RIO — A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), defendeu nesta terça (18/3) a necessidade de um balanço ético que traga demandas da população mundial para a COP30, em Belém, além da construção de um “mapa do caminho” para o abandono dos combustíveis fósseis.
O objetivo, além de mobilizar US$ 1,3 trilhão em financiamento climático, especialmente para países de baixa renda, é chegar à COP30 com um plano concreto de ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
“Como tivemos o balanço geral antes da COP28, que foi a base para as decisões que tomamos em Dubai, que a gente faça um balanço ético envolvendo diferentes segmentos da sociedade mundial”, disse a ministra, durante a conferência global da Coalizão Clima e Ar Limpo (CCAC), que reuniu pesquisadores e representantes de mais de 90 países em Brasília.
Segundo Silva, a ideia é reunir cientistas, filósofos, lideranças religiosas, ativistas, jovens, mulheres e populações locais, em diferentes regiões do mundo, principalmente de áreas mais afetadas pelas mudanças climáticas, em “pontos considerados já de não retorno”, para que eles “possam dar um termo de referência”.
“Vamos ter que fazer o mapa do caminho para o fim de combustível fóssil, para o fim de desmatamento, e para conseguir US$ 1,3 trilhão”, defendeu Marina.
Nesta terça, um grupo de mais de 260 organizações de diversos países divulgou uma carta (.pdf), cobrando da presidência da COP30 a adoção de mecanismos eficazes de transparência e medidas contra a influência indevida do lobby dos combustíveis fósseis e agronegócio.
Defesa pelo multilateralismo
A ministra também defendeu o multilateralismo e a cooperação internacional em um momento marcado por conflitos e pelo crescimento de discursos negacionistas.
“Meu desejo é que mais do que um encontro entre países, a gente possa fazer uma coalizão de alta ambição climática (…) O multilateralismo climático, o multilateralismo na agenda de saúde é algo que a gente não pode abrir mão”.
A declaração vem em meio às decisões do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de abandonar o Acordo de Paris e a Organização Mundial da Saúde (OMS), movimento seguido também pelo presidente da Argentina, Javier Milei.
Marina comparou a situação climática ao período da pandemia de Covid-19, destacando que somente com ações coordenadas entre países foi possível enfrentar a crise sanitária.
“Só conseguimos uma boa resposta em relação à Covid-19 porque foi um esforço de todos, independente das nossas disputas políticas e econômicas. O mesmo precisa acontecer com a crise climática”, afirmou.
Impactos dos superpoluentes
A ministra também alertou para o impacto dos superpoluentes, gases de efeito estufa de curta duração, como o metano, o carbono negro e os hidrofluorcarbonetos (HFCs), — tema do evento —, e defendeu o aproveitamento de resíduos orgânicos para produção de bioenergia e bioinsumos.
“Sabemos que os superpoluentes são responsáveis por praticamente a metade dos gases que levam à mudança do clima. Isso é algo que podemos enfrentar, sobretudo em relação aos resíduos orgânicos, que podem ser utilizados para gerar energia e bioinsumos”, explicou.
Eliane Ignotti, coordenadora-geral de vigilância em saúde ambiental do Ministério da Saúde, lembrou os impactos dos superpoluentes na saúde.
“A poluição do ar é apontada pela Organização Mundial da Saúde como o maior risco ambiental para a saúde no mundo”, afirmou.
A pasta estima que, entre 2021 e 2023, 300 mil mortes no Brasil ocorreram devido à exposição a poluentes atmosféricos, com uma média de 100 mil mortes anuais.
Além da queima de combustíveis, Ignotti lembra que os superpoluentes também decorrem dos incêndios florestais e do uso de lenha e carvão para cocção.
“No Brasil, pelo menos 10 mil mortes foram ocasionadas pela poluição do ar intradomiciliar somente em 2023”, destacou.
Ignotti enfatizou que os custos da poluição do ar para a saúde pública no Brasil são elevados, impactando o Sistema Único de Saúde (SUS) e causando perdas econômicas expressivas, especialmente em gastos com internações e tratamentos de doenças respiratórias e cardiovasculares.
“Há alguns estudos científicos que mostram um impacto econômico de US$ 500 milhões por ano em média. Há também impactos indiretos, como perdas de produtividade e absenteísmo no trabalho, que agravam ainda mais o problema, sem mencionar as estimativas de custos relacionados às vidas perdidas”, disse a coordenadora.