Diálogos da Transição

Navegação retoma discussão sobre imposto de carbono

Membros da IMO têm até o final de 2025 para desenhar e adotar um mecanismo de precificação de emissões marítimas

Organização Marítima Internacional (IMO) retoma discussão sobre imposto de carbono para a navegação. Na imagem: Navio cargueiro transporta containers (Foto: Hector Galarza/Pixabay)
Na última década, o frete marítimo registrou um salto de 20% nas suas emissões (Foto: Hector Galarza/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Os 175 países membros da Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) se reúnem ao longo desta e da próxima semana para discutir políticas que viabilizarão a descarbonização do frete marítimo, entre elas, um imposto global sobre o carbono.

Em julho de 2023, o Comitê de Proteção do Meio Ambiente Marinho (MEPC 80) concordou em adotar uma ambição comum de chegar a emissões líquidas zero até 2050, junto com a busca por mecanismos para garantir oferta e demanda de combustíveis alternativos com zero e quase zero gases de efeito estufa até 2030.

Como 2030 é logo ali, os países membros precisam desenvolver e adotar, até o final de 2025, os padrões de combustíveis de baixo carbono e um mecanismo de precificação de emissões marítimas.

Esse mecanismo servirá também para compor um fundo de financiamento de alternativas renováveis para abastecer os navios.

Sobre a mesa está uma proposta endossada pelo setor privado, representado pela Câmara Internacional de Navegação (ICS, em inglês), baseada no conceito de feebate (junção de “taxa” e “rebate”).

Apresentado originalmente pelo governo do Japão à IMO, o mecanismo estabelece um Fundo de Transporte de Emissões Zero (ZESF) composto a partir das taxas cobradas por tonelada de CO2e emitida pelos navios.

A intenção é reduzir a diferença significativa de custos entre os combustíveis zero carbono e os fósseis, recompensando financeiramente (feebates) as embarcações pelas emissões evitadas pelo uso de metanol ou amônia verdes, por exemplo.

No início de fevereiro deste ano, a ICS acrescentou uma estrutura de transparência e responsabilização sobre a forma como os recursos serão utilizados – incluindo os fundos para financiar a transição em países emergentes.

Por que taxar o carbono?

A ICS calcula que, para atingir a meta da IMO de que 5-10% da energia utilizada pelo transporte marítimo venha de fontes de baixo carbono até 2030, seriam necessários aportes de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões por ano para subsidiar a diferença de preço entre fóssil e renovável.

Embora uma parte dos clientes esteja disposta a pagar um pouco mais pelo frete de baixo carbono, e países ricos estejam estabelecendo políticas para incentivar um transporte mais sustentável, nem todo mundo tem essa mesma condição.

O imposto global cumpriria então a função de precificar as emissões e incentivar investimentos em novas tecnologias e combustíveis, ao mesmo tempo em que, um fundo para países de renda média e baixa ajudaria a amortecer possíveis impactos no custo do frete.

US$ 28 bi até 2050

Esse é o volume anual de investimentos necessários para renovar a frota global de navios ou adaptar as embarcações mais novas para operar com combustíveis sustentáveis, segundo a agência da ONU sobre comércio (Unctad).

Com uma frota envelhecida e funcionando quase exclusivamente com combustíveis fósseis, o frete marítimo é hoje responsável por mais de 80% do volume de comércio mundial e quase 3% dos GEE lançados na atmosfera.

Na última década, o setor registrou um aumento de 20% nas suas emissões.

Amônia verde e azul, biodiesel, gás natural liquefeito (GNL), e-metanol, biometanol, biometano e e-metano são algumas das várias possibilidades para descarbonizar este setor.

Mas, para desenvolver infraestrutura compatível com combustíveis neutros em carbono, o montante de recursos varia de US$ 28 bilhões a US$ 90 bilhões anuais até 2050 e as despesas anuais com combustíveis para alcançar o net zero podem aumentar entre 70% e 100%, segundo a Unctad, o que coloca mais pressão por mecanismos para incentivar o desenvolvimento dessas cadeias o quanto antes.

Conheça algumas iniciativas de descarbonização do frete marítimo:

Metanol de resíduos florestais

O Brasil está entre os países mais bem posicionados para fornecer a energia limpa que vai abastecer a frota de navios do futuro.

As possibilidades vão de biodiesel a derivados hidrogênio, como amônia e metanol, e diferentes segmentos da indústria já estão de olho nelas.

Em entrevista à agência epbr, o head de Vendas da Thyssenkrupp Uhde para América do Sul, Luiz Antonio Mello, conta que a empresa está observando o desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde no Brasil, e enxerga que o setor de papel e celulose pode se destacar na produção de metanol verde.

O potencial está no aproveitamento dos resíduos da indústria florestal para capturar carbono biogênico e combiná-lo ao hidrogênio verde para obtenção de metanol.

“É um setor pouco falado, mas que tem um potencial enorme relativo ao hidrogênio verde”, avalia Mello. Leia na epbr

Curtas

Petroleiras árabes de olho no lítio

Saudi Aramco e Adnoc planejam extrair lítio da salmoura em seus campos de óleo e gás para atender o mercado de veículos elétricos, segundo reportagem da Reuters. Caso se confirme, a decisão segue uma tendência de outras empresas do setor, como ExxonMobil e Occidental Petroleum, que já possuem projetos de exploração do minério.

Eletrificação brasileira

A Volkswagen Caminhões e Ônibus confirmou, nesta terça (12/3), que dará início à produção de seu ônibus elétrico ainda em 2024. O modelo chamado e-Volksbus está em desenvolvimento no centro de engenharia da VWCO, em Resende (RJ).

Autoprodução impulsiona PPAs

Mapeamento da consultoria Cela indica que dos 23 acordos de longo prazo celebrados no último ano para compra de energia solar e eólica, 20 foram alocados no modelo de autoprodução. Segundo o estudo, os PPAs celebrados em 2023 equivalem a 969 MWmédios contratados.

Edifícios eficientes

O Parlamento Europeu aprovou uma nova lei, nesta terça (12/3), que exige que os estados-membros promovam a renovação de edifícios para torná-los mais eficientes em termos energéticos e reduzir as emissões de carbono. Os edifícios representam 40% do consumo de energia da União Europeia e a maioria é aquecida por combustíveis fósseis.

Commodities sem desmatamento

Uma missão liderada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e pela Rede Cerrado está na Europa desde o último domingo (10/3) para defender a inclusão dos ecossistemas não florestais na Regulação contra o Desmatamento da União Europeia (EUDR). A regulação busca impedir a importação de commodities que tenham relação com o desmatamento.