Iniciativa tenta organizar reivindicações climáticas com créditos de carbono

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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A Iniciativa Voluntária de Integridade do Mercado de Carbono (VCMI) publicou nesta quarta (28/6) um código de conduta para orientar as empresas que adquirem créditos no mercado voluntário, na tentativa de tornar as reivindicações climáticas confiáveis.

Dúvidas sobre qualidade de projetos e seus reais impactos climáticos levaram o comércio voluntário de créditos de carbono a uma queda de 4% no ano passado – comparado a 2021 –, com as empresas adquirindo 155 milhões de compensações, mostra levantamento da BloombergNEF.

A oferta destes créditos cresceu pouco: apenas 2%, com 255 milhões de compensações criadas por projetos em todo o mundo.

Houve queda também na emissão de títulos por desmatamento evitado, que diminuiu em um terço na comparação anual.

Os números refletem preocupação entre as empresas com a reputação do mecanismo, após recorrentes denúncias de greenwashing por comprarem compensações de projetos de impacto ambiental questionável.

O Código de Prática de Reivindicações da VCMI busca organizar esse mercado, atuando do lado dos compradores de créditos.

A iniciativa sediada na Rockefeller Philanthropy Advisors foi anunciada em março de 2021 pelo presidente designado da 26ª Conferência Climática da ONU (COP26), Alok Sharma.

E recebeu cofinanciamento da Children’s Investment Fund Foundation, Ballmer Group, Bezos Earth Fund, Google, Packard Foundation e UK Department for Business, Energy e Estratégia Industrial (BEIS).

“Quando usados ​​com integridade, os mercados voluntários de carbono (VCM) podem acelerar a mitigação climática e os fluxos de capital para economias emergentes e contribuir significativamente para as metas do Acordo de Paris e os ODS da ONU”, justifica o grupo em nota.

• Na epbr: Qual o papel do mercado voluntário de carbono?

As regras

Em resumo, o código prevê parâmetros de integridade para créditos voluntários, reivindicações alinhadas com emissões líquidas zero – que é o objetivo final de todo esse movimento.

No detalhe, desenha três níveis de reivindicações que as empresas podem fazer – Platinum, Gold e Silver – cada um reconhecendo o grau de investimento que uma empresa faz para reduzir e remover suas emissões “acima e além da ação corporativa para atingir suas metas alinhadas à ciência”, explica o documento. Veja em inglês (.pdf)

Para fazer uma reivindicação dentro dos padrões VCMI, será preciso seguir alguns passos:

• Atender aos critérios fundamentais como transparência nas divulgações de emissões e metas, alinhamento científico com o zero líquido, e demonstrar que “não representa uma barreira para uma regulamentação climática ambiciosa”;
• Platinum, Gold ou Silver? Enquadrar nos padrões de qualidade de acordo com os Princípios Fundamentais de Carbono (CCPs) do Conselho de Integridade para Mercados Voluntários de Carbono (IC-VCM);
• Obter garantia de terceiros sobre as informações relatadas. Demonstrar que os critérios fundamentais e os requisitos específicos foram atendidos e divulgar as principais informações relacionadas aos créditos de carbono adquiridos.

Um passo à frente, mas a porta ficou aberta

Para o Carbon Market Watch, observatório especializado em precificação de carbono, a orientação para o setor privado é um passo na direção para conter o greenwashing.

“A compensação está em declínio em muitos países ao redor do mundo”, observa Lindsay Otis, especialista em políticas de mercados globais de carbono  da Carbon Market Watch.

“Embora a orientação do VCMI deixe algumas portas abertas para as empresas exagerarem seus impactos, ela vai na direção certa e ajudará a reduzir as práticas de greenwashing. Em seguida, será importante definir claramente quais reivindicações reais as empresas podem ou não fazer”, continua.

Na visão da especialista, mesmo com os fortes requisitos descritos no livro de regras, a porta deve ser “inequivocamente fechada” diante das alegações de “neutralidade do carbono”.

Ainda assim, alguns elementos deixam muito espaço de manobra para as empresas, avalia.

Uma delas é a possibilidade de estabelecer metas de redução de emissões de gases de efeito estufa com base na intensidade, em vez de metas absolutas.

Além disso, a abrangência das metas de redução de curto prazo das emissões indiretas de uma empresa (escopo 3) não precisa ultrapassar 67% das emissões contempladas nesse escopo.

“Ambos são requisitos que o VCMI copiou da Science-Based Targets Initiative (SBTI)”, destaca.

A organização também critica as classificações “platina, ouro e prata” por serem imprecisas, com potencial de levar a confusões na interpretação.

“Definir melhor a terminologia exata em torno dessas reivindicações será um elemento importante do trabalho que a VCMI anunciou para os próximos meses”, completa Otis.

Cobrimos por aqui:

• COP27 abriu porta para acordos secretos de mercados de carbono, diz organização
• Brasil pode suprir quase metade da demanda global de créditos de carbono até 2030
• Um roteiro para emissões líquidas zero sem greenwashing
• Preço do carbono é muito baixo para garantir redução das emissões, alerta relatório

Curtas

Brasil terá mercado regulado de carbono antes da COP28?

O país busca aprovar um marco regulatório para o mercado de carbono antes da cúpula climática da Organização das Nações Unidas (ONU), marcada para novembro. Uma história que se repete desde 2021.

O governo prepara um texto para apresentar ao Congresso Nacional com apoio do setor industrial. A CNI calcula receitas de até R$ 128 bilhões a partir da criação de um mercado que defina um limite de emissões para as empresas. Entenda

Lightsource bp estuda expansão de geração solar no Ceará

A empresa está de olho no futuro mercado de hidrogênio. O grupo assinou um memorando de entendimento com o governo do estado com objetivo de fornecer eletricidade sustentável e competitiva para a indústria.

Fabricação nacional

A Renovigi incluiu no portfólio uma linha de painéis solares fabricados no Brasil, de olho no Finame Baixo Carbono do BNDES. De acordo com grupo, o custo para a produção no Brasil é mais alto, porém, é necessário para o credenciamento do produto junto ao Finame.

Expectativa é oferecer soluções mais atrativas para projetos de pequeno a grande porte, rurais ou industriais, com tempo de carência e prazo para pagamentos maiores.

Aluguel com desconto verde

Em Londres, as mudanças climáticas estão cada vez mais refletidas no custo de comprar ou alugar um imóvel. Espaços de escritórios na capital do Reino Unido classificados como “verdes” em virtude de uma certificação de sustentabilidade recebem um prêmio de 20% sobre prédios sem esses rótulos, de acordo com dados compilados pela corretora de imóveis Jones Lang LaSalle. Bloomberg

Soja para biodiesel

O Grupo Potencial está investindo R$ 1,7 bilhão na construção de uma das maiores esmagadoras de soja do Brasil. O empreendimento está sendo construído no complexo industrial do grupo município da Lapa (PR), próximo à sua usina de biodiesel – hoje a maior do Brasil e a terceira maior do mundo.

O mercado de industrialização de soja é a nova aposta da Potencial, que pretende se posicionar entre os líderes mundiais do setor, com capacidade de processamento de 3,5 mil toneladas/dia, o que equivale a 1,15 milhão de toneladas de soja por ano.