Diálogos da Transição

Investidores reconhecem metas, mas cobram estratégias para descarbonização

Iniciativa avaliou o progresso de 166 empresas, respondendo por até 80% das emissões de gases de efeito estufa da indústria

Investidores reconhecem metas, mas cobram estratégias para descarbonização. Na imagem: Usina elétrica Ruskin, na Flórida (EUA) emitindo grande volume de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera (Foto: Rebecca Humann/Pixabay)
A Climate Action 100+ descobriu que apenas 17% das 166 empresas possuem estratégias robustas e quantificadas para reduzir emissões de GEE em linha com o limite de 1,5°C (Foto: Rebecca Humann/Pixabay)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 31/03/22
Apresentada por

Editada por Nayara Machado
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Novas avaliações divulgadas hoje pela Climate Action 100+, iniciativa global de engajamento de investidores sobre mudanças climáticas, mostram que as empresas estão estabelecendo metas de redução de emissões, mas não têm estratégias para cumpri-las.

A iniciativa avaliou o progresso de 166 empresas, respondendo por até 80% das emissões de gases de efeito estufa industriais, em relação ao alinhamento dos negócios com os objetivos do Acordo de Paris.

E descobriu que apenas 17% delas possuem estratégias robustas e quantificadas para reduzir emissões de gases de efeito estufa em linha com o limite de aquecimento do planeta em 1,5°C.

Menos de um terço das empresas de energia elétrica têm um plano de eliminação gradual do carvão consistente com a limitação do aquecimento global a menos de 2°C.

“Isso é preocupante, pois o roteiro Net Zero 2050 da IEA diz que, para manter 1,5°C vivo, a energia a carvão deve ser eliminada gradualmente nas economias avançadas até 2030 e globalmente até 2040”, comenta o Climate Action.

Entre as empresas de petróleo e gás, quase dois terços ainda estão sancionando projetos inconsistentes com a meta de 2°C.

“Há uma lacuna considerável entre o que as empresas estão dizendo publicamente sobre o lobby climático e o que estão fazendo na prática”.

Quase nenhuma intensidade de emissões de empresas de aço, cimento ou aviação está alinhada com a limitação do aquecimento global a menos de 2°C.

A maioria das empresas de serviços públicos não está adicionando energias renováveis ​​e outras tecnologias de baixo carbono com rapidez suficiente para limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Da mesma forma, a maioria das empresas automobilísticas não está eliminando gradualmente os veículos com motor a combustão interna e adicionando veículos elétricos e híbridos na velocidade necessária para 1,5°C.

“No geral, o Net Zero Company Benchmark mostra claramente que as empresas em foco não estão fazendo o progresso necessário para se alinhar ao alcance da meta climática de 1,5°C”, comenta Stephanie Maier, diretora da GAM Investments e presidente do Comitê Diretor Global de Ação Climática 100+.

“Dado que essas empresas representam os maiores emissores corporativos de gases de efeito estufa do mundo, sua ambição e ritmo de mudança são fundamentais para uma transição bem-sucedida e precisam ser aceleradas”, completa.

A executiva cobra maior ambição climática também dos investidores.

“O último relatório do IPCC delineou claramente o imperativo social e econômico para isso. Como consequência, devemos esperar um aumento nas resoluções dos acionistas lideradas por investidores, bem como um maior escrutínio sobre os planos de transição levados à votação, começando com a iminente temporada de AGM [reuniões anuais de conselhos]”.

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O levantamento ainda destaca que apenas 17% das empresas foco estabeleceram metas de médio prazo alinhadas com o cenário de emissões líquidas zero da Agência Internacional de Energia. Veja aqui (em inglês)

E o Escopo 3 continua de fora na maioria dos casos. Só 42% têm compromissos que incluem as emissões indiretas.

  • As emissões de Escopo 1 são resultado direto das atividades; Escopo 2, consumo de energia; Escopo 3 são emissões da cadeia de suprimentos e produtos.

Além disso, 5% das empresas analisadas se comprometem explicitamente a alinhar seus planos de capex com suas metas de redução de gases de efeito estufa de longo prazo.

Outro problema é a falha na integração do risco climático na contabilidade e nas auditorias.

Nenhuma empresa mostrou que suas demonstrações financeiras são elaboradas com premissas consistentes com a descarbonização.

Brasil recebe apoio de 63 países para um novo fundo ambiental. Após enfrentar descrédito, uma proposta brasileira para criar um novo fundo global para a biodiversidade recebeu apoio de 63 países na terça (29/3) — um dia antes do julgamento no STF de ações contra a gestão de Bolsonaro [ou falta dela] na área ambiental — , uma delas inclusive sobre congelamento de fundos [leia mais abaixo].

O apoio foi anunciado no último dia da reunião interseccional da Convenção de Biodiversidade da ONU, que prepara um acordo para aumentar a proteção das áreas biodiversas do planeta até 2050.

Assinam o posicionamento conjunto o grupo africano (bloco de negociação com 54 países), Argentina, Bolívia, Brasil, Cuba, República Dominicana, Equador, Guatemala, Índia, Paquistão e Venezuela.

O grupo pediu que o bloco de países ricos providencie “pelo menos US$ 100 bilhões por ano, inicialmente, subindo para US$ 700 bilhões anuais até 2030”.

A cifra de US$ 100 bilhões anuais foi inspirada na verba prometida ainda em 2009 pelos países desenvolvidos para o combate às mudanças climáticas, mas que até hoje não foi cumprida. Folhapress

STF retoma julgamento da ‘pauta verde’. O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) retoma hoje (31/3) o julgamento conjunto da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 760 e da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 54 que tratam do desmatamento na Floresta Amazônica.

Nas ações, PSB e Rede alegam omissão pela União, pelo presidente e pelo ministro do Meio Ambiente em coibir o desmatamento e em executar um plano de prevenção ao desflorestamento.

Também pode ser julgada a ADO 59. Nela, quatro partidos alegam omissão por parte da União em relação à paralisação do Fundo Amazônia e do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima).

Segundo eles, a União está deixando de disponibilizar R$ 1,5 bilhão, já em conta, que legalmente devem ser desempenhados para financiar projetos de preservação na Amazônia Legal. Jota

Veja o resumo elaborado pelo Observatório do Clima dos processos na Pauta Verde (.pdf)

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