O projeto legislativo anunciado pelo governo do Canadá para zerar as emissões de carbono do país até 2050 gerou uma onda de críticas por ambientalistas pelo fato de o projeto estabelecer metas somente a partir de 2030, jogando a responsabilidade pela redução de emissões sobre governos futuros.
Na passada, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau divulgou a proposta para estabelecer metas a cada cinco anos, que inclui a a criação de um conselho de especialistas para assessorar o governo. Caso as metas não sejam cumpridas, o governo precisará explicar-se ao parlamento e trabalhar em novas metas para recuperar o tempo perdido.
O projeto era uma promessa do governo de Trudeau, mas foi visto também como uma tentativa de se aproximar da agenda do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, que promete colocar o combate à crise climática no centro de suas prioridades.
O programa canadense também acompanha uma série de metas divulgadas por líderes e empresas europeias, com propostas mais concreta de redução de emissões nas vésperas do aniversário do Acordo de Paris, que completará cinco anos em 12 de dezembro.
Há duas semanas, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou um plano para transformar o Reino Unido no principal centro mundial para tecnologia e finanças verdes e zerar as emissões de carbono britânicas até 2050.
O projeto, baseado em dez pontos principais, pretende mobilizar £12 bilhões em investimentos do governo e quer atrair três vezes esse valor em capital privado, além de criar 250 mil empregos.
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Críticas às vantagens ao setor de óleo e gás
Os ambientalistas afirmam que Trudeau tem uma atuação dúbia, em que apoia o setor de petróleo e gás com incentivos, enquanto discursa em defesa da redução de emissões.
Durante os esforços fiscais para apoiar a recuperação econômica diante da pandemia de covid-19, o governo canadense prometeu destinar ao menos US$ 14,3 bilhões em apoio a combustíveis fósseis.
Desde a eleição nos Estados Unidos, o premiê canadense é criticado por estar discutindo com o presidente norte-americano eleito, Joe Biden, a construção do oleoduto Keystone XL, projetado para interligar as produções petrolíferas dos dois países. Na sua primeira fase, o oleoduto pretende interligar o estado canadense de Alberta a Montana, na região Oeste dos EUA.
O setor de óleo e gás é o principal responsável pelo aumento das emissões no Canadá desde 1990. No período entre 1990 e 2018, as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) do país cresceram 21% enquanto as emissões do Reino Unido caíram 45%.
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Para Dale Marshall, gerente do Programa Climático Nacional na área de Defesa Ambiental do Canadá, a nova legislação vai, “na melhor das hipóteses, responsabilizar somente os futuros governos federais pelos compromissos climáticos.”
Jamie Kirkpatrick, Gerente de Programas da Coalizão Blue Green Canada, uma entidade que reúne sindicatos e ONGs, o governo precisa assumir responsabilidade hoje deveria abandonar metas abstratas de mudanças climáticas, que já provaram ser ineficazes.
“O Canadá precisa de uma meta para 2025. E não podemos nos tornar um zero líquido a menos que acabemos com o uso e a produção de combustíveis fósseis”, criticou a ativista Sophie Price, integrante da ONG Sustainabiliteens, que reúne uma rede de estudantes engajados no combate às mudanças climáticas. “Se estamos falando sério sobre a rede zero, por que o governo canadense ainda está promovendo o oleoduto Keystone XL?”, questionou.
Antes do aniversário do Acordo de Paris, é esperado que o governo do Canadá anuncie também a revisão de suas metas de NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas). Segundo a ONU, até agora apenas 13 países submeteram à Convenção da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC) a revisão de suas NDCs.O número representa apenas 3,6% das emissões globais de carbono.
A revisão era esperada pelos países signatários do acordo para antes da COP26, prevista inicialmente para novembro de 2020. Devido à pandemia do novo coronavírus, no entanto, o encontro foi postergada em um ano.
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