Agendas da COP

Fazenda e BID planejam plataforma de hedge para investimentos verdes

Expectativa é mobilizar coberturas de até US$ 3,4 bilhões para reduzir risco cambial de investimentos alinhados ao Plano de Transformação Ecológica do Brasil

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do BID, Ilan Goldfajn, durante anúncio de cooperação em plataforma de hedge para investimentos verdes (Foto: Sergio Gonzalez/BID)
Fazenda e BID planejam plataforma para atrair recursos de longo prazo para adaptação e mitigação ambiental (Foto: Sergio Gonzalez/BID)

BRASÍLIA – Ministério da Fazenda e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) disseram nesta sexta (1/12) que iniciaram a criação de uma plataforma para reduzir o risco cambial de investimentos alinhados aos princípios socioambientais e de adaptação e mitigação de mudança do clima.

Com expectativa de mobilizar coberturas de até US$ 3,4 bilhões, a ideia é atrair investimento verde, dentro do Plano de Transformação Ecológica estruturado pela Fazenda, e divulgado por Haddad na COP28 nesta sexta-feira.

Um dos pilares do plano é a mobilização de investimento estrangeiro direto, principalmente de longo prazo, para financiar iniciativas que coloquem o país em uma trajetória alinhada com as metas do Acordo de Paris.

“Esse instrumento visa minimizar os impactos de movimentos inesperados na taxa de câmbio, desencadeados por eventos econômicos extremos, os quais poderiam ter influência negativa na decisão de investir em países como o Brasil”, disse o ministro Fernando Haddad, durante o lançamento da iniciativa na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), em Dubai.

De acordo com Haddad, a plataforma deve estar pronta para ser apresentada ao mercado em 2024.

Atração de investimentos diretos

Historicamente, países de renda média e baixa, como o Brasil, têm maior dificuldade de acesso a recursos, pelo risco cambial associado aos investimentos e fluxos financeiros internacionais.

A plataforma, quando concluída, terá três dimensões: swaps totais, linhas de créditos para liquidez de investimentos em moeda estrangeira em caso de eventos de desvalorização cambial e mecanismos de cobertura de “riscos de cauda” para desvalorizações extremas.

E estará disponível para investimentos de adaptação e mitigação ambiental, como reflorestamento, infraestrutura resiliente a tempestade em cidades, transição energética, hidrogênio verde ou agricultura de baixo carbono.

Segundo a Fazenda, a intenção é dar mais segurança para a atração de investimento estrangeiro direito em ações de desenvolvimento sustentável e os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento podem ser instrumentais para viabilizar soluções.

“No BID estamos acompanhando os governos da região em seus esforços para atrair investimentos com impacto ambiental positivo e transformador. Para enfrentar o problema na escala necessária, as inovações financeiras e a participação do setor privado serão fundamentais”, afirmou Ilan Goldfajn, presidente do BID.

Títulos soberanos sustentáveis

Em meados de novembro, o Tesouro Nacional emitiu seu primeiro título soberano sustentável, captando US$ 2 bilhões com a emissão de papéis com taxa de retorno para o investidor de 6,50% ao ano e vencimento em 2031.

A procura superou a oferta em 300%, segundo o Tesouro. A maioria dos compradores foram da Europa e América do Norte, com 75% do total, e América Latina, incluindo o Brasil, com 25%.

A arquitetura destes títulos foi elaborada em uma parceria entre a Fazenda, o BID e o Banco Mundial. O BID também tem concluído negociações para a conversão de dívida por ações climáticas, como ocorreu no Equador (US$ 1,2 bilhão) e Barbados (US$ 300 milhões), e tem auxiliado nações a emitirem títulos verdes, como Chile, Uruguai e Colômbia.

Além disso, o banco tem o BID Clima, que dá desconto nos custos do financiamento de projetos se o mutuário atingir determinados resultados ambientais.