O primeiro-ministro francês, Jean Castex, verbalizou nesta sexta (18) a oposição do governo do país ao acordo entre a União Europeia e o Mercosul. Em uma postagem no twitter, Castex criticou o desmatamento que “ameaça a biodiversidade e perturba o clima” e afirmou que os compromissos ambientais da França e da Europa impedem o acordo.
Nesta sexta (18), o primeiro-ministro recebeu de Stefan Ambec, economista ambiental da Escola de Economia de Toulouse e presidente da Comissão Independente de Avaliação do acordo com o Mercosul, um relatório apontando impactos ambientais devem ser provocados caso a negociação seja ratificada.
A França é, historicamente, a principal voz contra o acordo entre UE e Mercosul na Europa graças ao forte lobby do setor agropecuário do país, que impõe dificuldades, por exemplo, à abertura do mercado ao etanol brasileiro.
La déforestation met en péril la biodiversité et dérègle le climat.
Le rapport remis par Stefan Ambec conforte la position de la France de s’opposer au projet d’accord UE-Mercosur, en l’état.
Il en va de la cohérence des engagements environnementaux de notre pays et de l'Europe. pic.twitter.com/MhMp4iXmlJ— Jean Castex (@JeanCASTEX) September 18, 2020
O texto de 193 páginas indica como cenário mais provável que o custo ambiental do acordo seria maior do que benefícios econômicos para a Europa. O desmatamento pode crescer exponencialmente na região como resultado da maior abertura do mercado europeu à carne e também à cana-de-açúcar, diz o documento.
A maior abertura do mercado de carne elevaria em 5% as taxas de desmatamento anuais nos países do Mercosul, colocando em risco uma área de 700 mil hectares, dos quais 276 mil hectares estariam no Brasil e 334 mil hectares, na Argentina.
Caso seja considerada a superfície necessária para plantações destinadas à alimentação animal ou aumento da área plantada para o cultivo da cana-de-açúcar, essa taxa pode chegar a 25%.
No cenário mais pessimista, que não é consenso na comissão independente, o acordo seria responsável no futuro por até metade do desmatamento da região.
No total, as emissões adicionais atribuíveis ao acordo seriam entre 4,7 e 6,8 milhões toneladas de CO2 equivalente. O custo ambiental medido a partir dessas emissões – com base em um custo unitário de 250 euros por tonelada de CO2 – seria maior do que os benefícios econômicos, conclui o documento.
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Para Mourão, desmatamento em território francês não é criticado
Em resposta, o vice-presidente Hamilton Mourão criticou a Guiana Francesa – “lá, temos mineração ilegal e desmatamento também, mas ninguém fala disso” – e afirmou que o acordo Mercosul-UE será bom para todas as partes.
O texto entregue nesta sexta é o resultado de um ano de trabalho da Comissão Independente de Avaliação, criada por determinação do próprio primeiro-ministro em julho de 2019. Durante a reunião do G7 no ano passado, o presidente Emmanuel Macron já indicava resistência à assinatura do acordo nas circunstâncias atuais, dados os rumos das políticas públicas ambientais vistas na América do Sul que vão contra os compromissos do Acordo de Paris.
Macron mirava o governo brasileiro, que naquele mês enfrentava uma onda de críticas internacionais graças ao avanço das queimadas na Amazônia.
Também em julho daquele ano o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, cancelou de última hora uma audiência com o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, para cortar o cabelo. A reunião trataria justamente da pauta ambiental. Na época, Bolsonaro afirmou que não aceitaria imposições de países estrangeiros.
A Comissão Europeia estuda a possibilidade de separar o acordo comercial do restante das negociações entre os blocos.
A estratégia seria o caminho para acelerar a queda de barreiras comerciais dos dois lados sem o entrave de outras negociações, como as ressalvas ambientais que vem sendo feitas por líderes europeus desde o ano passado, informa o Valor Econômico.
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