Agendas da COP

Paris, dia 2: Lula pede governança e combate às desigualdades entre prioridades da agenda climática

Cúpula financeira encerrou com o anúncio de que países ricos destinarão US$ 100 bi para combate às mudanças climáticas em economias emergentes

Paris, dia 2: Lula pede governança e combate às desigualdades entre prioridades da agenda climática. Na imagem: Presidente Lula (PT) durante diálogo de Alto Nível da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, na França (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Presidente Lula (PT) durante diálogo de Alto Nível da Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, na França (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
[email protected]

“Se nós não mudarmos essas instituições [Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional], a questão climática vira uma brincadeira”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no encerramento da cúpula financeira de Paris, nesta sexta (23/6).

O encontro marcado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, para discutir um novo pacto financeiro global encerrou com o anúncio de que países ricos destinarão US$ 100 bilhões em financiamento para ações de combate às mudanças climáticas em países em economias de baixa e média renda. E um fundo para biodiversidade e proteção de florestas. DW

Em 2015, os países ricos já haviam prometido financiamento de US$ 100 bilhões por ano, a partir de 2020, para ajudar os mais pobres na transição. A promessa do Acordo de Paris, no entanto, ainda não foi cumprida.

Para o presidente brasileiro, é preciso uma governança mundial com força decisória para fazer cumprir os acordos firmados em cúpulas como as COPs (Conferências Climáticas da ONU).

“Se cada um de nós sair de uma COP e voltar para aprovar as coisas dentro do nosso Estado Nacional, nós não iremos aprovar”, disse Lula aos chefes de Estado.

“É preciso ter clareza que se nós não mudarmos as instituições, o mundo vai continuar o mesmo. Quem é rico vai continuar rico, quem é pobre vai continuar pobre”, completou.

Por um modelo mais justo

Lula também criticou a ausência da palavra “desigualdade” nas discussões.

“Eu não vim aqui para falar somente da Amazônia. Eu vim aqui para falar que, junto com a questão climática, nós temos que colocar a questão da desigualdade mundial”, defendeu.

“Não é possível que numa reunião entre presidentes de países importantes, a palavra desigualdade não apareça. A desigualdade salarial, de raça, gênero, educação, saúde. Se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo [vai] continuar morrendo de fome em vários países do mundo”.

As críticas do presidente brasileiro se somam às de líderes de países africanos e da América Latina, que cobram um modelo mais justo de financiamento das instituições multilaterais.

Hoje, países ricos têm acesso ao capital de forma mais fácil e a juros muito menores que aqueles de menor renda. Essa diferença no tratamento muitas vezes significa altos endividamentos – e menos recursos para lidar com a questão climática.

Cobrimos por aqui:

Reestruturação de dívida na Zâmbia, transição justa em Senegal

Ontem, o presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, anunciou que alcançou um acordo com seus credores bilaterais para reestruturação de uma dívida de US$ 6,3 bilhões com a China e o FMI.

O acordo inclui redução nas taxas de juros para os credores, pausa de três anos nos pagamentos totais (somente os pagamentos de juros serão fornecidos) e extensão de 20 anos para o vencimento dos empréstimos.

A Zâmbia entrou em default de sua dívida soberana em 2020 durante a pandemia e, desde então, vem negociando com credores bilaterais (principalmente a China e o FMI), credores privados e outros credores do setor público uma reestruturação da dívida, relata o ClimaInfo.

Já Senegal deve receber US$ 2,74 bilhões do programa Just Energy Transition Partnership (JETP) como ajuda para atingir a meta de 40% de capacidade de energia renovável instalada até 2030.

A iniciativa conta com o apoio de França, Alemanha, União Europeia, Reino Unido e Canadá e é a primeira dedicada especificamente ao aumento da energia renovável, em vez de reduzir a energia a carvão.

  • Opinião | Um Plano Marshall para a emergência climática É preciso mais equilíbrio entre Norte e Sul Global bem como financiamento para a adaptação dos países diante dos efeitos das mudanças climáticas, analisa Edlayan Passos

Enquanto isso, nos países ricos…

Construídos para falhar

Nos últimos anos, um ecossistema de promessas, grupos e modelos climáticos se expandiu em Wall Street em uma tentativa de reduzir – ou parecer reduzir – o papel do setor financeiro no aquecimento global, mostram pesquisadores da Universidade de Columbia (EUA).

Em estudo divulgado nesta sexta, eles alertam que muitos desses esforços tiveram um impacto limitado na prevenção dos danos causados ​​pelas mudanças climáticas, e, ao mesmo tempo, Wall Street gasta centenas de milhões de dólares todos os anos para bloquear medidas que poderiam ajudar.

Uma variedade de métricas, cálculos e metas  que as instituições empregam pode ser confusa e enganosa e “não ser adequada ao propósito”, dizem os analistas. Bloomberg

Estresse climático

Também esta semana, a Association for Financial Markets in Europe (AFME) e a Oliver Wyman publicaram uma análise sobre as iniciativas adotadas pelos bancos europeus para lidar com o estresse de risco climático.

O relatório conclui que, desde os últimos exercícios de teste de estresse de risco climático do Banco Central Europeu (BCE), os bancos desenvolveram abordagens sofisticadas para melhorar sua compreensão e análise dos riscos internamente – inspirando-se nas orientações do BCE. Veja a íntegra em inglês (.pdf)

Curtas

Hidrogênio em SP

Programa paulista para o hidrogênio deve incentivar reforma do etanol e biogás. Governo estadual lançou pacote de R$ 500 milhões para projetos de descarbonização, incluindo melhorias no ambiente regulatório do hidrogênio de baixo carbono.

Parceria para hidrogênio verde

A GNLink fechou acordo com a empresa portuguesa PRF GasSolutions, para implantação, no Brasil, de unidades de produção de hidrogênio verde (H2V) com capacidade de até 5 MW. A ideia é aproveitar a experiência europeia no desenvolvimento do novo energético para explorar o mesmo nicho de oportunidades aqui.

BNDES e Petrobras assinam acordo de transição energética

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, disse que pretende aumentar o limite de investimentos na Petrobras e que, para isso, tem conversado com o governo federal.

Sinergia no O&G

A indústria de petróleo tem grande sinergia com a atividade de captura de carbono (CCS) no Brasil, disse Raphael Moura, superintendente de Tecnologia e Meio Ambiente da ANP na quarta-feira (21/6). Ele falou em entrevista exclusiva ao estúdio epbr durante a ESG Energy Forum do IBP, no Rio de Janeiro.

Problemas nas turbinas

A Siemens Energy perdeu US$ 6,3 bilhões em sua capitalização de mercado depois de alertar que o impacto dos problemas de qualidade em seu negócio de turbinas eólicas da Siemens Gamesa seria sentido por anos. Reuters

Artigo da semana

— O incentivo que faltava para a colheita do ‘fruto fácil’ da descarbonização da navegação Fretadores não se importam em pagar uma taxa maior desde que disponham de navios mais eficientes e econômicos a seu serviço, escreve Daniela Davila