As ex-ministras do Meio Ambiente Marina Silva (2003 a 2008) e Izabella Teixeira (2010 a 2016) criticaram a ideia do atual chefe da pasta, Ricardo Salles, que quer pedir US$ 1 bilhão aos Estados Unidos para combater o desmatamento na Amazônia.
A proposta de Salles foi apresentada em reunião com representantes da equipe climática dos EUA, coordenada por John Kerry. A reunião antecipou os objetivos do Brasil na cúpula que o presidente americano Joe Biden vai realizar com 40 líderes mundiais para debater as mudanças no clima, dias 22 e 23 de abril.
“Vamos para a cúpula do presidente Biden com o pior cartão de visita, dizendo que só vamos fazer alguma coisa se nos pagarem”, criticou Marina Silva durante painel da Brazil Conference, nesta terça 13.
Marina aproveitou para lembrar a ausência de ações propositivas do Brasil na agenda ambiental do mundo.
“Falta compromisso político e ético. Hoje nós somos um pária. Não conseguimos fechar acordo com Mercosul, com a OCDE”, disse.
De acordo com Marina, o Brasil não é o lugar do problema, mas da solução.
“Se o mundo quiser produtos a partir de energia limpa, aqui nós podemos ter uma matriz energética 100% limpa. Se o mundo quer consumir produtos agrícolas de base sustentável, nós temos o programa agricultura de baixo carbono, que pode fazer que a nossa agricultura não precise derrubar mais um pé de árvore”, concluiu.
Para a ex-ministra Izabella Teixeira, o Brasil está vivendo “um negacionismo muito próximo ao obscurantismo”, quando se fala em políticas ambientais. E delegar a responsabilidade pela proteção da Amazônia a países estrangeiros afeta diretamente a soberania nacional.
“O discurso atual do país é de não responsabilidade, uma vez que ele não está cuidando do patrimônio ambiental que é do povo brasileiro (…) Não há como levar a questão do desmatamento como algo que é um ativo político. Isso é um passivo. Isso determina à Amazônia um vazio de poder, que é um espaço onde ninguém é dono”, afirmou a ex-ministra em outro painel da Brazil Conference.
Teixeira também ressaltou que ao deixar de ser protagonista na agenda ambiental, o Brasil perdeu seu principal soft power na diplomacia mundial.
“Amazônia é um tema geopolítico (…) A Amazônia nos interesses oferecidos pelo governo Biden de estreitar a cooperação bilateral eleva o tema à questão geopolítica”.
Em dezembro do ano passado, a epbr conversou ao vivo com Izabella Teixeira, que analisou o anúncio do governo para neutralizar emissões de gases de efeito estufa até 2060. Assista:
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Pressão econômica
Durante o evento, representantes da inciativa privada também demonstraram desagrado em relação às políticas ambientais do atual governo.
Fábio Alperovitch, da Fama Investimentos, destacou que as emissões brasileiras de gases do efeito estufa cresceram em 2020, apesar da queda do PIB, e que isso se deu principalmente por conta do desmatamento.
Além disso, o executivo criticou a revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que são os compromissos assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris.
“Nossas metas são tímidas para um país que quer ser protagonista na questão climática. A gente tem metas de ser carbono neutro em 2060, quando a gente deveria estar antecipando, deveríamos ser modelo para outros países”, disse Alperovitch.
Ele também criticou a falta de plano de transição energética da Petrobras.
“A principal estatal brasileira, que é de combustíveis fósseis, também não tem metas climáticas ambiciosas e não começou a fazer uma transição relevante para energias mais limpas”, concluiu.
Já Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), cobrou dos empresários brasileiros o dever de pressionar economicamente o governo exigindo políticas ambientais mais efetivas.
A Abag é uma das organizações que formam parte da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura — iniciativa que reúne 280 representantes do agronegócio, setor financeiro e academia –, que enviou na semana passada uma carta ao governo federal, pedindo mais ambição do Brasil nas metas climáticas.
“Passou da hora da sociedade empresarial brasileira sair do seu papel de omissão e dizer que realmente está na hora da gente dar um cavalo de pau na política ambiental desse país e dar uma novo rumo. Porque isso é chave para o nosso desenvolvimento”, defendeu Brito.
Para ele, combater o desmatamento na Amazônia é fundamental para atrair investimentos estrangeiros ao país e fortalecer a imagem do agronegócio brasileiro internacionalmente.
“Temos tudo para sair a partir da COP (26) deste ano, se conseguirmos desenhar um bom acordo, como uma potência agroambiental (…) Quando a gente faz algo que afeta esse bem comum mundial que chama-se Amazônia, nós estamos atacando aquilo de mais importante que existe que é a marca Brasil. E quando a marca Brasil é afetada afeta todos os produtos brasileiros de uma vez só”, concluiu.
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