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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 04/04/22
Editada por Nayara Machado
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Políticas públicas para o clima adotadas no mundo até o final de 2020 levarão a Terra a um aquecimento de 3,2ºC no fim do século, mais do que o dobro do limite do Acordo de Paris, mostra relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Lançado nesta segunda (4/4), o documento alerta que os próximos três anos serão definitivos para cortar os gases de efeito estufa se quisermos chegar a 2050 com emissões líquidas zero.
“Sem reduções imediatas e profundas de emissões em todos os setores, limitar o aquecimento global a 1,5°C está fora de alcance”, dizem os cientistas.
O alerta chega em um momento crítico, já que a guerra da Rússia e as preocupações com o abastecimento de energia têm levado países a defender o aumento da produção de óleo em 2022.
O IPCC, que reúne cientistas de 195 países, reconhece avanços nas ações climáticas de 2010 para cá — como reduções de até 85% nos custos de energia solar e eólica e baterias, melhorias em eficiência energética, menores taxas de desmatamento e aceleração nos projetos de renováveis.
Mesmo assim, entre 2010 e 2019, as emissões globais médias atingiram os níveis mais altos da história da humanidade: 59 bilhões de toneladas de CO2 por ano.
“Estamos em cruzamento. As decisões que tomamos agora podem garantir um futuro habitável. Temos as ferramentas e o know-how necessários para limitar o aquecimento”, disse o presidente do IPCC, Hoesung Lee.
O relatório publicado hoje traz um resumo para formuladores de políticas avançarem na mitigação. Veja em inglês
IPCC indica opções em todos os setores
Limitar o aquecimento global exigirá grandes transições no setor de energia. Mas não só.
“Ter as políticas, infraestrutura e tecnologia corretas para permitir mudanças em nosso estilo de vida e comportamento pode resultar em uma redução de 40-70% nas emissões de gases de efeito estufa até 2050. Isso oferece um potencial significativo inexplorado”, disse o co-presidente do Grupo de Trabalho III do IPCC Priyadarshi Shukla.
Cidades e outras áreas urbanas também oferecem oportunidades significativas de redução de emissões, por meio de menor consumo de energia (como a criação de cidades compactas que privilegiam os pedestres), eletrificação do transporte combinada com fontes de energia de baixa emissão e maior absorção e armazenamento de carbono usando a natureza.
Já na indústria, responsável por cerca de um quarto das emissões globais, envolverá o uso de materiais de forma mais eficiente, reutilização e reciclagem de produtos, junto com a redução do desperdício.
Para materiais básicos, incluindo aço, materiais de construção e produtos químicos, os processos de produção com baixa ou zero emissão estão em estágio piloto para quase comercial.
“Alcançar o zero líquido será um desafio e exigirá novos processos de produção, eletricidade de baixa e zero emissões, hidrogênio e, quando necessário, captura e armazenamento de carbono”, completa o documento.
Agricultura, silvicultura e outros usos da terra podem proporcionar reduções de emissões em larga escala e também remover e armazenar dióxido de carbono em escala.
“No entanto, a terra não pode compensar as reduções de emissões atrasadas em outros setores. As opções de resposta podem beneficiar a biodiversidade, nos ajudar a nos adaptar às mudanças climáticas e garantir meios de subsistência, alimentos e água e suprimentos de madeira”, destaca.
Transições no setor de energia
O mundo tem hoje condições de cortar emissões pela metade em 2030 em relação a 2019 com estratégias e tecnologias de mitigação que custam até US$ 100 a tonelada. Metade dessas estratégias custa menos de US$ 20 a tonelada.
No setor de energia, em especial em eólica e solar, há potencial de redução a custo negativo.
Ao relacionar 21 recados fundamentais do novo relatório do IPCC, o Observatório do Clima chama a atenção para a infraestrutura fóssil existente e planejada, cujas emissões de carbono comprometidas seriam suficientes para impedir o cumprimento da meta de 1,5ºC.
“O recado tácito do IPCC é que esses projetos precisarão ser descontinuados ou ter suas emissões compensadas de alguma forma”, diz o OC.
Uso de carvão mineral precisa cair 95%, petróleo 60% e gás natural 45% até 2050.
“Isso significa que a indústria fóssil poderá ter ativos encalhados”, completa a organização.
Nos cálculos do IPCC, a estabilização da temperatura global em 2ºC significa US$ 1 trilhão a US$ 4 trilhões entre 2015 e 2050 de ativos fósseis em risco de encalhe.
Ativos de carvão podem encalhar já em 2030.
“É um alerta para o Brasil, que vem ampliando investimentos no pré-sal e neste ano sancionou uma lei permitindo a construção de novas termelétricas a carvão até 2040”, critica o OC.
Outro ponto é que um corte mais rápido nas emissões reduzirá a necessidade das estratégias de remoção de carbono — principal aposta dos planos Net Zero e alvo de críticas de ambientalistas.
Vale um destaque: Também lançado hoje, o Global Wind Report 2022 aponta que a indústria eólica teve seu segundo melhor ano em 2021, com quase 94 GW de capacidade adicionada globalmente. A capacidade total acumulada chegou a 837 GW.
A taxa é 1,8% menor do que o crescimento ano a ano em 2020.
Enquanto os dois maiores mercados do mundo, China e EUA, instalaram menos capacidade eólica terrestre no ano passado — 30,7 GW e 12,7 GW, respectivamente — outras regiões tiveram anos recordes.
Europa, América Latina e África e Oriente Médio aumentaram as novas instalações onshore em 19%, 27% e 120%, respectivamente.
O Brasil subiu mais uma posição no Ranking de Capacidade Total Instalada de Energia Eólica Onshore e ocupa agora a 6ª posição, com 21,5 GW.
O mercado eólico offshore teve seu melhor ano em 2021, com 21,1 GW comissionado — três vezes mais do que no ano anterior. A China foi responsável por 80% desse crescimento, ultrapassando o Reino Unido como o maior mercado em instalações cumulativas.
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