A transição explicada

México e Brasil, sinergias a favor da transição e do desenvolvimento 

Visita de Haddad abre caminho para cadeias produtivas binacionais com foco em descarbonização e comércio estratégico na AL, escrevem Rosana Santos e Luisa Sierra Brozon

Fernando Haddad se reúne com Claudia Sheinbaum, presidenta do México, durante viagem ao país em 7 de maio de 2025 (Foto Presidência do México)
Fernando Haddad se reúne com Claudia Sheinbaum, presidenta do México, durante viagem ao país em 7 de maio de 2025 (Foto Presidência do México)

A visita do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), ao México no início de maio inaugurou uma nova agenda entre os dois países, com potencial para se tornar um caso de sucesso de powershoring energético e reindustrialização verde na América Latina, por meio do estabelecimento de cadeias industriais de descarbonização com ganhos complementares e justos para ambos os países. 

O Brasil, com sua matriz energética relativamente limpa, está em posição de fazer avanços significativos em atividades industriais de alto valor agregado, como a produção e o processamento de minerais com rastreabilidade climática.

Isso é estratégico para que promova um verdadeiro salto em termos de adensamento tecnológico e fortalecimento de sua base industrial. 

O México, por sua vez, pode incorporar esses insumos descarbonizados na montagem de produtos, impulsionando a descarbonização de suas cadeias produtivas e fortalecendo sua posição exportadora em um contexto regulatório internacional mais exigente. 

Trata-se, portanto, de uma parceria complementar, em que o Brasil lideraria a transformação da base energética e industrial da cadeia, enquanto o México poderia mobilizar sua capacidade instalada para entregar produtos finais competitivos, resultando em uma plataforma regional de produção mais resiliente. 

Afinal, além de abrir espaço para acordos comerciais mutuamente vantajosos, tais alianças proporcionariam ao México uma alternativa para descarbonizar a economia, que depende fortemente de combustíveis fósseis.

Poderiam, assim, lhe permitir a ultrapassagem de barreiras às emissões de carbono, como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM), entre outras, assegurando novos destinos para a sua produção industrial.

Os benefícios conjuntos também incluem a complementaridade no acesso ao mercado e a possibilidade de formação de um bloco produtivo com uma visão de longo prazo, favorável ao fortalecimento industrial de ambos os países. 

Embora não incluída na agenda específica inicialmente acordada, a indústria siderúrgica brasileira é uma forte candidata nesse processo, tendo em vista principalmente a decisão do governo dos Estados Unidos de dobrar, para 50%, as tarifas de importação de aço praticadas pelo país. 

Com uma pegada de carbono inferior à média mundial, o Brasil pode fornecer aço de baixas emissões para a fabricação, no México, de produtos como autopeças, inclusive para veículos elétricos, voltados a mercados exigentes como o europeu. 

Propostas semelhantes podem ser estruturadas em várias outras cadeias produtivas, como as das chamadas matérias-primas críticas, como o silício e as terras raras, que são elementos fundamentais para os setores da tecnologia e da transição energética.  

Além disso, apesar dos potenciais benefícios para ambas as partes, há desafios que precisam de ser enfrentados, dada a variedade de aspectos considerados nas relações comerciais.

O desenvolvimento dessa agenda pressupõe o alargamento da gama de produtos abrangidos pelas possibilidades de colaboração, inicialmente centradas no hidrogênio de baixas emissões, produtos farmacêuticos, etanol e produtos alimentícios, sendo que todas as alternativas têm de ser estudadas de maneira detalhada.

Vale ressaltar ainda a necessidade de harmonização regulatória para a estruturação de novos acordos.  

Essa agenda também depende de acordos para a valorização de produtos de baixas emissões. Além disso, as parcerias podem exigir uma ação de colaboração para resolver lacunas de infraestrutura, desafios logísticos e escassez de mão de obra qualificada. 

Por fim, dado o interesse comercial imediato de acordos desse tipo, o Brasil deve estar disposto a oferecer contrapartidas, como acordos tecnológicos, a formação de joint ventures ou a abertura de mercados para produtos fabricados no México. 

Conforme noticiado pela imprensa brasileira, citando o ministro, será criado um grupo de trabalho entre os países “para não adiar mais” as possibilidades de maior aproximação entre os países, “e para evitar que o curto prazo” seja difícil de ser abordado.

Esse sentido de urgência e de compromisso é exatamente o que precisamos para aprofundar uma relação que tem tudo para se tornar uma agenda ganha-ganha para a transição energética e o desenvolvimento socioeconômico das duas principais economias da América Latina


Rosana Santos é diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética.

Rosana Santos é diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética.

Luisa Sierra Brozon é diretora-executiva do Instituto de Desarrollo Energía y Ambiente (Idea) do México (Foto Divulgação)

Luisa Sierra Brozon é diretora-executiva do Instituto de Desarrollo Energía y Ambiente (Idea) do México. 

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