacionados ao clima: 1.161 eventos foram mapeados pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Além dos custos em vidas, o custo financeiro para remediar e reconstruir o que foi destruído está na casa dos bilhões.
Na semana passada, o governo federal anunciou um conjunto de medidas de apoio ao Rio Grande do Sul que somam cerca de R$ 50 bilhões. A maior parte dos recursos para ajudar a amenizar os efeitos da crise sobre trabalhadores, empresas e municípios. Nesta segunda, outra medida provisória liberou mais R$ 12,2 bilhões.
Entre as medidas estão a antecipação de abono salarial e do pagamento de benefícios como o Bolsa Família e o Auxílio Gás, abertura de linhas de crédito e subvenção.
O estado sofre com inundações há duas semanas, causadas por fortes chuvas e elevação do nível do Guaíba. Até agora, cerca de 150 mortes foram registradas e quase 540 mil pessoas estão desalojadas. Segundo a Defesa Civil, os efeitos dos temporais já são sentidos por dois em cada dez moradores do RS.
Empréstimos
Em meio à comoção, o setor privado, financeiro e instituições multilaterais mobilizam doações e pacotes de créditos para ajudar na reconstrução, enquanto reconhecem que a crise climática é agora.
“Está só começando”, disse na semana passada o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, ao anunciar um pacote de crédito de R$ 5,5 bilhões para reconstrução do RS.
Nesta terça (14/5), o Novo Banco para o Desenvolvimento, ou Banco do BRICS, anunciou a destinação de recursos para empréstimo no valor de R$ 5,7 bilhões para a reconstrução da economia, da infraestrutura dos municípios, e fortalecimento do setor produtivo no estado.
O Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) também anunciou um pacote de medidas com potencial para chegar a R$ 3,8 bilhões. Enquanto o Banco Mundial disponibilizou a realocação imediata de cerca de R$ 625 milhões em recursos de projetos em andamento: Programa de Resiliência Urbana no Sul do Brasil, Programa de Revitalização da Área Central de Porto Alegre e Programa de Apoio ao Novo Bolsa Família.
‘Melhor prevenir do que remediar’
Enquanto isso, no Senado, um projeto de lei da deputada Érika Hilton (Psol-SP) propõe alterar o Estatuto das Cidades para que a construção de municípios resilientes às mudanças climáticas seja uma diretriz da política urbana.
O texto foi aprovado pela Comissão do Meio Ambiente (CMA) em abril e aguarda votação do Plenário.
Efeito da mudança climática
Desde 30 de abril o RS sofre com fortes chuvas. A precipitação causou inundações recordes em toda a região. Na capital Porto Alegre, o rio Guaíba atingiu 5,3 metros no dia 5 de maio, superando a enchente histórica de 1941. O nível de inundação local chegou a 3 metros.
Cientistas do ClimaMeter, uma plataforma europeia que analisa eventos climáticos enquanto eles ocorrem, avaliam que as inundações no Sul do Brasil foram exacerbadas pelas mudanças climáticas provocadas pelas atividades econômicas.
Segundo a análise, houve um aumento de até 15% no volume das precipitações diárias no estado, “um evento um tanto incomum”.
“Atribuímos principalmente o aumento da precipitação que produziu as inundações no sul do Brasil às mudanças climáticas provocadas pelo homem e a variabilidade climática natural provavelmente desempenhou um papel modesto”, concluem os cientistas.
Cobrimos por aqui:
- COP28 começa com acordo para remediar perdas e danos em países pobres
- Combustíveis fósseis lideram casos de greenwashing no setor financeiro
- Brasil deve usar G20 para cobrar transição justa de países ricos
- Davos: mundo precisa fechar lacuna de 600 bilhões de toneladas de CO2
Curtas
Disputa comercial
O presidente dos EUA, Joe Biden, planeja impor uma tarifa de 100% sobre as importações chinesas de veículos elétricos, 50% sobre as células solares e 25% sobre certas importações de aço e alumínio. O anúncio chega após a Casa Branca alertar Pequim para alterar certas práticas comerciais que estariam enfraquecendo as cadeias de abastecimento globais. Funcionários da administração Biden afirmam que estas tarifas “não terão impacto inflacionário”. (CNBC)
China rebate
O Ministério do Comércio da China criticou as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos e alertou sobre impactos nas relações bilaterais, em comunicado divulgado nesta terça-feira (14). De acordo com o órgão, a decisão é uma “típica manipulação política” e abusou do processo de revisão de tarifas da Seção 301, além de descumprir regras internacionais da Organização Mundial do Comércio. (Exame)
Impacto na indústria verde
Se, por um lado, o plano do governo Biden pretende proteger temporariamente os empregos no setor automotivo dos EUA, tem potencial de prejudicar os esforços de corte de emissões por meio da aceleração do mercado de veículos elétricos, de acordo com analistas consultados pela Reuters.
Hidrogênio na Eletrobras
A empresa de energia elétrica firmou dois Memorandos de Entendimento (MoU) visando fornecimento de eletricidade para projetos de hidrogênio no Nordeste brasileiro. Um deles, com a europeia Green Energy Park, prevê a combinação de recursos de mais de 10 GW para produção de hidrogênio renovável e derivados. O segundo, com o governo do Ceará, também visa o fornecimento de energia renovável para futuros projetos industriais no hub do Pecém. Veja detalhes
Biocombustíveis para navios
A Bunker One divulgou, nesta terça (14/5), que recebeu a certificação internacional ISCC (International Sustainability & Carbon Certification) em duas categorias, abrindo caminhos para a comercialização de biocombustíveis produzidos no Brasil para abastecer navios que fazem o frete internacional. Este selo é um pré-requisito para que o biodiesel brasileiro seja adotado pela navegação, exemplifica Filippe Fernandez, diretor comercial da Bunker One Brasil.
Litígio climático
Para o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, os tribunais constitucionais em todo o mundo vêm adotando um novo papel em questão climática. Segundo ele, as grandes tragédias como as queimadas no Canadá, as inundações do Rio Grande do Sul e a seca na Amazônia mostram que é preciso reagir e que o aquecimento global deixou de ser uma matéria apenas para pequenos círculos de cientistas, ocupou o centro das discussões internacionais.
Chamada de carbono
O governo do Amazonas anunciou os vencedores de chamada pública para gerar créditos de carbono em 21 unidades de conservação. Foram selecionadas cinco empresas. É a maior licitação do tipo no país, numa área correspondente a 11,9 milhões de hectares. (Reset)