A inovação nas matrizes energéticas está redefinindo o papel da gestão de riscos no setor. À medida que tecnologias emergentes ganham escala e novos modelos operacionais se consolidam, os riscos tornam-se mais interdependentes, complexos e, muitas vezes, inéditos.
Essa transição, mais marcada pela adição de múltiplas soluções energéticas do que pela substituição de fontes fósseis, exige das organizações uma atuação estratégica em um ambiente volátil, moldado por mudanças regulatórias, avanços tecnológicos, riscos climáticos, pressões ESG e tensões geopolíticas.
Os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, por exemplo, evidenciam como o suprimento energético é vulnerável a fatores externos, reforçando a urgência de uma gestão de riscos integrada.
O Brasil, por sua vez, ocupa uma posição privilegiada. Com uma matriz elétrica majoritariamente renovável e políticas públicas que favorecem a inovação, o país lidera a transição energética na América Latina.
Esse protagonismo, no entanto, exige preparo. A incorporação de novas fontes e tecnologias demanda uma governança sólida e robusta, além de uma gestão de riscos alinhada aos desafios técnicos, regulatórios e reputacionais que acompanham essa transformação.
Como lidar com tecnologias ainda em amadurecimento? Como antecipar falhas em infraestrutura crítica? E como responder às exigências crescentes de investidores e reguladores, especialmente em relação aos riscos climáticos?
Nesse contexto, a gestão de riscos deixa de ser uma atividade acessória para ocupar uma posição estratégica. Mais do que um mecanismo de controle, ela se torna um pilar para decisões sustentáveis em um ambiente de transformação constante.
Trata-se da capacidade de mapear incertezas operacionais, financeiras, climáticas e geopolíticas, e transformá-las em respostas estruturadas, coerentes com os objetivos do negócio.
Isso envolve conectar análises técnicas a cenários extremos, simular impactos, preparar respostas antecipadas e integrar os riscos à tomada de decisão.
Entre os desafios mais sensíveis estão a fragilidade das cadeias globais de fornecimento, a dependência da importação de insumos críticos como placas solares, os entraves logísticos do biometano, as incertezas tecnológicas do hidrogênio verde e a evolução contínua dos marcos regulatórios.
São fatores que, se não forem bem administrados, podem comprometer a solidez de uma transição energética segura, competitiva e sustentável.
Construir um setor energético resiliente é um esforço coletivo, que envolve empresas, investidores e formuladores de políticas públicas.
O Brasil tem vocação renovável, capital humano qualificado e um arcabouço regulatório em evolução. Com uma gestão de riscos à altura desse desafio, o país tem a oportunidade de liderar a transição energética global com segurança, inovação e sustentabilidade.
Vanessa Falco é diretora de Riscos e Seguros na Horiens