RECIFE — As fortes chuvas que inundaram o estado de Pernambuco na última semana acenderam um alerta para a urgência de tratar com seriedade as mudanças climáticas. No Brasil, mais de 25% das mortes por chuvas nos últimos nove anos ocorreram em 2022, de acordo com um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
A CNM mostra que, no período de 1º de janeiro de 2013 a 31 de maio de 2022, 1.756 óbitos foram contabilizados, sendo 457 apenas neste ano. A lista não notificou todas as mortes ocorridas em Pernambuco, que chegaram a 128 até esta sexta-feira (3/5).
Antes de 2022, o ano mais letal por chuvas no país era 2019, com 297 mortes registradas, seguido por 2021 quando foram notificados 290 óbitos e 2020, com 216, de acordo com o Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres do Ministério do Desenvolvimento Regional (S2ID/MDR).
Essa foi a pior tragédia em Pernambuco desde a enchente que tomou conta do estado em 1975, onde 104 pessoas perderam a vida.
“As prefeituras não têm capacidade técnica e financeira para atuarem sozinhas, e a Lei 12.608/2012, do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sinpdec), prevê também responsabilidades da União e dos Estados para redução dos riscos de desastres”, observa a CNM.
O estudo sobre desastres naturais, publicado em abril, mostrou que durante os anos de 2010 a 2021 foram autorizados, no orçamento federal, R$ 36,5 bilhões para ações de gestão de risco, prevenção, respostas a desastres e recuperação de áreas destruídas ou danificadas.
No entanto, nesse período, o governo federal liberou apenas R$ 15,3 bilhões, valor inferior à metade do esperado para evitar que tragédias mais recentes, como as que ocorreram em Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia, por exemplo, pudessem ser evitadas.
O valor para prevenção, porém, é mínimo. Em 2020, apenas R$ 211 mil foram destinados pela União para ações de prevenção.
Extremos climáticos cada vez mais letais
De acordo com o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC, sigla em inglês), entre os anos de 2010 a 2020, o número de mortes causadas por inundações, secas e tempestades foi 15 vezes maior.
A situação se agrava porque os maiores impactados são pessoas em situação de vulnerabilidade, que vivem em lugares com menos infraestrutura e acesso a serviços básicos como saúde e locomoção, por exemplo.
Ainda segundo o levantamento da ONU, mais de 3 bilhões de pessoas vivem em espaços mais suscetíveis às mudanças climáticas. Os lugares com taxas de vulnerabilidade mais altas estão particularmente situados na África Ocidental, Central e Oriental; Sul da Ásia; América Central e do Sul.
Chuvas assolam o Recife
No Brasil, Pernambuco se juntou nas últimas semanas aos estados vítimas dos extremos climáticos que tendem a se tornar cada vez mais frequentes caso o mundo não consiga limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o fim do século, como alertam os cientistas.
Só nos últimos seis meses, tivemos situações semelhantes no início do ano em Petrópolis, no Rio, e em São Paulo, além das chuvas que assolaram o sul da Bahia, no final do ano passado.
- COP27, justiça climática e as lições de Petrópolis Relatório mais recente do IPCC atribui ao aquecimento médio de 1°C o aumento de 30% nas inundações
Vale lembrar que o governo brasileiro vem jogando contra quando o assunto é conter as emissões de carbono que causam as alterações climáticas.
Levantamento do MapBiomas, rede colaborativa de ONGs, universidades e startups, mostra que quase 98% dos alertas de desmatamento no Brasil desde janeiro de 2019 não possuem registro de ação de fiscalização ou autorização — no ano passado, as queimadas fizeram com que a Amazônia perdesse sua capacidade de absorver CO₂ e se tornasse uma emissora.